Público reverencia São João com festa no Arraial da Lagoa
Noite enluarada de São João foi marcada por apresentações de manifestações como os bois Novilho Branco, Nina Rodrigues, Guimarães, Morros e da Maioba.
André Lisboa
Andressa Valadares
Andressa Valadares
A noite de São João na segunda-feira (24) enluarada foi de diversão no Arraial da Lagoa da Jansen, que apresenta programação junina organizada pelo Governo do Estado. À revelia da preocupação com os protestos realizados nas ruas da capital maranhense, famílias ocuparam festivamente o espaço de 10 mil m², estruturado sobre a arena esportiva e demais áreas de lazer do parque da Lagoa.
Aproximadamente 8 mil pessoas passaram pelo terreiro para prestigiar as apresentações de grupos folclóricos, característicos do período junino. A noite começou com a pulsão da música afrodescendente que marca a Dança do Lelê, seguida pelo boi de sotaque alternativo Novilho Branco. O grupo, que possui 126 integrantes e surgiu de um grupo de dança infantil há oito anos, chamou a atenção do público por apresentar um repertório conduzido pela diversidade de ritmos da manifestação patrimônio imaterial da cultura brasileira.
Depois da apresentação do Boi Novilho Branco, foi a vez da apresentação de um dos nomes que mais têm chamado atenção nos últimos anos nos arraias da capital maranhense - principalmente depois da incorporação da beleza das índias (e índios) como uma das mais importantes características da manifestação folclórica -, o Boi de Nina Rodrigues.
A riqueza de detalhes das indumentárias, que destacaram as cores verde-claro, laranja, preta e dourada, resplandeceu com a ajuda do equipamento de luz que cerca a estrutura do palco principal do arraial. A beleza das índias chamou a atenção do público, principalmente o masculino, que apreciou a sensualidade da manifestação.
Pais e mães aproveitaram a festa para mostrar um pouco da cultura maranhense a seus filhos. Para a enfermeira Ivana Cardoso, mãe da pequena Eloá, o São João tem a capacidade de tornar qualquer criança feliz. "Aqui os meninos se divertem e aproveitam para brincar com bombinhas, correndo de um lado para o outro. Claro que sob os olhos atentos dos pais", disse.
Sucessos - Depois de uma pequena demora - devido ao atraso do bumba meu boi de Guimarães -, a direção do Arraial antecipou a apresentação da Banda Barrica. O grupo musical acompanha o famoso Boizinho Barrica, oriundo do tradicional bairro Madre Deus. Sob a batuta de José Pereira Godão e com canto sustentado pelas vozes de Roberto Brandão e Inácio Pinheiro, a banda apresentou um repertório composto pelos sucessos que fizeram a história do boizinho, contada por Godão no intervalo entre cada canção.
Dos versos potentes de Boi de Lágrimas - música de Raimundo Makarra - ao lirismo ufanista de Maranhão, meu tesouro meu torrão - composição de Humberto de Maracanã -, a Banda Barrica interpretou canções que encantaram o público, ainda animado pelos dançarinos no palco, que acompanhavam canções de dança do coco, tambor de crioula e bumba meu boi, com coreografias e figurinos alusivos a cada ritmo. Eles ainda interpretaram composições do poeta Luís Bulcão.
Resistente grupo que ainda mantém aspectos regionalistas em sua forma de apresentar o bumbado da manifestação folclórica maranhense, o Boi de Guimarães foi uma das últimas atrações do Arraial da Lagoa da Jansen. O sotaque de zabumba, um dos menos populares, mas um dos mais respeitados, deu outro tom à noite. Um tom mais tradicional e genuíno que se mantém em toadas que envolvem religiosidade e cultura popular, que mescla catolicismo popular à necessidade existencial de pessoas de uma comunidade distante e rural de São Luís. Com cores simples - vermelho, verde, azul e amarelo - sem grandes efeitos, mas com detalhes de lantejoulas e canutilhos, o bordado no lombo do novilho acompanhava a levada dos pandeirões e dos maracás, sob o brado do cantador que dizia: "Quantas vezes eu pequei e sem jeito de pensar".
As toadas originais traziam mensagens sobre a vida dos brincantes ou eram cantigas de amor, como nos versos de despedida: "Se hoje em dia tu não quer saber quem sou/ se eu sou aquele que você abandonou", que foi a última apresentada pelo grupo.
O lamento de despedida do Boi de Guimarães ainda ecoava quando a equipe do Boi de Morros se preparava para se apresentar o espetáculo Você é único na criação. A noite foi encerrada pelo batalhão pesado da Maioba, sotaque de Matraca, que este ano completou 115 anos.
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