domingo, 9 de outubro de 2011

SÃO LUÍS com S ou Z



Roda Viva - Benedito Buzar



Nas proximidades da cidade festejar seus 400 anos de vida, um assunto que parecia adormecido ou esquecido, volta à ordem do dia, ainda que requentado.
Recorrente pela sua natureza ressurge nestes dias como a exigir prioridade à questão da grafia do nome da capital maranhense, com vistas a esclarecê-la em caráter definitivo.
Os que assim pensam, o fazem na convicção de que este é o momento oportuno para, de uma vez por todas, acabar a controvérsia em torno do topônimo São Luís que a grande maioria escreve com s, mas uma minoria teima em grafar com z.
Os que advogam a elucidação dessa questão não sabem que, anos atrás, um amplo debate eclodiu em São Luís, por conta de uma proposta apresentada na Câmara Municipal, que passou pela Universidade Federal do Maranhão, e chegou à Academia Maranhense de Letras, a quem cabe, em última instância, zelar e defender os interesses da cultura maranhense.
Tudo começou quando o vereador e professor de Português, Ubirajara Rayol, no dia 8 de março de 1984, apresentou projeto à Câmara Municipal com apenas três artigos, dois dos quais se reportavam ao topônimo São Luís. O Art. 1º determinava que “Voltará a ser escrito com “z” o topônimo São Luiz, que se refere ao Município do mesmo nome, no Estado do Maranhão.” O Art. 2º dizia que “O Poder Executivo promoverá, dentro e fora do Município, a divulgação da grafia restaurada”.
O projeto, como não poderia deixar de acontecer, suscitou controvérsia e os jornais se encarregaram de explorar o assunto, já que o autor da matéria, invocando a condição de magister dixit, sustentava seu ponto de vista em eventuais estudos da Academia Brasileira de Letras e na legislação federal.
Diante da celeuma criada, o escritor Ivan Sarney, que ainda não era vereador, mas já fazia parte da Academia Maranhense de Letras, trouxe o assunto para o âmbito da Casa de Antônio Lobo, da qual solicitou manifestação de seus pares.
Na presidência da AML, o escritor Jomar Moraes não hesitou: assinou Portaria, no dia 15 de março de 1984, criando a Comissão Especial formada dos acadêmicos Mário Meireles, Manuel Lopes e José Chagas, para, sob a presidência do primeiro, “produzir parecer circunstanciado acerca da correta grafia da Capital do Estado do Maranhão”, recomendando ainda que os trabalhos da Comissão fossem “concluídos no menor prazo possível, tendo em vista o oferecimento de subsídios à discussão e votação do projeto de lei apresentado à Câmara Municipal desta cidade.”
Sentindo-se na obrigação de participar da questão, que já dominava a opinião pública, o reitor da Universidade Federal do Maranhão, professor José Maria Cabral Marques, resolveu baixar Portaria, determinando que “o parecer sobre a correta grafia do topônimo São Luís seja publicada pela Gráfica Universitária”, considerando que o assunto era de relevância cultural e dizia respeito à defesa e preservação de nossas tradições.
A Comissão, depois de estudos acurados e criteriosos, em que foram analisados os aspectos referentes à história, à tradição, à etimologia e à ortografia, apresentou no dia 5 de abril de 1984 parecer conclusivo e estribado em quatro itens.
1– Historicamente, o topônimo da Capital maranhense é de origem estrangeira – vem de Saint Louis, apelido hagiográfico de Louis IX, o Santo, Rei de França( 1242/1270) – e lhe dado em homenagem a Louis XIII, o Justo.
2-Tradicionalmente, a grafia do topônimo São Luís sempre foi objeto de controvérsia, desde o século XVII, quando se fundou a cidade, até os nossos dias, conforme documentos históricos e obras de escritores antigos e modernos, não se tendo por onde afirmar a existência de uma forma consagrada pelos brasileiros que justifique a grafia São Luiz com z.
3- Etimologicamente, a palavra Luís é de origem germânica (Hluodowig) que deu em italiano Ludovico e Luigi; no Francês, Louis e no Português e Espanhol, Luís. Cabe ainda ressaltar que se o Latim Eclesiástico já apresentava formas Ludovicus e Aloisius (com s), nada levaria a que, na sua passagem para o Português, Ludovicus, que não é patronímico, justificasse o z, como se justificou em Ramirez, Lopez, Rodriguez, etc., hoje também grafado com s, contrariando, por força do atual Sistema Ortográfico, a própria razão etimológica.
4 – Ortograficamente, como nome próprio de introdução eclesiástica, do mesmo modo que Dominicus, Marcus, Lucas, etc., Ludovicus inclui-se entre aqueles nomes cujas consoantes latinas finais se conservam. Esta é, aliás, a razão pela qual Gonçalves Viana, em seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, grafa Luis e Luisa com s. E o Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa registra Luís, Luísa, São Luís do Purunã, São Luís do Quitude, etc., todos com s e não com z.
O espaço desta coluna é limitado, por isso, não posso alongar-me em outras considerações apontadas pela Comissão, mas faço questão de pinçar estas, por não deixarem qualquer dúvida a respeito da grafia da Capital do Maranhão: “com s se grafou São Luís, quando La Ravardière entregou aos portugueses o Forte de Saint-Louis; com s se grafou São Luís, quando Alexandre de Moura dele tomou posse; com s está São Luís registrada nos mais primitivos mapas que se conhecem; com s está São Luís nas mais antigas atas de reunião do Senado da Câmara; com s está São Luís no auto de juramento do Maranhão à Independência e ao Império do Brasil; com s está São Luís em todos os documentos oficiais, sendo de destacar a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, órgão competente para fixar a grafia dos topônimos”.

Um comentário:

Luís Moura Neto disse...

Parabéns pela interessante pesquisa. Achei relevante, não só por ter, o meu prenome, grafado corretamente (LUÍS), mas por dirimir dúvidas e conter informações históricas do vizinho Estado.