segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Possível tema de redação do enem

De onde vêm os refugiados e por quê

Fluxo migratório é o primeiro impacto real da crise síria no continente europeu

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LONDRES — Esta é uma era de violência no Oriente Médio e no norte da África, com nove guerras civis em curso em países islâmicos entre o Paquistão e a Nigéria. É por isso que tantas pessoas estão fugindo para salvar suas vidas. Metade das 23 milhões de pessoas da Síria foi forçada a deixar suas casas, com quatro milhões de pessoas tendo se refugiado em outros países.
Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas ou prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo, cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que os conflitos no país foram retomados no final de 2013.
Outras partes do mundo, especialmente o sudeste asiático, se tornaram mais pacíficas nos últimos 50 anos. Mas, na vasta faixa de território entre as montanhas do Hindu Kush e a região oeste do Saara, conflitos religiosos, étnicos e separatistas dilaceram países. Em todo lugar, nações estão entrando em colapso, se enfraquecendo ou sob ataque; e, em muitos destes lugares, insurgências sunitas extremistas estão crescendo e usando o terror contra a população para provocar fugas em massa.
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Outra característica destas guerras é que nenhuma delas demonstra nenhum sinal de fim e, então, as pessoas não podem voltar às suas casas. A maioria dos refugiados sírios que partiram para a Turquia, para o Líbano e para a Jordânia em 2011 e 2012 acreditava que a guerra na Síria terminaria em breve e, então, eles poderiam voltar ao país. Foi apenas nos últimos anos que eles perceberam que isso não iria acontecer e que eles deveriam procurar refúgio em outro lugar. A extensão destas guerras significa a imensa e irreversível destruição de todas as formas de trabalho e, então, os refugiados, que a princípio só buscavam segurança, também são atraídos pela necessidade econômica. Estas guerras estão sendo travadas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no sudeste da Turquia, no Iêmen, na Líbia, na Somália, no Sudão e no nordeste da Nigéria. Algumas delas começaram há muito tempo, como é o caso da Somália, onde o Estado entrou em colapso em 1991 e nunca foi completamente reconstruído. Chefes militares, jihadistas extremistas, partidos rivais e soldados estrangeiros controlam diferentes partes do país.
Mas a maioria destas guerras começou depois de 2001 e muitas só depois de 2011. A guerra civil no Iêmen só ganhou forma no último ano, enquanto a guerra civil entre turcos e curdos, que matou 40 mil pessoas desde 1984, foi retomada com ataques aéreos e de guerrilha. E está crescendo rapidamente: um caminhão de soldados turcos foi explodido no fim de semana por guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Quando a Somália desmoronou, processo que uma intervenção militar dos EUA não conseguiu reverter entre 1992 e 1994, este parecia um evento marginal, insignificante para o resto do mundo. O país se tornou um "estado falido", frase usada em termos compassivos ou desdenhosos enquanto a Somália se tornava um reino de piratas, seqüestradores e terroristas da al-Qaeda.
Mas o resto do mundo deveria olhar para tais estados falidos com medo e com angústia, já que são estes lugares — a exemplo do Afeganistão nos anos 1990 e do Iraque desde 2003 — que incubaram movimentos como o Talibã, a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Todos os três combinam crenças religiosas fanáticas e competências militares. A Somália, um dia, pode ter aparentado ser um caso excepcional, mas a "somalianisação" acabou sendo o destino de uma série de países, em especial a Líbia, o Iraque e a Síria, onde até pouco tempo atrás as pessoas tinham alimentos, educação e atendimento de saúde.
Todas as guerras são perigosas e as guerras civis sempre foram notoriamente impiedosas. Os conflitos religiosos são os piores de todos. É o que está acontecendo com o Oriente Médio e o Norte da África, com o EI — e clones da al-Qaeda, como os grupos Jabhat al-Nusra e Ahrar al-Sham na Síria — matando ritualmente seus oponentes e justificando suas ações ao apontar o bombardeamento indiscriminado de áreas civis pelo governo de Assad.
O que é um pouco diferente nestas guerras é que o EI deliberadamente divulga suas atrocidades contra qualquer um a quem considere seu inimigo. Isso significa que as pessoas arrebatadas nestes conflitos, particularmente depois da declaração do EI em junho do ano passado, sofrem com uma carga adicional de medo, o que aumenta as chances de eles fugirem e não voltarem mais. A realidade é a mesma para professores da Universidade de Mosul, no Iraque, e para aldeões da Nigéria, de Camarões ou do Mali. Sem causar surpresa, os avanços do EI no Iraque produziram grandes ondas de refugiados, que sabem o que vai acontecer se eles não fugirem.
No Iraque e na Síria, estamos de volta a um período de drásticas mudanças demográficas na região, como nunca vistas desde que os palestinos foram expulsos ou forçados a fugir pelos isralenses em 1948 ou desde que os cristãos foram exterminados ou expulsos do que é hoje a Turquia moderna na década que seguiu o ano de 1914. Sociedades multi-confessionais no Iraque e na Síria estão se dilacerando com terríveis consequências. Poderes estrangeiros não sabiam ou não se importavam com quais demônios sectários eles estavam colocando à solta nestes países com a quebra do antigo status quo.

O ex-conselheiro de segurança do governo iraquiano, Mowaffaq al-Rubaie, costumava dizer aos líderes políticos americanos, que não hesitavam em sugerir que os problemas comunitários do Iraque poderiam ser resolvidos com a divisão do país, que era necessário entender o quão sangrento este processo seria. Inevitavelmente, haveria massacres e fugas em massa "semelhantes à partilha da Índia em 1947".
Por que tantos destes Estados estão desmoronando agora e criando grandes fluxos de refugiados? Quais falhas internas ou pressões externas insustentáveis eles têm em comum? A maioria deles alcançou a auto-determinação quando as potências imperiais se retiraram depois da Segunda Guerra Mundial. Até o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, eles eram governados por líderes militares que dirigiam estados totalitários. Seus monopólios de poder e riqueza eram justificados pela suposta necessidade de estabelecer a ordem pública, modernizar seus países, ganhar controle dos recursos naturais e resistir às pressões étnicas e sectárias que cresciam a cada nova fissura.
Estes eram geralmente regimes socialistas e nacionalistas de perspectivas seculares. Como as justificativas para o autoritarismo eram normalmente hipócritas, cheias de interesses e mascaravam a corrupção generalizada pela elite dominante, frequentemente era esquecido que países como Iraque, Síria e Líbia tinham governos centrais poderosos por um motivo — e poderiam se desintegrar sem estes regimes.
Estes regimes foram se enfraquecendo e entrando em colapso ao longo do Oriente Médio e do Norte da África. O nacionalismo e o socialismo não oferecem mais a coesão ideológica para manter estados seculares unidos ou para motivar pessoas a lutar por eles até a última bala, como fazem os fiéis pela imagem fanática e violenta do Islã sunita defendida pelo EI, pelo Jabhat al-Nusra e pelo Ahrar al-Sham. Autoridades iraquianas admitem que uma das razões para que o exército iraquiano tenha se desintegrado em 2014 e nunca tenha se reconstituído por completo é que "pouquíssimos iraquianos estão preparados para morrer pelo Iraque."
Grupos sectários como o EI deliberadamente cometem atrocidades contra xiitas e outros na certeza de que isso vai provocar retaliações contra os sunitas, que vão ficar sem alternativa além de olhar para o EI como seu defensor. O incentivo ao ódio comum é um trabalho a favor do EI e infecta países como o Iêmen, onde antes existia pouca consciência da divisão sectária, apesar de um terço da população de 25 milhões pertencer aos xiitas da vertente zaydi.
A probabilidade de uma fuga em massa aumenta ainda mais. No início deste ano, quando corriam rumores de que um ataque do Exército Iraquiano e da milícia xiita tinha o objetivo de recapturar a cidade sunita de Mosul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) começaram a reunir alimentos para mais um milhão de pessoas que poderiam vir a deixar suas casas.
Os europeus ficaram abalados com as imagens do pequeno Alyan Kurdi afogado em uma praia da Turquia e dos famintos sírios que abarrotavam trens húngaros. Mas, no Oriente Médio, a nova diáspora miserável dos impotentes e despropriados esteve evidente nos últimos três ou quatro anos. Em maio, eu estava prestes a atravessar o Rio Tigre entre a Síria e o Iraque em um barco com uma mulher curda e sua família, quando eles foram obrigadas a descer porque uma letra do seu nome estava errada na sua licença.
— Mas eu estou esperando há três dias com a minha família na margem do rio! — ela gritou em desespero. Eu estava a caminho de Erbil, a capital do Curdistão, que até um ano atrás aspirava ser "a nova Dubai" mas, agora, está repleta de refugiados amontoados em hotéis, shoppings e bairros de luxo nunca inteiramente construídos.
O que pode ser feito para interromper estes horrores? Talvez a primeira questão seja como nós podemos prevenir que eles fiquem piores, mantendo em mente que cinco destas nove guerras começaram em 2011. Existe um risco de que, ao atribuir fugas em massa a muitas causas diversas, como as mudanças climáticas, os líderes políticos responsáveis por estes desastres fiquem livres da pressão pública para agir de forma eficaz e pôr um fim aos mesmos.
A atual crise de refugiados na Europa é, em grande parte, o primeiro real impacto da guerra civil da Síria no continente. É verdade que a ausência de segurança na Líbia levou o país a ser hoje o caminho para os países partidos e empobrecidos pela guerra nas proximidades do Saara. Foi pela costa de 1770 quilômetros da Líbia que 114 mil refugiados percorreram seu caminho até a Itália neste ano, sem contar as milhares de pessoas que se afogaram no percurso. E, por pior que seja, a situação não é tão diferente do ano passado, quando 112 mil pessoas usaram esta rota até a Itália.
Muito diferente é a guerra na Síria e no Iraque, que elevou o número de pessoas tentando chegar à Grécia pelo mar de 45 mil a 239 mil no mesmo período. Por três décadas, o Afeganistão produziu grande número de refugiados, de acordo com o ACNUR; mas, no último ano, a Síria tomou seu lugar. Hoje, um novo refugiado a cada quatro no mundo é sírio. Uma sociedade inteira foi destruída e o resto do mundo fez muito pouco para impedir que isso acontecesse. Apesar da recente enxurrada de atividades diplomáticas, nenhum dos atores da crise da Síria mostra urgência para tentar terminá-la.

A Síria e o Iraque estão no coração da atual crise de refugiados de outra forma, já que é lá que o EI e grupos semelhantes à al-Qaeda controlam territórios significativos e são capazes de espalhar o veneno sectorial para o resto do mundo islâmico. Eles estimulam gangues de assassinos que operam, em grande parte, da mesma forma, quer estejam na Nigéria, no Paquistão, no Iêmen ou na Síria.
As fugas em massa vão acontecer enquanto a guerra na Síria e no Iraque continuar.
* do Independent

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