sábado, 13 de julho de 2013

Igrejas históricas de São Luís em estado precário serão restauradas

 
Quatro templos foram inseridos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas.
 
André Lisboa
Da equipe de O Estado
 
Depois de anos como espaços de oração e arte, as principais igrejas históricas de São Luís - algumas com mais de três séculos - têm sofrido com o desgaste do tempo. Infiltrações nas paredes, cupins, avarias nas instalações hidráulicas e elétricas, depredação de bens integrados, falta de conservação de imagens sacras e outros danos motivaram o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a inserir quatro dos mais belos templos da capital maranhense - Igreja de São João Batista, Igreja do Carmo, Igreja de Santo Antônio e Igreja de Santana - no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas.
Na Igreja de São João Batista, as rachaduras estão espalhadas por toda a construção histórica, situada na esquina da Rua da Paz com a Rua São João (13 de Maio). Sob a inscrição do ano de fundação (1665) na parte superior da fachada da igreja, há uma rachadura que tem aumentado ainda mais com o período de chuvas, considerado um momento de tensão para alguns dos administradores dos templos religiosos.
Nas torres dos sinos, o desgaste se mostra visível. Além da falta de um dos instrumentos utilizados para avisar a hora da missa, o lodo se espalha pelos rebocos da estrutura. O sino danificado foi retirado há alguns anos pelos responsáveis da igreja por estar rachado. O objeto histórico foi doado pela família João Pereira Martins, no ano de 1927, trazido da cidade do Porto, em Portugal.
De acordo com o pároco Heitor Morais, o sino é um dos bens integrados da igreja e já não pode mais ser consertado para voltar ao lugar original. Depois de consultar técnicos especializados em restauração, ele descobriu que o instrumento não pode voltar à torre para desempenhar a sua antiga função, pois pode rachar novamente. "O ideal é que seja colocado um novo sino no lugar, enquanto o antigo servirá apenas como peça de museu", disse ele, ao explicar que ainda falta definir o destino da peça.

Pior condição - A Igreja de Santana é considerada a em pior condição de conservação. Na sacristia, a água que cai da chuva prejudica o telhado, o forro e cai sobre um painel de azulejos figurativos trazido por portugueses no século XVIII. A peça mostra a imagem de Nossa Senhora da Piedade, que tem aos pés o Cristo morto e uma imagem de São Marçal, guardada em um quadro de moldura dourada.
No altar principal da igreja, onde estão imagens sacras, há uma goteira que escorre pelo teto, caindo sobre o forro, tomado por rachaduras, com talas de madeira já desgastadas. A tinta plástica aplicada sobre o forro para evitar a umidade já está desgastada. De acordo com o padre Heitor Morais, o templo não recebe grandes intervenções há mais de 20 anos.
O sacristão José Benedito Pinto afirma que os problemas se alastram por todo o prédio, que fica imprensado na Rua de Santana, no Centro, cercado por lojas. São vazamentos no telhado, as madeiras estão desgastadas, rachaduras nos peitoris e nas paredes da nave principal do templo. "A situação não está pior porque a comunidade se une para fazer um serviço aqui e outro ali, mas precisamos de uma intervenção para fazer um bom serviço no templo", diz.

Necessária - Para a cristã Ana Aline Cardoso, que foi à igreja entregar seu dízimo, a intervenção no templo é mais do que necessária. Ela acompanha as celebrações sempre que pode. Moradora da Cohama, ela visita semanalmente o espaço como uma tradição familiar. "Venho aqui desde que era criança. Minha bisavó morava na Rua Rio Branco, aqui no Centro, então venho sempre que posso, nem que seja para uma passada rápida", afirma Aline Cardoso.
O lamento faz parte ainda das orações de Maria do Socorro Lopes, moradora do bairro de Fátima, que visita a Igreja de Santana, sempre na hora do almoço. Ela aproveita o intervalo do trabalho para rezar nos bancos de madeira antigos do templo. "Oro por este lugar. Faz tempo que sou uma devota de Nossa Senhora, meus pedidos são sempre atendidos. Peço para que Deus não deixe que este espaço desapareça, porque é um espaço muito importante para mim", afirmou.
 

Cerca de R$ 10 milhões serão aplicados nas reformas de igrejas no Maranhão

Liberação dos recursos deve ser assinada esta semana pela presidente Dilma Rousseff.
 
