domingo, 29 de julho de 2012

Após dias de atividades, Reunião da SPBC tem balanço positivo em São Luís


Pesquisadores e alunos discutiram meios de usar os conhecimentos tradicionais para erradicar a pobreza no país.

Jock Dean
Da equipe de O Estado

A 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi encerrada na sexta-feira, dia 27. Durante o encontro, que teve início na segunda-feira, 23, professores, pesquisadores e alunos discutiram meios de usar os conhecimentos tradicionais para erradicar a pobreza no país. O evento debateu ainda a necessidade de maiores investimentos em pesquisas científicas e a valorização da educação como instrumento de cidadania. Esta foi a segunda vez que São Luís sediou a SBPC. O primeiro evento foi realizado em 1995. A 47ª Reunião teve como tema Ciência e desenvolvimento autossustentável e é considerada até hoje uma das recordistas destes 64 anos de trabalho da entidade.
Diariamente, passaram pelo campus do Bacanga da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA) cerca de 25 mil pessoas que assistiram a palestras, conferências, exposições, participaram de minicursos e mesas-redondas. “Fizemos um levantamento e constamos que de cada 10 visitantes, apenas três estavam inscritos. Isso nos surpreendeu, pois poucas edições da SBPC foram tão populares quanto a deste ano. A maioria dos visitantes era da área Itaqui-Bacanga, onde fica a universidade”, destacou Natalino Salgado, reitor da UFMA.
Helena Nader, presidente nacional da SBPC, observou que o evento deste ano teve a missão de pensar formas de trazer os saberes populares para o âmbito científico, para que eles sirvam como base para o desenvolvimento das ciências no país. “Esse é diálogo que não pode se perder, mas ser intensificado. Antes, os saberes populares eram vistos como um obstáculo para o desenvolvimento científico, mas muitas inovações só foram possíveis a partir da sistematização da tradição popular, por isso defendemos a proteção desses saberes”, disse.
Para a realização da SBPC, foi construído um novo centro acadêmico com três andares e salas para até 160 expectadores, totalmente climatizadas, uma avenida que contorna todo o campus para facilitar acesso aos prédios da universidade. Mais de 2.000 pessoas trabalharam nos serviços de limpeza, segurança, alimentação, atendimento médico e outros. Veículos adaptados para o transporte de cadeirantes, interpretes de libras, transcritores de braile, monitores para deficientes, rampas e elevadores também foram disponibilizados. “O evento deste ano foi o mais inclusivo e democrático de todos os já realizados e isso só foi possível porque a população abraçou a causa”, frisou a presidente nacional da SBPC, Helena Nader.
Eventos – A SBPC foi composta por diversos eventos paralelos, um deles foi a SBPC Jovem que acontece desde 1993 e tem o objetivo de envolver as crianças e adolescentes com a pesquisa científica, formando novos pesquisadores no país. A programação, aberta ao público geral, teve como base questões como sustentabilidade e acessibilidade. Na tenda Stand’Arts, montada para receber as atividades, era possível aprender origami, fazer cabelo afro, comer babaçu, além de assistir a diversas exposições. O Governo do Estado investiu R$ 475 mil no projeto.
Na grande tenda armada para a Exposição de Ciência e Tecnologia (ExpoT&C), uma mostra de ciência, tecnologia e inovação que reúne centenas de expositores, como universidades, institutos de pesquisa, agências de fomento, entidades governamentais e outras organizações interessadas em apresentar novas tecnologias, produtos e serviços à população, o público teve a oportunidade não só de ver, mas de experimentar novas tecnologias e de realizar os experimentos científicos no espaço que teve como marca principal a interatividade. “A mostra foi a maior já realizada, com 64 estandes distribuídos em 6.500 metros quadrados de área”, destacou Natalino Salgado.
Uma das conferências que mais atraiu a atenção dos participantes foi a proferida na terça-feira, dia 24, pelo cientista israelense Daniel Shechtman, ganhador do Prêmio Nobel de Química de 2011, que explicou como descobriu uma nova categoria de materiais sólidos, os quasicristais. Esta foi a primeira vez que um vencedor do Prêmio participou de uma SBPC. A descoberta possibilitou inovações em áreas como a da produção de aço-cirúrgico, utilizado na fabricação de agulhas usadas na cirurgia ocular.
Críticas - Durante o encontro, Helena Nader também fez críticas aos cortes no orçamento do governo para as áreas de ciência, tecnologia e inovação, por considerar que a medida impacta negativamente no sistema educacional do país. “Já são dois anos consecutivos com cortes no orçamento. No ano passado, alertei que o Governo Federal, ao cortar os recursos do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, estaria sinalizando que os investimentos no desenvolvimento científico seriam cada vez menores. Não pode haver educação de qualidade sem desenvolvimento científico”, disse.

Compromissos


- Durante os dias de trabalho, a UFMA assumiu diversos compromissos. Entre eles a realização, em Alcântara, de seminários para discutir a questão quilombola na cidade junto com a sociedade ci-vil e as comunidades tradicionais.
- A universidade vai coletar também dados das conferências realizadas para a produção de um relatório que será entregue a administração municipal e estadual para a elaboração de políticas públicas.

Em tempo

O reitor da UFMA, Natalino Salgado, passa o fim de semana em estado de graça. A organização da 64ª Reunião da SBPC foi considerada uma das melhores e mais eficientes da história da entidade. O representante da Universidade Federal de Pernambuco, onde ocorrerá a próxima edição, avisou que vai importar o modelo integralmente e ajustá-lo à realidade da UFPE.

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