quarta-feira, 26 de junho de 2013

Alheio aos protestos políticos que assolam a cidade e o país, público lota o Arraial da Lagoa para reverenciar a cultura maranhense

 

 

Público reverencia São João com festa no Arraial da Lagoa

Noite enluarada de São João foi marcada por apresentações de manifestações como os bois Novilho Branco, Nina Rodrigues, Guimarães, Morros e da Maioba.
 
André Lisboa
Andressa Valadares
 
A noite de São João na segunda-feira (24) enluarada foi de diversão no Arraial da Lagoa da Jansen, que apresenta programação junina organizada pelo Governo do Estado. À revelia da preocupação com os protestos realizados nas ruas da capital maranhense, famílias ocuparam festivamente o espaço de 10 mil m², estruturado sobre a arena esportiva e demais áreas de lazer do parque da Lagoa.
Aproximadamente 8 mil pessoas passaram pelo terreiro para prestigiar as apresentações de grupos folclóricos, característicos do período junino. A noite começou com a pulsão da música afrodescendente que marca a Dança do Lelê, seguida pelo boi de sotaque alternativo Novilho Branco. O grupo, que possui 126 integrantes e surgiu de um grupo de dança infantil há oito anos, chamou a atenção do público por apresentar um repertório conduzido pela diversidade de ritmos da manifestação patrimônio imaterial da cultura brasileira.
Depois da apresentação do Boi Novilho Branco, foi a vez da apresentação de um dos nomes que mais têm chamado atenção nos últimos anos nos arraias da capital maranhense - principalmente depois da incorporação da beleza das índias (e índios) como uma das mais importantes características da manifestação folclórica -, o Boi de Nina Rodrigues.
A riqueza de detalhes das indumentárias, que destacaram as cores verde-claro, laranja, preta e dourada, resplandeceu com a ajuda do equipamento de luz que cerca a estrutura do palco principal do arraial. A beleza das índias chamou a atenção do público, principalmente o masculino, que apreciou a sensualidade da manifestação.
Pais e mães aproveitaram a festa para mostrar um pouco da cultura maranhense a seus filhos. Para a enfermeira Ivana Cardoso, mãe da pequena Eloá, o São João tem a capacidade de tornar qualquer criança feliz. "Aqui os meninos se divertem e aproveitam para brincar com bombinhas, correndo de um lado para o outro. Claro que sob os olhos atentos dos pais", disse.

Sucessos - Depois de uma pequena demora - devido ao atraso do bumba meu boi de Guimarães -, a direção do Arraial antecipou a apresentação da Banda Barrica. O grupo musical acompanha o famoso Boizinho Barrica, oriundo do tradicional bairro Madre Deus. Sob a batuta de José Pereira Godão e com canto sustentado pelas vozes de Roberto Brandão e Inácio Pinheiro, a banda apresentou um repertório composto pelos sucessos que fizeram a história do boizinho, contada por Godão no intervalo entre cada canção.
Dos versos potentes de Boi de Lágrimas - música de Raimundo Makarra - ao lirismo ufanista de Maranhão, meu tesouro meu torrão - composição de Humberto de Maracanã -, a Banda Barrica interpretou canções que encantaram o público, ainda animado pelos dançarinos no palco, que acompanhavam canções de dança do coco, tambor de crioula e bumba meu boi, com coreografias e figurinos alusivos a cada ritmo. Eles ainda interpretaram composições do poeta Luís Bulcão.
Resistente grupo que ainda mantém aspectos regionalistas em sua forma de apresentar o bumbado da manifestação folclórica maranhense, o Boi de Guimarães foi uma das últimas atrações do Arraial da Lagoa da Jansen. O sotaque de zabumba, um dos menos populares, mas um dos mais respeitados, deu outro tom à noite. Um tom mais tradicional e genuíno que se mantém em toadas que envolvem religiosidade e cultura popular, que mescla catolicismo popular à necessidade existencial de pessoas de uma comunidade distante e rural de São Luís. Com cores simples - vermelho, verde, azul e amarelo - sem grandes efeitos, mas com detalhes de lantejoulas e canutilhos, o bordado no lombo do novilho acompanhava a levada dos pandeirões e dos maracás, sob o brado do cantador que dizia: "Quantas vezes eu pequei e sem jeito de pensar".
As toadas originais traziam mensagens sobre a vida dos brincantes ou eram cantigas de amor, como nos versos de despedida: "Se hoje em dia tu não quer saber quem sou/ se eu sou aquele que você abandonou", que foi a última apresentada pelo grupo.
O lamento de despedida do Boi de Guimarães ainda ecoava quando a equipe do Boi de Morros se preparava para se apresentar o espetáculo Você é único na criação. A noite foi encerrada pelo batalhão pesado da Maioba, sotaque de Matraca, que este ano completou 115 anos.

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