 
A superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Maranhão aguarda com expectativa a liberação dos recursos, cerca de R$ 10 milhões, que vão ajudar nos procedimentos de restauro e de reforma nas igrejas históricas do Maranhão, que vão ser beneficiadas por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, em convênio com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e mediante recursos oriundos de compensação de impactos ambientais.
De acordo com a superintende do Iphan, no Maranhão, Kátia Bogéa, a presidente Dilma Rousseff deve assinar a liberação dos recursos do PAC Cidades Históricas ainda esta semana. Ela afirmou que o ato não foi possível porque a onda de manifestações no país modificou toda a agenda do Governo Federal, que teve de se articular o mais rápido possível para atender as reivindicações da população, que foi protestar nas ruas.
Serão aplicados cerca de R$ 10 milhões, apenas para restauração de igrejas no Maranhão, principalmente as localizadas na capital maranhense. Depois de liberados os recursos, vai ser iniciada uma fase licitatória para a contratação de empresas especializadas que queiram trabalhar nas igrejas da capital. Estão dentro do cronograma do Iphan intervenções nas igrejas de São João, Santo Antônio, Santana, Igreja da Sé, Palácio Episcopal, Igreja São Joaquim do Bacanga e no Convento Nossa Senhora do Carmo.
Dentro dos recursos do PAC Cidades Históricas, cerca de R$ 1,070 milhão será aplicado na restauração da Igreja de São João. Para a Igreja de Santo Antônio, o Iphan destinará R$ 1,870 milhão. A Igreja de Santana, que terá serviço de restauro completo, receberá R$ 2,070 milhões. Com uma quantia que será destinada apenas para a restauração da fachada azulejar, o Convento Nossa Senhora do Carmo terá auxílio fixado em R$ 800 mil.
As aplicações com recursos do BNDES serão destinadas à Igreja da Sé, ao Palácio Episcopal, que terá implantado um museu de arte sacra. As construções receberão do banco R$ 6 milhões para obras. A reforma vai ser iniciada no próximo mês, segundo a superintendência do Iphan.
A Igreja de São Joaquim do Bacanga, localizada na Vila Maranhão, e Nossa Senhora do Carmo, em Alcântara, vão ser contempladas com quantias garantidas por meio de compensação ambiental. A recuperação será completa nos dois templos. "Os recursos são oriundos de obras e funcionamentos de projetos que afetam a natureza. A Petrobras e empresas de construção civil são obrigadas a pagar essa quantia, por causa de suas intervenções e nós estamos destinando a verba para restauração das igrejas", disse Kátia Bogéa.

Remédios - Segundo a superintendente do Iphan, ainda há possibilidade de aplicação de recursos na Igreja dos Remédios, localizada em frente à Praça Gonçalves Dias, uma das peças arquitetônicas mais ricas da paisagem histórica da capital maranhense. "Ainda estamos aguardando resposta para saber se vamos acrescentar o templo dentro do conjunto de imóveis, que serão contemplados pelos convênios do Iphan", esclareceu Bogéa.
Vitrais quebrados, má conservação, cupins no piso de madeira do coro, escada com pavimento inadequado, torre de sino danificada e buracos no piso são alguns dos problemas do templo em estilo gótico construído em homenagem à padroeira dos comerciantes e navegadores, construída em 1719. Em março deste ano, a Igreja dos Remédios foi alvo de uma vistoria realizada pelo Grupamento de Atividades Técnicas (GAT), do Corpo de Bombeiros, que fez alguns alertas quanto à segurança no local e pediu adequações para garantir a tranquilidade de fiéis e turistas.

Santo Antônio - Com um conjunto rico e grandioso de bens integrados, a Igreja de Santo Antônio, no Centro, dentro da Paróquia de São João Batista, passa por similares problemas de infraestrutura. A pintura da fachada está descascando, deixando exposto o reboco de barro da construção e auxiliando o aumento das rachaduras que se espalham pelo imóvel histórico. A cruz no topo da igreja está quase tomada por ervas daninhas, que se alastram pela cobertura do prédio.
Por dentro do templo, o forro da nave central tem rachaduras e água da chuva escorre pelo chão da igreja, colocando em risco a construção histórica, que tem umidade. Pequenas poças se formam no chão com a água que desce pelas goteiras. Segundo o padre Raimundo Gomes Meireles, a congregação tem feito eventos, como o Festejo de Santo Antônio este ano, para angariar fundos para obras de intervenção, principalmente no teto do templo.
Kátia Bogéa afirma que é um esforço grande que o Iphan tem feito nos últimos anos, às vezes interferindo em pequenos intervalos de tempo - a última reforma na Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Alcântara foi há dois anos - para manter restaurados os patrimônios culturais e históricos de São Luís. "Já recuperamos a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, agora vamos recuperar outras. Tudo isso parte do PAC Cidades Históricas para reabilitar o Centro Histórico de São Luís. A contrapartida das igrejas é a conservação e manutenção das obras após a entrega", disse Kátia Bogéa.

