Diretor do Centro de Lançamento de Alcântara, coronel César Demétrio Santos, em entrevista exclusiva a O Estado, fala sobre medidas adotadas.
Bruna Castelo Branco
Da equipe de O Estado
Da equipe de O Estado
Quase 10 anos após o acidente que destruiu a Torre Móvel de
Integração (TMI) e matou 21 técnicos do Comando Técnico Aeroespacial (CTA), em
agosto de 2003, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) se prepara para fazer
o primeiro lançamento do projeto em 2014. No início do ano, devem ser feitos
testes definitivos do desempenho da TMI para que o lançamento ocorra com
segurança.
Segundo o diretor do CLA, coronel César Demétrio Santos, este
ano será determinante para que testes e alguns procedimentos de segurança na
nova TMI sejam feitos para que ainda no primeiro semestre de 2014 seja lançado o
primeiro Veículo Lançador de Satélites (VLS). A atividade de grande porte,
programada para 2014, marca uma fase definitiva do Programa Espacial Brasileiro,
que tem o Centro de Lançamento, localizado em Alcântara, como o carro-chefe do
projeto.
Para atender a essa demanda, o CLA passou nos últimos cinco anos
por um processo intenso de modernização que substituiu todos os sistemas de
monitoramento e rastreio das atividades de lançamento. Essas mudanças fizeram
com que o Centro de Lançamento voltasse a ser o foco de grandes parcerias
internacionais, a exemplo da binacional Alcântara Cyclone Space (ACS) que está
em fase de construção da sede e do sítio de lançamento em área que pertence ao
CLA e fará lançamentos de grande porte, como o foguete Cyclone 4, desenvolvido
com tecnologia ucraniana.
Em entrevista a O Estado, o diretor do CLA, César Demétrio
Santos, disse que, antes de assumir a direção, foi gerente de reconstrução do
projeto da Torre Móvel de Integração e coordenou a elaboração do novo modelo do
Veículo Lançador de Satélites, falou sobre mudanças tecnológicas e a preparação
do Centro de Lançamento para reiniciar atividades com foguetes de grande porte.
O Estado- A nova Torre Móvel de Integração já foi concluída.
Qual a previsão de um novo experimento com o VLS?
César Demétrio - A Torre Móvel de Integração se encontra em fase
de recebimento definitivo. Explicando de uma maneira simples, este é um momento
extremamente importante, em que a empresa contratada para reconstrução da nova
TMI precisa comprovar que todos os itens especificados no contrato acordado
foram atendidos conforme determinação do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE)
que realiza a gerência do projeto envolvendo a Torre Móvel de Integração. Há a
expectativa de realizarmos, a partir do primeiro semestre do próximo ano, mais
um teste com o VLS na nova TMI antes de um voo real propriamente dito. Nesse
teste, será acoplado um mock-up [simulador] do VLS-1, ou seja, veículo real sem
o combustível, mas com todas as interfaces de redes elétricas. Esse procedimento
testará uma série de componentes como a rede de controle, serviço, telemetria e
as interfaces com as redes pirotécnicas já na nova Torre Móvel de Integração.
Essa operação será denominada Santa Bárbara. A Operação Salina,
realizada em 2012, em que foram feitos testes físicos e mecânicos do VLS na TMI
e das construções de prédios operacionais na área do Setor de Preparação e
Lançamento (SPL), tais como o Prédio de Depósito de Propulsores e o Prédio de
Segurança do SPL, e a nova operação são base para darmos início ao lançamento
real do VLS-1, previsto para 2014.
O Estado- Quantos lançamentos estão previstos para serem
realizados no Centro de Lançamento de Alcântara? Há alguma atividade que envolva
um foguete de médio porte?
César Demétrio - Neste ano, estão previstos cinco lançamentos,
sendo quatro com foguetes de treinamento. Foi lançado um Foguete de Treinamento
Básico (FTB) no dia 23 de maio, dentro das atividades da Operação Falcão I/2013
e um Foguete de Treinamento Intermediário (FTI) no dia 13 de junho durante a
Operação Águia I/2013. O próximo lançamento será de um Foguete de Treinamento
Básico (FTB) e deverá ocorrer de 5 a 9 de agosto na Operação Falcão II/2013
simultaneamente com a realização da 7ª Escola do Espaço no CLA. A atividade é
organizada pelo programa AEB Escola [programa da Agência Espacial Brasileira] e
capacitará mais de 100 professores e educadores em geral da rede pública de
ensino nas áreas de astronomia e astronáutica. O outro lançamento de foguete de
treinamento deverá ser de um FTI na Operação Águia II, em novembro. Além disso,
também em novembro está previsto iniciarmos a Operação Raposa com o lançamento
do veículo de sondagem VS-30 com experimentos científicos e tecnológicos
embarcados para realização e aprimoramento de estudos em distintas áreas.
O Estado- Com os treinamentos constantes em atividades de
lançamentos, é possível afirmar que o CLA está pronto para um lançamento de
grande porte?
