sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Lenda de Ana Jansen em Quadrinhos



Detalhes da publicação do desenhista Beto Nicácio
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Eduardo Júlio · São Luís, MA

Você já imaginou encontrar uma carruagem puxada por cavalos sem cabeça, de onde sai uma mulher vestida de preto, oferecendo uma vela acesa? Seria assustador, não? Pois se trata de uma das mais famosas lendas da história social de São Luís, atribuída a uma poderosa mulher chamada Ana Jansen.

Figura real, Ana Jansen Pereira Leite, a Donana, como era mais conhecida, viveu de 1787 a 1869. Durante aquele período foi a pessoa mais rica do Maranhão, o que incomodou e despertou o preconceito de muitas personalidades, especialmente homens influentes da sociedade maranhense, que não aceitavam uma mulher possuir tanto poder. Por isso, levou fama de má e de impiedosa.

Agora, a lenda da carruagem e de algumas das histórias que circundaram a vida de Donana foram traduzidas para a linguagem dos quadrinhos, pelas mãos do desenhista e arte-educador maranhense Beto Nicácio, 35, que lançou recentemente a revista “A Lenda da Carruagem Encantada de Ana Jansen”. A publicação da obra foi aprovada pelo programa BNB de Cultura, edição 2006, sendo um dos poucos projetos de São Luís da categoria literatura.

Beto Nicácio explica que publicar a lenda da carruagem de Ana Jansen em formato de quadrinhos é um sonho antigo, resultado da pesquisa monográfica para a graduação do curso de Educação Artística, da Universidade Federal do Maranhão, em 2003.
“O tema sempre me interessou. Daí, durante a graduação, os professores me sugeriram um trabalho sobre Donana”.

Antes de realizar “A Lenda da Carruagem Encantada de Ana Jansen”, o quadrinista já tinha abordado o assunto, tendo feito as ilustrações do livro infantil “Quem Tem Medo de Ana Jansen”, obra lançada em 2002, do escritor maranhense Wilson Marques.

Para realizar o trabalho recém-lançado, Beto Nicácio pesquisou basicamente livros de história do Maranhão e obras que tratam da aplicação educacional dos quadrinhos. Aliás, “A Lenda da Carruagem Encantada de Ana Jansen” tem caráter pedagógico. Toda a tiragem já foi distribuída para escolas públicas municipais de São Luís. Além disso, a publicação vem com um caderno de atividades para os alunos responderem.

Ele acrescenta que a revista contribui para o conhecimento da cultura da região. Além disso, os quadrinhos auxiliam e estimulam o aprendizado.“Apresentar estas lendas de Ana Jansen como proposta pedagógica nas escolas partiu da necessidade de despertar o interesse dos alunos pela cultura local e pela riqueza imaginativa dos contos e lendas. A linguagem dos quadrinhos possibilita este acesso de forma divertida e atraente”, completa.

AS HISTÓRIAS
Em “A Lenda da Carruagem Encantada de Ana Jansen”, ele aborda além da lenda do título, que costumava assustar os moradores do Centro Histórico, de São Luís, a história sobre o rico e influente comerciante Antônio Meireles, que para desmoralizar Ana Jansen, mandou fazer centenas de penicos na Inglaterra, com a imagem de Donana estampada no fundo do objeto, sendo carregada por escravos. Os penicos foram todos vendidos, mas quem os comprou foi Ana Jansen, através de intermediários. Um dia, ela mandou os escravos quebrarem os objetos lotados de cocô, na porta da casa do comerciante.

“Se hoje uma mulher com domínio político ainda incomoda, imagine no começo do século XIX? Pois a revista questiona justamente isso. Na realidade, Donana tinha uma postura de vanguarda. Era independente, muito rica e mãe solteira, o que causou o ciúme de muitos políticos, comerciantes, jornalistas e fazendeiros locais”, afirma Beto Nicácio.

Outra lenda importante tratada na obra é a história sobre a sabotagem realizada no deposito de água da companhia que realizava o abastecimento de São Luís. Consta que antes da instalação da empresa na capital do Maranhão, que trouxe água encanada para a cidade, quem vendia água de porta em porta, em carroças pipas, era Ana Jansen. Assim, depois de perder o mercado, ela resolveu jogar gatos mortos nos depósitos da companhia concorrente, para contaminar a água. Sem citar o nome de Donana, a história de fato está registrada nos documentos oficiais da Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão, Caema.

Por último, há o episódio da compra da alforria de uma escrava. Isso, para amenizar a fama de má de Donana, que já estava espalhada pela capital.

O AUTOR
Beto Nicácio é bastante conhecido dos amantes da nona arte no Maranhão. Já publicou em várias revistas nacionais e com o grupo SingularPlural produziu as revistas Fúria e Fusão. Ganhador de vários prêmios regionais e nacionais em cartuns e charges, ele também foi indicado na categoria de melhor desenhista revelação para o Prêmio HQMix 2007, considerado o Oscar dos quadrinhos brasileiros.

Quem folhear a HQ vai poder voltar ao tempo e conhecer um pouco mais da situação política, econômica e social de São Luís em meados do século XIX. Aqueles que quiserem saber mais sobre como o artista produziu a revista, pode acessar o blog www.carruagemencantadanaescola.blogspot.com. Lá, o internauta vai conferir várias etapas da criação da história em quadrinhos, desde o rascunho, até a publicação.

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