Reformas mantêm o patrimônio


De acordo o padre Heitor Morais, pároco da Igreja de São João Batista, no Centro, congregação que ainda abrange às igrejas de Santana e São João Batista, os templos históricos da Igreja Católica são espaços para celebração de culto e tem importância para o contexto cultural e arquitetônico da capital maranhense. "Eles têm um valor de patrimônio histórico porque passam pela construção da sociedade ao longo de muitos anos", diz o padre.
Heitor Morais enfatiza que tanto as igrejas como o Governo Federal, Estadual e Municipal têm uma corresponsabilidade com a conservação dos templos religiosos e acredita que a recuperação dos imóveis históricos de São Luís corresponde a uma batalha. "O Iphan, encabeçado por Kátia Bogéa, está à frente dessa batalha. Temos buscado corresponder da melhor forma dentro das igrejas, com a conservação dos templos", argumenta.
O padre explica que a falta de recursos da igreja para sucessivas obras se dá porque os templos têm pequenas comunidades e a arrecadação das ofertas e dízimos é pequena, o que impossibilita grandes obras. A igreja de São João Batista passa por regulares obras de reforma, principalmente com pinturas e na parte de instalação elétrica. "Estamos esperando a liberação dos recursos federais, sabemos que é preciso que os trâmites legais sejam cumpridos, mas não estamos parados. Agora mesmo estamos fazendo pequenas reformas internas", diz.
O pároco ainda garante que toda intervenção é feita somente depois de técnicos do Iphan serem consultados para saber o melhor modo de reformar, evitando descaracterizações no imóvel. "Aguardamos que a reforma contemple principalmente as parte hidráulica do templo, porque são questões emergenciais. O telhado e o forro precisam de novas obras para evitar quedas como ocorreram em outras igrejas", explica.

Saiba mais


Por estar dentro de uma área tombada como patrimônio histórico brasileiro, as igrejas têm responsabilidade de manutenção e conservação compartilhada pelo Iphan e por aqueles que cuidam dos templos - A Igreja Católica - e pelas comunidades que vivem no entorno das igrejas. A expectativa é de que todos primem para que as obras de recuperação guardem pela maior quantidade de tempo possível o valor histórico dos imóveis sacros.

Convento de Nossa Senhora do Carmo - São Luís


O templo principal do Convento de Nossa Senhora do Carmo, situado em frente ao largo no Centro, ao lado da Praça João Lisboa, sofreu uma das mais danosas avarias dos últimos anos. Parte do teto da nave principal caiu há cerca de um mês. O problema foi comunicado ao Instituto do Patrimônio Histórico, que, com auxílio de técnicos, orientou quais as medidas que deviam ser feitas para evitar perdas maiores.
Com o problema causado por deterioração das vigas de madeira, que sustentam o tempo, atacada por cupins e que sofre ação da umidade causada pela água da chuva, o imóvel perdeu uma de suas marcas estéticas: o afresco com imagens sagradas pintadas no forro da construção. A construção da Igreja e do Convento do Carmo, em São Luís, data do ano de 1627. "A queda de parte do teto comprometeu todo o forro da igreja, que era uma peça artística de valor inestimável. Agora temos de aguardar para ter novamente essa obra de arte em nossa casa", explicou frei Lázaro Nunes, diretor do convento.
Ele afirma que a intervenção no teto tem sido feita com recursos da Igreja Católica e sem parcerias com o Iphan. O espaço é mantido sob a responsabilidade da Ordem dos Capuchinhos, que abriga ainda um museu, que traz peças que ressaltam a importância da missão do grupo na colonização do Maranhão.
O investimento programado pelo Iphan para ser aplicado no Convento do Carmo será revertido em reforma na parte frontal da igreja, principalmente para a recuperação do acervo de azulejos. O espaço tem sofrido com ação de pessoas que furtam as peças raras para contrabandear. Na fachada do templo, pode-se ver os espaços vazios dos azulejos, que sofrem com o desgaste do tempo. "Nosso principal problema hoje é restaurar o forro da igreja e o presbitério. Fomos pego de surpresa e em caráter de urgência estamos correndo atrás de alguém para nos ajudar", clama Lázaro Nunes.
Um agravante para a garantia de recursos dentro da comunidade é o fato de o espaço ser um ponto conventual, não uma paróquia na qual os fiéis podem depositar dízimos. Assim, a direção conta apenas com doações, que devem ser direcionadas. "Passamos o dia inteiro de portas abertas e lidamos com um problema financeiro sério. A maior parte das pessoas que visita nossa igreja está de passagem. Elas vêm, mas não depositam seus dízimos aqui, o que acaba tornando complicado a situação dos recursos próprios", informa o frei.

Números


R$ 10 milhões é o valor aproximado que o Iphan investirá nas igrejas maranhenses para reforma
R$ 1,870 milhão será investido na Igreja de Santo Antônio
R$ 6 milhões serão aplicados na reforma da Igreja da Sé e do Palácio Episcopal
R$ 1,070 milhão será aplicado na restauração da igreja de São João
R$ 2,070 milhões serão aplicados na recuperação da Igreja de Santana
R$ 138 milhões serão aplicados pelo PAC Cidades Históricas em logradouros públicos de São Luís

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