Cancale na França, cidade de onde partiu a expedição de Daniel de La Touche com a missão de fundar São Luís que deveria vir a ser a França Equinocial
PARIS - Com ruas, praças e casario ornados pelas bandeiras do
Maranhão, da França, de São Luís e da Bretanha, a cidade portuária de Cancale
celebra efusivamente o Quarto Centenário de São Luís. Foi de lá que partiu
Daniel de La Touche com suas três caravelas para fundar, em 8 de setembro de
1612, a cidadela que deu origem à capital maranhense. O Te Deum (hino litúrgico
católico atribuído a Santo Ambrósio e a Santo Agostinho) de ação de graças pelo
ato fundador da cidade ocorreu, então, sob o testemunho admirativo da
assistência composta por indígenas em sua grande maioria.
Conforme diversos historiadores, os franceses, todavia, já
frequentavam a costa do Maranhão havia mais de 80 anos, sendo pacificamente
acolhidos pelos Tupinambás, com os quais trocavam produtos e amizade.
"As comemorações em honra de São Luís, hoje um dos mais notáveis
polos econômicos do Brasil, traduzirão o nosso reconhecimento à importância da
capital do Maranhão igualmente na vida e na história de nossa região, a
Bretanha, que se construiu e se constrói ainda nesta profícua e exaltante
relação com as atividades marítimas iniciadas ao tempo das grandes descobertas",
é o que afirma o prefeito de Cancale, Pierre'-Yves Mahieu.
Forte São Luís marco zero da cidade
Ele acrescenta, com manifesta euforia: "São Luís nos causa
orgulho, engrandece a nossa história e nos fortalece a confiança no nosso
destino marítimo, no advento de novo ciclo de progresso fundado nas imensas
possibilidades oferecidas pelo mar. Os nossos sonhos sobre o futuro repousam em
grande parte no fascínio pelas riquezas do mar. E creio que esses sonhos são
compartilhados pelos nossos bretões do Maranhão", destaca. O prefeito conclui
citando o grande humanista francês Alexis Tocqueville : "Quando o passado não
aclara mais o futuro, o espírito se estiola nas trevas".
Reciprocidade
Para o historiador bretão Jean-Claude Weisz, "não é menos nobre
e edificante o sentimento de admiração e mesmo de gratidão dos sanluisenses e
maranhenses pela tentativa de Daniel de La Touche de - com a inestimável ajuda
dos religiosos, sobretudo, que integravam sua expedição - desenvolver uma
colonização diferente, humana e harmoniosa no que deveria vir a ser a França
Equinocial".
Weisz ressalta que "a mais eloquente demonstração dessa gratidão
dos maranhenses nos tempos atuais foi o gesto da governadora Roseana Sarney
conferindo, por decreto, aos habitantes de Cancale e da cidade vizinha de Saint
Malo, o título de cidadãos maranhenses". O texto do ato oficial da governadora e
o respectivo diploma foram entregues às autoridades locais pelo ex-presidente
José Sarney, quando de sua visita às duas cidades em maio de 1998.
Um ano antes, Sarney havia lançado na França o romance O Dono do
Mar, inspirado em parte no imaginário bretão sobre o mar a que se referiu acima
o prefeito Pierre-Yves Mahieu e que modela a criação de vários dos grandes
clássicos da literatura francesa. Ao, no livro, transformar o mar num personagem
central, o escritor maranhense incorporou na trama romanesca todo um referencial
aos contos, lendas, fantasias e seres míticos e sobrenaturais (os piocos)
forjados no litoral bretão e que acabaram transplantados para a Costa do
Maranhão pelos navegadores franceses e viajantes dos tempos coloniais.
Bretanha em São Luís
Nas festas de São Luís, promovidas pelo Governo do Estado e pelo
Município, Cancale estará representada pelo historiador Yves Claquin, e Saint
Malo pelo seu colega, também historiador, Alain Roman, que se faz acompanhar da
esposa, a artista plástica Liliane Roman.
Alain Roman lançou há algum tempo um livro sobre a saga de
Cancale e Saint Malo pela conquista do Brasil. A capa foi ilustrada pela esposa.
"No momento em que os ludivicenses e maranhenses comemoram suas raízes bretãs e
francesas, nada mais legítimo e altaneiro que participemos dessa celebração
grandiosa e emocionante", assinalou o historiador antes de embarcar para São
Luís.
Centro Histórico de São Luís
Cidade de Cancale, na França, celebra o aniversário da fundação de São Luís
Região de onde partiu Daniel de La Touche homenageia a capital maranhense.
Franceses têm orgulho da façanha do navegante em terras brasileiras.
Bandeiras são estendidas na cidade de Cancale, na
França. (Foto: Sidney Pereira)
França. (Foto: Sidney Pereira)
A baía de St. Martin, em Cancale, foi o ponto de partida de uma aventura marítima que uniu, para sempre, brasileiros e franceses. Foi de onde partiu Daniel de La Touche em direção a São Luís do Maranhão. A expedição até a costa brasileira durou seis meses e em oito de setembro de 1612, a missão autorizada pelo palácio do Louvre, sede da monarquia francesa, erguia um forte no golfo do Maranhão.
Um busto, em bronze, do navegante francês ficará exposto na baía de St. Martin a partir de agora, como símbolo da amizade entre franceses e maranhenses. O escultor Patrick Abrahan explica que Daniel de La Touche foi um conquistador, que ao fundar São Luís, cumpriu uma missão nobre da monarquia francesa. “Por isso, deve ser reconhecido como herói, pelo povo francês e pelos brasileiros”, diz o criador do busto que tem 40 centímetros.
Na Bretanha francesa, Saint Malô conserva as origens mais remotas de São Luís do Maranhão. São castelos e fortalezas medievais erguidas em um tempo de vikings e piratas. Um destes castelos, em Regneville, pertenceu à família de Daniel de La Touche. O historiador Jean Marie Collin conta que foi com a venda do castelo que o navegador La Touche bancou a viagem pra fundar São Luís e deixou, do lado de cá do atlântico, um presente eterno para os brasileiros.
Castelos e fortalezas medievais foram erguidos na região
(Foto: Sidney Pereira)
Parabéns a todos os maranhenses orgulhosos dessa terra patrimônio da humanidade
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