quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Arquitetura de São Luís em Salamanca

 

Exposição São Luís em Salamanca: ruas, becos e sobrados de Lisboa no Brasil
Sergio Tamer

Especial para o Alternativo
 
O Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca instalou em seu salão de artes, no térreo do Palácio Maldonado, onde funciona a sua sede, a exposição do arquiteto espanhol José María Plaza Escrivá, intitulada São Luís do Maranhão: ruas, becos e sobrados de Lisboa no Brasil. A mostra fica em cartaz até o dia 20 deste mês.
A exposição oferece ao visitante uma visão desta antiga cidade brasileira, declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1997, e o convida a descobrir rincões surpreendentes graças aos 42 desenhos elaborados in loco pelo artista. A exposição conta com a colaboração da fundação Artística Cultural Iberoamericana (FACI) e do Serviço de Atividades Culturais da Universidade de Salamanca.
Na abertura da mostra, que ocorreu às 18h do dia 20 de novembro, estiveram presentes como convidados do Centro de Estudos Brasileiros, estudantes de vários estados do Brasil que estão neste momento em Salamanca participando de cursos de pós-graduação em diversas áreas do conhecimento.
O arquiteto José María Escrivá, com essa exposição, traçou um itinerário dos principais ícones da arquitetura portuguesa do século XVII. Para ele, “todo esse conjunto de elementos foi recolhido no nosso deambular pelo centro histórico da cidade e são os que a tem feito merecedora do título Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco”.

São Luís na visão pictórica e poética de Escrivá - O itinerário do espanhol Escrivá começou pela Praça dos Catraieiros, zona comercial na parte baixa da cidade, “entremeada pela Rua do Trapiche, a Casa do Maranhão e o azul do mar.” E prossegue assim em sua narrativa pictográfica: “A Rua Portugal nos convida a desvendar sua beleza interior por meio da Casa de Nhozinho, quando descobrimos sua estrutura interna em arcadas, tipicamente portuguesa. Seguindo ainda pela Rua Portugal, o Beco Catarina Mina nos revela seus encantos pela forma escalonada que preserva o desnível existente até a Rua de Nazaré, um prolongamento da rua traçada anteriormente no plano original do planejamento da cidade”.
“No centro da rua, a bela esquina que conjuga o Beco Catarina Mina com a Rua Portugal, nos remete a qualquer lugar de Lisboa, enfeitada para as festas de São João. Ao final da Rua Portugal, na sua confluência com a Rua da Estrela, descobre-se o Largo do Comércio, todo adornado por sobrados de vários andares belamente revestidos com azulejos portugueses. Subimos pela Rua da Estrela até a Rua de Nazaré, que limitava os terrenos ocupados pela antiga Fortaleza de São Felipe e a Praça João Lisboa. Nessa esquina com a Rua do Giz, já existente no primeiro projeto de traçado da cidade, uma agradável vista inunda o olhar”.
“Seguindo ainda pela Rua de Nazaré, uma chuvarada tropical surpreendente nos obriga a buscar abrigo e, assim, foi desenhado um típico sobrado de classe média. Mais adiante, apresenta-se no antigo Largo do Carmo, o Edifício São Luís, possivelmente o maior sobrado de todo o centro histórico, revestido de delicados azulejos. Atravessando lateralmente o Largo do Carmo e continuando a subida pela Rua do Sol, situa-se o Museu Histórico, cujo jardim interno enfeita belamente a fachada interior do palacete. Chegamos à Praça Deodoro, bem em frente à Biblioteca Pública, um edifício imponente e elegante que realça o seu entorno”.
“Descendo pela Rua da Paz, descobrimos o Solar da Rua Formosa, todo azulejado, que desemboca no Largo do Carmo. Continuando descendo novamente pela Rua do Giz, quando encontramos a Escola de Música com fachada modernista, enlaçada por um magnífico e verdejante jardim, bem próximo ao Sobrado do Iphan do Maranhão, guardião desse Patrimônio Cultural, onde finalizamos esse belo itinerário”.

História - Tentativa dos franceses de criar uma França Equinocial em 1612, quando se estabeleceram no Forte de São Luís em homenagem ao Rei Luís XIII, essa tentativa foi desfeita em 1615 quando o Forte foi conquistado pelas coroas ibéricas (unidas de 1580 até 1640) e rebatizado com o nome de São Felipe, em homenagem ao Rei Felipe IV, conservando a cidade o nome de São Luís.
Para o expositor da mostra sobre São Luís na cidade de Salamanca, arquiteto José María Escrivá, a planificação da cidade ocorreu por conta de Francisco Frias de Mesquita, engenheiro maior do Brasil naquela época e quem projetou o traçado da cidade de acordo com as “Ordenanzas de Descubrimiento, Nueva Población y Pacificación de las Indias de 1573”, de Felipe II. O resultado – acrescenta – foi um projeto dotado de grande simetria e beleza, com ordenação renascentista, trama ortogonal e quarteirões fechados, sendo a única cidade existente no Brasil projetada com esses critérios, próprios da colonização espanhola na América, preservada até a atualidade. Assim é que a cidade de São Luís apresenta em seu centro antigo, o modelo da “Grande Praça”, com seus edifícios civis e religiosos mais representativos, que se conserva até os dias de hoje. Contudo – explica Escrivá – a organização da cidade, que se realizou depois da separação da Espanha e Portugal, seguiu o modelo português: a zona mais elevada concentrou as atividades administrativas e a cidade baixa, as comerciais.
O arquiteto Escrivá finaliza suas impressões históricas sobre São Luís acrescentando que “devida à sua situação, com grande dificuldade de chegar a Salvador devido às correntes marítimas, a cidade sempre esteve muito ligada a Portugal e à Europa em geral”. Isso se espelha – diz ele – “em sua bela arquitetura popular milagrosamente conservada até agora e perfeitamente adaptada à umidade e tremendo calor dos trópicos, com belos azulejos, telhados de telha árabe e grandes beirais para proteger os edifícios da chuva”.
A exposição do arquiteto José María Escrivá ficará aberta ao público, em Salamanca, até o dia 20, no Palácio Maldonado, sede do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Salamanca. Para a especialista em artes plásticas, Silvânia Tamer, presente ao evento, Escrivá, com essa obra de esmerada perspectiva histórica, muito tem contribuído para a difusão da cultura maranhense. O arquiteto explicou que estão sendo mantidos contatos para que a sua exposição seja trazida em breve ao Maranhão e demais capitais brasileiras.

Nenhum comentário: