quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Rasga Coração de Oduvaldo Vianna Filho no TAA




Bruna Castelo Branco

Da equipe de O Estado

Fatos determinantes na história política do Brasil vistos pelo ponto de vista do conflito de gerações e de ideologias resumem-se no cerne do espetáculo “Rasga Coração”, em cartaz hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 19h, no Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro).

O texto de Oduvaldo Vianna Filho, escrito no início da década de 70, ainda sob a forte pressão da Ditadura Militar, é um dos mais significativos do teatro nacional, sendo considerada a obra-prima de “Vianninha”. Na época, ele já era considerado um grande dramaturgo, sendo, inclusive, autor do roteiro da série “A Grande Família.”

A concepção de “Rasga Coração” foi em dois atos. O primeiro foi escrito em 1972 e o segundo foi concluído quando Vianna Filho já estava no leito do hospital, tratando de um câncer. Sem força para escrever, ele ditava o texto para a sua mãe. O autor conseguiu terminar a redação, mas faleceu, em 1974, antes de assistir ao espetáculo nos palcos. A primeira montagem foi em 1979 e trazia no elenco Raul Cortez e Ary Fontoura. A peça deveria ter estreado em 1974, ano da morte do autor, mas o texto foi censurado pela Ditadura Militar. A estréia aconteceu sob forte comoção no Rio de Janeiro, tanto por ser uma homenagem ao dramaturgo e também por representar uma abertura política e social do país. “O Vianninha já havia falecido e a liberação da peça foi muito importante para aquele momento no Rio de Janeiro”, relembra Dudu Sandroni, que assina, ao lado de Alexandre Mofati a direção da nova montagem.

O espetáculo tem discursos focados na revolução de 30, que marca o nascimento do movimento comunista e integralista brasileiro. A peça havia sido encenada somente uma vez até 2007, talvez por receio dos diretores em trabalhar com uma obra datada, a retratar conflitos comuns da época em que foi escrita.

O resgate do texto aconteceu em 2006, quando o diretor Dudu Sandroni, que assistiu à primeira montagem, sentiu vontade de reler o texto e sem se preocupar com a cronologia da obra decidiu que ela merecia ser reencenada. “Eu sabia que aquele texto era maravilhoso, que fugia a sua referência temporal, por isso aceitei o desafio de montá-lo. Passei o Carnaval de 2006 relendo-o e, em 2007, fizemos a nossa estréia”, conta.

Para o diretor, apesar de ser uma peça marcada por expressões não usadas atualmente e ter muitas referências de um período político conflituoso, o texto não deve ser considerado obsoleto. “A peça narra um período muito importante do país e o Vianninha é fantástico, o texto dele não deve ser esquecido. Ele era brilhante”, observa.

Enredo - Repleto de músicas e de gírias das épocas de 30 e de 60, o enredo é fruto de uma meticulosa pesquisa lingüística e historiográfica. O espetáculo gira em torno das discussões de Manguary Pistolão com seu filho. Um homem de meia-idade, funcionário público versus um comunista militante, jovem universitário que pretende largar a faculdade de Medicina para se integrar ao movimento hippie em um confronto ideológico e político.

Manguary Pistolão, em meio a devaneios, retorna à sua juventude nos anos 30 e 40. Na época, ele havia contrariado os desejos do pai Custódio Manhães, que o queria um funcionário público, e por causa da resistência o rapaz acabou sendo expulso de casa. Agora na posição de pai, Manguary vivencia o mesmo conflito. “O filho tem todo aquele discurso ecológico bem comum aos hippies daquela época e o mais interessante é que o mesmo discurso, preocupado com a ecologia, está muito presente nos dias de hoje”, observa Dudu Sandroni.
Toda a trama acontece na sala de um apartamento, os móveis e objetos antigos servem de pano de fundo para as ações do presente e passado. O espetáculo tem cenário de Lídia Kosovski, figurino de Ney Madeira, iluminação de Djalma Amaral e trilha sonora de Oduvaldo Vianna Filho. O elenco é composto pelos atores Zé Carlos Machado (Manguary Pistolão), Kelzy Ecard (Nena), Alexandre Dacosta (Custódio Manhães), Alexandre Mofati ( Camargo Velho), Xando Graça (Lorde Bundinha), Pedro Rocha ( Luca), Tiago D’Ávila (Camargo moço), Miriam Roia 2 (Milena) e participação especial de Expedito Barreira (Castro Cott).

Serviço
• Espetáculo “Rasga Coração”
• Quando Hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 19h

• Onde Teatro Arthur Azevedo (Rua do Sol, Centro)

• Ingressos R$ 20,00 ( meia para estudantes)

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