Principais modificações observadas são o aumento da temperatura, perda da biodiversidade, redução de lençóis freáticos, aumento da poluição do ar.
Créditos:Jornal o Estado do Maranhão
O acelerado crescimento da área ocupada e do solo exposto da ilha de São Luís traz consequentes modificações ao funcionamento do meio ambiente, de acordo com a pesquisa do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc). Alguns desses já podem ser observados e são alarmantes, como o aumento da temperatura, perda de biodiversidade (vegetal e animal), redução dos lençóis freáticos, aumento da poluição do ar, rios e córregos e desaparecimento de fontes naturais de água.
O aquecimento da atmosfera pode ocorrer, pois as plantas que formam a vegetação conseguem diminuir a temperatura ao receber os raios solares e guardar nelas mesmas o calor, que não é repassado para o solo, enquanto uma área exposta de solo ou de construção, que recebe raios solares diretamente, causa a elevação da temperatura. "No momento em que eu estou em solo exposto, a área começa a aquecer mais. Uma maior quantidade de vegetação é requerida para que se abaixe a temperatura. A maioria dos estudos de aumento da temperatura está relacionada diretamente à perda de vegetação em uma área", disse o consultor ambiental do Imesc, geógrafo José de Ribamar Carvalho dos Santos.
Consequência - A impermeabilização do solo é outra das consequências graves - principalmente por causa do problema de abastecimento de água urbano, pelo qual os municípios da Ilha têm enfrentado nos últimos anos - que impede a formação dos lençóis freáticos. Nas cidades, cada vez mais se recorre ao uso das águas dos lençóis, principalmente com a construção de novos condomínios - que utilizam estações próprias de tratamento e abastecimento - e a perfuração de poços particulares.
De acordo com o geógrafo José de Ribamar dos Santos, como a área de vegetação de São Luís tem caído em um ritmo acelerado, haverá uma menor penetração de água das chuvas no solo. "Sem a vegetação, menos água vai entrar no solo e vamos ter menor alimentação dos lençóis freáticos e maior extração, porque, se a gente for avaliar, todos os condomínios e prédios não recebem água do abastecimento público, mas já extraem diretamente água de poços artesianos", disse.
Ele explicou que isso ocorre porque a água das chuvas, que deveria cair sobre a vegetação e ficar retida para descer ao solo, acaba por ser escoada nas áreas descampadas, por torrentes de água que se formam e descem aos córregos, sendo levadas ao mar. "A água que desce da chuva vai ser levada para o oceano e não percola o solo e isso é um problema seríssimo e quanto mais solo exposto mais impermeabilização", explicou e ainda ponderou que o aumento de estradas e vias asfaltadas contribuem para esse problema.
Recursos hídricos - O estudo Situação Ambiental da Ilha do Maranhão ainda fez um levantamento sobre as bacias hidrográficas da Ilha, com base em dados de 2009. No total, a pesquisa dividiu a área de 900 quilômetros quadrados em 12 bacias hidrográficas. São elas, com respectivas áreas: Anil (40,94 quilômetros quadrados), Bacanga (105,90 quilômetros quadrados), Cachorros (65 quilômetros quadrados), Estiva (41,65 quilômetros quadrados), Guarapiranga (27,52 quilômetros quadrados), Inhaúma (27,52 quilômetros quadrados), Itaqui (48,60 quilômetros quadrados), Geniparana (81,18 quilômetros quadrados), Paciência (153,12 quilômetros quadrados), Praias (microbacias litorâneas) (61,05 quilômetros quadrados), Santo Antônio (100,46 quilômetros quadrados) e Tibiri (140 quilômetros quadrados).
Foi avaliada pelos técnicos, principalmente, a situação das nascentes nas principais bacias da Ilha: as dos rios Anil, Bacanga, Paciência e Tibiri. Quanto à nascente - situada na Aurora - do Rio Anil, que tem 13,8 quilômetros de extensão, foi percebido um intenso processo de urbanização ao longo de toda a área, com desaparecimento de córregos e brejos, o encurtamento do rio, ocupações desordenadas e atividades de indústrias nas margens, presença de grande quantidade de resíduos, processo de erosão e assoreamento, lançamento de esgoto in natura e diminuição de pescado.
No Rio Paciência, foi detectado que ele tem sido usado para irrigação de horticultura e floricultura, como fonte de lazer e alguns pontos, sofrendo processo de assoreamento, poluição por esgotos domésticos, construção de conjuntos habitacionais próximos, exploração mineral com retirada de argila, presença de lixão do município de Paço do Lumiar, canalização de leito. Na área, está sendo instalado o loteamento Bosque da Prata, em São José de Ribamar, e ainda foi construído o conjunto Nova Terra, pelo Governo Federal.
