Maranhão Vale Festejar se encerra com animação na Lagoa da Jansen
Levanta Boi e vai que é o pro amo ver que Boi também chora, chora de saudades dessa ilha mas promete voltar no ano que vem
No último fim de semana, houve apresentação de quadrilhas,
danças e grupos de bumba meu boi.
André Lisboa
Da equipe de O Estado
Da equipe de O Estado
Os ritmos juninos da cultura maranhense abrilhantaram o último
fim de semana do projeto Maranhão Vale Festejar, realizado na Lagoa da Jansen
durante todas as sextas-feiras, sábados e domingos deste mês. Foram quatro fins
de semana, que levaram aproximadamente 40 mil pessoas ao terreiro, instalado na
arena de futebol de areia, no cartão-postal da cidade.
De sexta-feira, dia 26, a ontem, 30 atrações se apresentaram no
tablado disposto no centro da estrutura. O projeto é uma realização da
Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês, com patrocínio do Governo do
Maranhão, da Vale e ainda apoio do Guaraná Jesus e do Sistema Mirante. A
diversidade de ritmos e sotaques da cultura junina maranhense passou pelo espaço
durante 12 dias de festas. O público pôde conhecer de perto, dos encantos dos
personagens mais tradicionais, às inovações trazidas por grupos novos.
O grupo Folia Junina, a Quadrilha Rosa Amarela e o Baile de
Caixa abriram a noite do sábado, a noite mais movimentada do fim de semana. Os
toques do instrumento percussivo, as modas de violão foram acompanhadas atentas
pelos turistas e amantes nativos das brincadeiras juninas maranhenses, que
compareceram ao espaço.
Para a maranhense Josélia Silva, a identificação com a animação
das brincadeiras e a diversidade são as características que a levaram a
comparecer a quase todas as noites do projeto Maranhão Vale Festejar. Por motivo
de viagem, ela se manteve fora durante quase todo o período junino oficial,
realizado de 14 a 30 de junho, e agradeceu por poder aproveitar um pouco da
alegria dos festejos com o Maranhão Vale Festejar. “Como estive em viagem a
trabalho boa parte do mês de junho, mal pude ver as brincadeiras de São João. O
que salvou foi o Maranhão Vale Festejar. Do contrário, não teria visto nada”,
disse a representante comercial.
Se os grupos menores encantaram o público, quando o maior
representante do São João do estado – o bumba meu boi - entrou em cena, o
público aumentou a intensidade das palmas. As primeiras toadas ouvidas com voz
forte e intensa foram do Boi União da Baixada, que mostrou a excentricidade e a
tradição do sotaque de zabumba. Criado desde 1999, no Monte Castelo, com uma
promessa feita pelo amo Raimundo Miguel Ferreira, o mestre Raimundinho, o grupo
mostrou no tablado os encantamentos representados pelos personagens e narrados
pelas toadas.
Homenagens aos santos – São João Batista, São Pedro e São
Marçal, principalmente –, críticas políticas, belezas naturais, relacionamentos
amorosos e dificuldades da vida foram os temas das toadas interpretadas por
Mestre Raimundo e seu coro de cantadores. Ao lado de músicos conhecidos e do
coral que levanta o boi, ele é o responsável pelas composições do grupo.
“Gostamos de lembrar a população em nossas músicas acerca da força que devemos
ter para mudar o mundo em que vivemos. Somos responsáveis pela animação do
público e gostamos de levar isso para todos”, disse Rosenilde Ferriera,
produtora e diretora do grupo.
Nostalgia - Com cadeiras disponíveis para garantir o conforto e
ainda com acompanhamento de brigada do Corpo de Bombeiros e pelotão da Polícia
Militar para dar segurança, o público aproveitou o “bis” das festas juninas.
Participaram da festa senhoras idosas levadas por cuidadores, crianças
conduzidas pelas mães em carrinhos de bebês e famílias que saboreavam comidas
típicas, doces e outras guloseimas, como arroz de cuxá, torta de camarão,
vatapá, carne de sol e algodão-doce.
As crianças maiores aproveitavam para correr de um lado para o
outro, soltando bombinhas no espaço bem equipado com piso próprio, para evitar
escorregões. O cheiro de pólvora subia ao ar e levava nostalgia aos mais
antigos, que mantinham mais atenção no palco. “Estou muito satisfeita com o
projeto. É uma oportunidade para apresentar aos turistas que vêm a São Luís nas
férias um pouco da riqueza cultural do estado. Agora que vai acabar, ficará só a
saudade e a vontade de vir no próximo ano”, disse Margarida Ribeiro, 64 anos,
que mora no Monte Castelo.
Bumba-bois de sotaques variados animaram a festa
A diversidade dos sotaques dos grupos de bumba meu boi pôde ser
conhecida ainda por meio da apresentação do Boizinho Encantado, formado por
moradores do São Francisco, sob a orientação do amo Maurílio Júnior. Os sotaques
da baixada, de matraca e da Ilha foram apresentados pelo grupo que cantou toadas
ritmadas tanto com o bumbar dos pandeiros quanto com a vibração das cordas da
viola. As canções enfocavam principalmente o amor do grupo aos santos da fé
católica, principalmente a São Sebastião.
Ao subir ao palco, Maurílio Júnior disse que a única homenagem
que fazem é aos santos, porque eles merecem. Arregimentados para isso estavam
Catirina, Pai Francisco, burrinhas, vaqueiros campeadores, índias, caboclos de
pena. “Não somos um boi de temas. Somos um boi de homenagens, de dedicação e fé.
Por isso, há 21 anos estamos aqui, nos apresentando em todos os arraiais da
capital”, afirmou ao microfone o diretor do grupo, que já tem sete discos
lançados.
Em seguida, subiram ao palco os bois Brilho da Amizade, de
Upaon-Açu e o do Bairro de Fátima - todos de sotaque de orquestra. Com os
vibrantes metais e maracás, os grupos levantaram o público com composições
próprias.
Um dos maiores representantes dos grupos de orquestra de São
Luís, o Boi de Morros foi a penúltima atração da noite. Ele conduziu um
espetáculo que buscava resgatar lendas da criação do universo, unindo-as ao
mundo folclórico do bumba meu boi. As índias sensuais e os índios musculosos são
a principal atração do grupo, que já rodou o mundo fazendo apresentações.
Se os pandeirões, maracás e orquestras tiveram sua vez, as
matracas ficaram para o grande final, com o grupo do Boi da Maioba. Conduzido
pelo cantador Chagas, o batalhão pesado foi a última atração da noite de sábado
no Vale Festejar.
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