César Demétrio - Tais treinamentos são essenciais para manter a
operacionalidade das equipes e meios associados às atividades de lançamento de
veículos aeroespaciais. Somente no ano passado, lançamos seis Foguetes de
Treinamento Básico (FTB), um Foguete de Treinamento Intermediário (FTI) e um
veículo de sondagem
VS-30/ORION. Além disso, há uma interação constante das equipes
do CLA com o Centro de Lançamento de Barreira do Inferno (CLBI) e do Instituto
de Aeronáutica e Espaço (IAE) nas campanhas de lançamento o que potencializa um
treinamento conjunto entre os profissionais dessa área. Por exemplo, um servidor
do CLA além de participar normalmente dos lançamentos realizados em Alcântara,
pode também dos feitos no CLBI ou de projetos em desenvolvimento no IAE, entre
várias outras atividades relacionadas ao Programa Nacional de Atividades
Espaciais. Assim, a preparação para lançamentos de grande porte não ocorre
somente com as atividades realizadas em Alcântara e sim no Programa Espacial
Brasileiro como um todo.
Foi feita a modernização de todos os postos operacionais do CLA,
a exemplo do Centro de Controle, Casamata, Segurança de Voo e Superfície.
Fizemos também a aquisição e manutenção preventiva e corretiva das antenas de
rastreio e telemetria, implantação do Circuito Fechado de TV e Controle de
Acessos e de sistemas de telecomunicações e de controle de operações e disparo
que colocam o CLA em condição de igualdade com qualquer importante centro de
lançamento no mundo. Assim podemos afirmar que tem ocorrido uma preparação
intensa do nosso pessoal e aperfeiçoamento de todos os sistemas visando
lançamentos de veículos de porte mais elevado como o VLS-1 e o Cyclone 4.
O Estado-Dentro do panorama do desenvolvimento do Programa
Espacial Brasileiro qual o grau de importância da Alcantara Cyclone Space (ACS)?
Qual o andamento da empresa hoje?
César Demétrio - As parcerias internacionais são de suma
importância para o aperfeiçoamento e desenvolvimento do Programa Espacial
Brasileiro (PEB). Possuímos acordos estratégicos no setor aeroespacial com os
Estados Unidos, Rússia, China, Comunidade Europeia e Argentina nas mais
distintas áreas que potencializam, por exemplo, o desenvolvimento e lançamento
de satélites, o monitoramento da temperatura das águas oceânicas, lançamento no
exterior de foguetes fabricados no Brasil, assessoria técnica para
aperfeiçoamento das atividades aeroespaciais e facilidades para aquisição de
equipamentos e componentes ligados ao setor. Aqui estão apenas alguns exemplos
de como as parcerias internacionais são estratégicas para o andamento do PEB.
A Alcântara Cyclone Space é fruto de acordo celebrado entre o
Brasil e a Ucrânia com objetivo de lançar o veículo Cyclone 4 de Alcântara e
entra dentro das ações previstas no Programa Nacional de Atividades Espaciais
(PNAE) até o ano de 2021. Portanto, a ACS tem sua importância dentro do PNAE,
mas não pode ser vista como a única atividade em desenvolvimento atualmente
dentro do programa. Assim, posso dizer que a ACS representa uma possibilidade
interessante ao Brasil de alavancar o Programa Espacial Brasileiro
concomitantemente às outras ações já em execução ou em fase de desenvolvimento
ou aperfeiçoamento. Em relação à binacional Alcântara Cyclone Space, ela se
encontra em fase de obras estruturais, ao mesmo tempo em que prepara toda a
documentação administrativa e técnica, além da conclusão do próprio veículo para
lançamento partindo de Alcântara.
O Estado- Qual o orçamento previsto para atividades no CLA este
ano? O que será desenvolvido além dos lançamentos?
César Demétrio - Este ano, trabalhamos com um orçamento de R$ 27
milhões, que não é todo destinado exclusivamente aos lançamentos, mas também
para a gestão de todo o CLA. Para se ter uma ideia, somente a conta de luz
mensal do Centro gira em torno de R$ 290 mil. Assim temos que administrar muito
bem os recursos que chegam do Ministério da Defesa por meio do Comando da
Aeronáutica ou do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação via Agência
Espacial Brasileira. Devemos iniciar algumas obras importantes, como a
construção das novas sedes da Escola Caminho das Estrelas e do Posto Médico que
possibilitarão a ampliação do número de alunos e pacientes atendidos,
respectivamente. Estamos trabalhando junto ao Ibama para obtenção da licença de
instalação da construção do Prédio de Depósito de Propulsores e do Prédio de
Segurança do SPL na área de lançamento, sendo os dois últimos mandatórios para
realização da missão do VLS no Centro de Lançamento. Estamos aperfeiçoando
nossos sistemas de combate a incêndio, ampliando a capacidade da pista de pousos
e decolagens e pátio de aeronaves além de reformas em todos os refeitórios. Tudo
visa propiciar uma melhor satisfação de nossos servidores tanto civis quanto
militares para o cumprimento de suas atividades e desempenho de suas funções,
sejam elas relacionadas diretamente aos lançamentos ou não.
Dados da TMI
Investimento: R$ 44 milhões
Altura: 30 metros
Previsão do primeiro
Lançamento: 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário