A Itália bem próxima dos maranhenses

Natural de Roma, mas tendo se transferido ainda com seis anos para Nápoles, onde cursou Direito na Universidade dos Estudos Frederico II, o advogado Gianluca Maria Bella, desde o ano passado, tem se dedicado à aproximação de empresários maranhenses dos seus patrícios, na condição de delegado para o Maranhão e Pernambuco da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio do Nordeste. Segundo ele, as oportunidades de negócios com a Itália são amplas, com a vantagem de que a partir de seu país, as empresas locais podem estar em toda a União Européia, até porque seu escritório mantém intercâmbio com outros que representam empresários de todo o continente.

De acordo com Gianluca Bella, a escolha do Maranhão para sediar uma delegacia da Câmara Italiana reflete a potência econômica deste estado, que tem muitas coisas que podem ser consumidas na Europa, assim como tem um vasto campo a ser explorado por empresários de lá. Ele diz que algumas empresas locais já conseguiram estreitar relações e muitas outras deverão se aproximar, principalmente depois de estreitadas os contatos com as entidades empresariais, sendo que até agora Federação das Indústrias e Associação dos Criadores foram as procuradas, mas pretende procurar as demais, fazendo questão de destacar que o alvo principal são as micro e pequenas empresas, até porque uma das missões da câmara é estimular quem ainda está se desenvolvendo.

O setor do agronegócio tem se apresentado como o que oferece mais oportunidades, pois já fez sondagens para empresas italianas que querem fornecer carne bovina, bem como outra que pretende implantar suinocultura no sul do Estado, adotando a inseminação artificial para seleção dos animais. Já o comércio de frutas pode ser estimulado, até porque as tropicais, são muito valorizadas. Um mamão pode ser vendido por até 40 euros, na Itália. Gianluca diz ter propostas também para exportação de flores ornamentais.

Ele observa que qualificação profissional, bom acabamento, excelente qualidade e também boa apresentação dos produtos são condições básicas para quem deseja ingressar no mercado internacional, principalmente se o comprador estiver no continente europeu, onde as exigências são muito rigorosas. Essas coisas, no entanto, podem ser facilmente superadas, bastando buscar adequação, orientação, e esta é uma das missões de sua instituição, que ele espera, já a partir do próximo ano, estar melhor estruturada para estreitar laços comerciais, e culturais também, de maranhenses com italianos.

Internacional - Filho de um ex-delegado de polícia, Josep, hoje advogado da Cáritas Internacional, e uma professora de Italiano e História, Sílvia, já aposentada, Gianluca diz que, pelos contatos com o pai sempre teve inclinação para o Direito, contudo sua verdadeira vocação sempre foram as relações internacionais, tanto que chegou a pensar em seguir a carreira diplomática. Como o Direito lhe permitiria isto, até de forma mais abrangente, foi ser advogado, com acréscimo das disciplinas de relações internacionais. Mais tarde fez mestrado em Direito Administrativo e Ciências da Administração, pela Universidade de Nápoles, e doutorado em Direito Comparado da Economia, pela Universidade do Molise.

Apesar de saber que um dia se mudaria do seu país, o Brasil nunca tinha passado pela sua cabeça, até que em 2003 foi nomeado consultor jurídico para a Itália do escritório alemão-brasileiro Weber & Bernardo, em Salvador, e mais tarde foi nomeado consultor jurídico da Agência Consular da Itália, no Maranhão, sendo hoje também presidente do Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro de São Luís – Circolo Itália.

Sua adaptação ao Maranhão, segundo ele, tem sido a mais fácil possível, até porque encontrou aqui um dos povos mais generosos que já conheceu. “Serei eternamente grato à maneira como fui recebido e como venho sendo tratado pelos maranhenses”, acentua, dizendo que este seu sentimento é compartilhado por muitos estrangeiros que conhece e que aqui fixaram residência. Apesar de ser de um país que tem uma das mais admiradas cozinhas do Mundo, Gianluca não mede palavras para elogiar a culinária maranhense. Este é outro segredo dos maranhenses em cativar quem recebe, pois a comida parece ter mais sabor com o modo de preparar daqui.

Gruta Azul - Capri

Das belezas do Maranhão, tem sabido tirar proveito também no campo comercial, pois acaba de se associar à Galáxia dos Lençóis, que criou uma nova modalidade de transporte fluvial, com um barco para doze lugares, em que as pessoas fazem passeio de Barreirinhas a Atins, desfrutando as belezas da fauna e da flora, com excelente serviço de bordo. A partir de 2010 pretende fazer passeios também à noite e já planeja instalar uma pousada nos Lençóis.

Cultura - Dos planos para 2010, Gianluca Bella quer colocar em funcionamento um curso de Italiano, na sede da Câmara de Comércio, na Montanha Russa, onde serão oferecidos também treinamentos em culinária, artes e que servirá também para projeção de filmes, apresentações teatrais etc, a fim de aproximar mais ainda italianos de maranhenses. Na mesma proporção, pretende estimular a ida de artistas locais para a Itália, estreitamento de intercâmbio que favorecerá os dois povos.

Uma das ações mais positivas neste pouco tempo de residência no Maranhão foi ter divulgado o Estado na Itália. Através da RAI2, a emissora de televisão com maior índice de audiência em seu país, conseguiu, por quatro finais de semana consecutivos, divulgar programas em que as belezas do Maranhão eram mostradas, bem como estão fixados painéis do Maranhão nos metrôs de Milão, Turim e Roma, numa iniciativa da Secretaria de Turismo, quando o titular ainda era João Martins Neto, parceria que, acredita, será mantida, até porque as relações são institucionais e não políticas.

Um dos resultados, diz ele, ele está no crescimento cada vez maior de turistas italianos para o Maranhão (apesar de não índices oficiais), bem como o crescente interesses de empreendedores de seu país pelo Maranhão. A colônia italiana no Maranhão é de cerca de 250 pessoas, mas ele acredita que crescerá, com a vinda de um segmento mais jovem, que certamente encontrarão aqui um campo aberto para sua prosperidade e ajudar também o Maranhão a prosperar.


Cinco perguntas para Gianluca Bella

Que condições mais favorecem os maranhenses num comércio com a Itália?

- São vários, porém basta citar um para justificar: a posição geográfica estratégica, facilitada por um porto de condições inigualáveis como é o Itaqui. Quem vier investir no Maranhão sabe que poderá atingir os mercados europeu e da América do Norte com muita facilidade, mas tem ainda a riqueza natural, a terra fértil, fartura de pescado, enfim são muitas coisas.

O senhor fala sempre em priorizar o pequeno negócio. O que as empresas de pequeno porte podem vender para seu país?

- Flores, frutos, pescados (peixe, crustáceos e mariscos), principalmente o camarão, que tem muita aceitação, artesanato, mel e muitas outras coisas que sempre são procuradas. Para que se tenha idéia, recebo uma média de duzentos pedidos para fornecer flores, mas ainda não mandei nenhuma porque falta quem fabrique embalagem adequada, assim como o artesanato precisa de uma melhor apresentação.

O senhor é otimista com essa aproximação comercial?

- Sim, muito, pois acho que temos muitas coisas para fazer. Os maranhenses têm muito a lucrar se aproximando dos italianos e os italianos também têm muito a ganhar investindo no Maranhão. A nossa câmara está fazendo estudos para indicar as melhores oportunidades de investimentos para eles.

O que mais lhe agrada no Maranhão?

- A natureza. O estado é muito lindo. Uma das melhores coisas que se pode fazer aqui em São Luís é ir para a Avenida Litorânea e ficar contemplando o mar a se perder de vista. Diante deste cenário, a gente sente o quanto a natureza é generosa e quanto homem e natureza precisam estar mais irmanados.

5 – Mas o senhor também vê defeitos?

- Uma das coisas que mais incomodam no Maranhão é a falta de aproximação das políticas públicas. No dia que as autoridades entenderem que as coisas precisam ter continuidade, que o entendimento favorece a todos, não tenho dúvida de que o Maranhão será uma potência.

Fonte: blog Aquiles Emir