Confusões inexplicáveis
É muita trapalhada, em muitas frentes, ao mesmo tempo. A
Petrobras comprou uma refinaria por um preço muito acima do razoável e teve que
lançar parte do dinheiro a prejuízo; o BNDES toma decisões inexplicáveis de
alocação de recursos públicos e tem prejuízo; balanços dos bancos públicos saem
com meias verdades. Quando tudo dá errado, o Tesouro usa o seu, o meu, o nosso
dinheiro.
O resultado de toda essa confusão será mais confusão, porque o
governo escolheu o caminho dos ajustes que encomendam mais desajustes. Um
encontro de contas honesto, que admitisse todas as perdas com as decisões
controvertidas - por equívoco ou coisa pior - revelaria o tamanho real do rombo
que o governo nos últimos anos foi criando para o país. Quem crê que as contas
sempre têm que ser pagas sente uma compreensível preocupação com as notícias que
diariamente aparecem nos jornais sobre as operações perigosas dos vários
tentáculos do governo.
É o caso de Pasadena, o estranho episódio da refinaria que foi
comprada de uma trading belga, em 2005, e um ano depois vendida para a Petrobras
por um preço várias vezes maior e que já fez a estatal lançar à prejuízo meio
bilhão de reais no último balanço. Ou os belgas são muito astutos, ou as
decisões na Petrobras foram tomadas por pessoas sem qualquer noção de valor, ou
são todos os envolvidos bem espertos.
O "Estado de S.Paulo" revelou ontem que o Ministério Público
apresentou ao Tribunal de Contas da União representação contra a Petrobras. Os
números são eloquentes: em 2005, a trading belga Astra/Transcor comprou a
refinaria de petróleo Pasadena por US$ 42,5 milhões. Um ano depois, vendeu 50%
da refinaria para Petrobras por US$ 360 milhões. Depois disso, as sócias se
desentenderam e para encerrar a briga a estatal brasileira pagou mais US$ 820,5
milhões à empresa belga. E agora, no balanço do quarto trimestre, a Petrobras
lançou a prejuízo R$ 464 milhões. Ou seja, esse valor é o prejuízo até o momento
do impressionante negócio feito pela empresa.
No balanço do BNDES, foram registrados R$ 3,32 bilhões de perdas
com empréstimos ou capitalizações que fracassaram. Uma dessas perdas foi a
tentativa frustrada do BNDES de fazer uma gigante de leite, a LBR-Lácteos, no
qual entrou com 30% do capital e que está em processo de recuperação judicial.
Só nesse erro o banco perdeu R$ 865 milhões. Há casos discutíveis em várias
áreas, em que o banco tem entrado de forma atrapalhada e sem prestar contas à
sociedade, com estratégias discutíveis e prejuízos indiscutíveis. O lucro do
banco só não caiu muito porque o Conselho Monetário Nacional permitiu que ele
não registrasse a perda de valor das ações transferidas pelo Tesouro.
Nunca é demais lembrar que houve ainda o caso da Caixa, que
comprou 49% das ações do Panamericano por R$ 800 milhões, para logo depois
descobrir que ele tinha um rombo de R$ 4,3 bilhões. Depois disso, a Caixa teve
que pôr mais dinheiro no Panamericano.
O caso da refinaria Abreu e Lima construída pela Petrobras é
outro que precisa de boas e bem contadas explicações porque os custos de
construção deram saltos ornamentais. No início, seria de US$ 2,5 bilhões e está
caminhando para US$ 20 bilhões. E o único ganhador com isso será o petróleo
venezuelano, já que ela foi desenhada para refinar apenas o petróleo do país
vizinho.
O Tesouro se prepara para fazer mais uma capitalização no BNDES
que pode chegar a R$ 8 bilhões. Isso depois de ter transferido a títulos de
empréstimos R$ 350 bilhões desde 2008 para o banco. A fonte tradicional de
financiamento do banco é o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que só
conseguiu fechar suas contas no positivo porque o Tesouro injetou R$ 5
bilhões.
Esses são alguns dos casos estranhos. Não são os únicos.
Miriam Leitão
Com Alvaro Gribel
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