Ocupação - A área descampada na Bacia do Paciência é onde mais houve crescimento de superfície ocupada de 1988 a 2008, tendência apontada pelo Imesc. No espaço do loteamento Bosque da Prata, podem ser vistas mangueiras derrubadas, mata devastada e ainda incidência de queimadas. O desflorestamento foi feito para a construção de casas. A vegetação é formada principalmente por carnaubais, buritizais, ingazeiras, mamoneiras, mangueiras e outras palmeiras.
Um pequeno córrego, dentro da área do loteamento, está sumindo com a perda de vegetação na área. O conhecido Rio da Matinha ou Rio São João está poluído. Próximo a ele moram famílias pobres que antigamente usavam a área para diversão. Inocêncio Silva viu a decadência da área. "Tudo aqui se perdeu desde a instalação da Cidade Operária e da Cidade Olímpica. Os esgotos de lá são jogados no leito do riozinho. Antigamente podia-se cair uma agulha e se encontrava aí nessas águas, hoje em dia não dá mais", disse.
Rios concentram maior parte dos problemas
Na Bacia do Bacanga, de onde é retirada a água que abastece 18% da população de São Luís, foi descoberto que há maior concentração de problemas de drenagem. Há, ao longo da área de nascente, localizada no Maracanã, ocupações com características rurais e invasões.
Os córregos da área estão quase todos secos. Ao longo do Rio do Pontilhão, que já tem a água quase toda poluída, estão as invasões Vila Sarney e Vila Esperança, que começaram a crescer por volta das décadas de 1980 e 1990.
Segundo o morador da área, o pescador Reginaldo Santana, de 60 anos, que nasceu em um sítio na região, o rio perdeu muito de sua área, quando começaram a ocupar a sua foz. "Aqui sempre foi aproveitado o lazer ao longo do rio, apesar disso ficou difícil controlar a poluição, por causa dos novos conjuntos que surgiram. Passei um tempo fora de São Luís e quando voltei vi que o rio tinha perdido tamanho e ficado muito poluído", frisou.
Ainda na área do Maracanã, há rios que foram destruídos pela ocupação de novos moradores. Um deles foi o Riacho do Guará, onde surgiu o Povoado 21 de Abril, uma área cercada por invasões, que enfrentam problemas de infraestrutura causada pelo crescimento desordenado. Ao longo de todo o vale, onde anteriormente ficava o riacho, há lixo espalhado.
A vegetação foi derrubada e atualmente empreendimentos imobiliários de grande porte estão sendo levantados. "Essa área toda aqui era formada por mata densa e tudo foi derrubado, para que fossem feitos loteamentos. Primeiro foram as invasões e agora são obras, que estão devastando a parte de mata virgem local", disse o comerciante Loismar Marques.
Bacias hidrográficas x problemas
Rio Anil
Intenso processo de urbanização, assoreamento, desaparecimento de córregos e brejos, ocupação desordenada, atividades industriais e outros.
Rio Bacanga
Concentração de problemas de drenagem, ocupações desordenadas e poluição.
Rio Paciência
Poluição por esgotos domésticos, assoreamento do leito, exploração mineral com retirada de argila, construção e conjuntos habitacionais e outros.
Rio Tibiri
Construção de conjuntos habitacionais próximos, exploração de argila, presença do lixão de Paço do Lumiar próximo.
Rio Jaguarema
Intenso processo de urbanização por toda a bacia, erosão das margens, assoreamento do canal fluvial, poluição por esgotos domésticos, presença de grande quantidade de resíduos nas margens e leitos.
Abrindo o jogo
Para explicar e ponderar sobre os problemas ambientais causados pelo aumento da área ocupada e solo exposto na Ilha do Maranhão, O Estado procurou esclarecimentos dos consultores ambientais do Núcleo Geoambiental (NuGeo), da Universidade Estadual do Maranhão, José Amaro Nogueira e Jucivan Ribeiro Lopes. Com estudos a respeito dos recursos hídricos e sobre a ocupação do solo por toda a extensão da Ilha, eles corroboram com o alerta feito pelo estudo do Imesc e afirmaram que estão preparando uma análise com base nos dados do ano passado.
OEstado - Como ocorrem os impactos com a ocupação do solo?
Jucivan Lopes - O primeiro dano recai sobre as reservas de água, de solo e vegetação, a biodiversidade de animais e plantas. É preciso pensar em novas formas de aproveitamento da água, porque o crescimento urbano é quase inevitável, mas se pode pensar em modos para melhorar o abastecimento de água por exemplo.
OEstado - Como o senhor vê essa ocupação?
José Amaro Nogueira -A Ilha anteriormente era autossuficiente, com poços, como o Batatã e Rio Paciência, mas, com o boom imobiliário, está se complicando cada vez mais. O Batatã sofre com a escassez de chuvas, que se ocorressem pelo menos encheriam o reservatório para reter água. A gente vê que chove em São Luís e imediatamente a água escorre e vai toda para o mar. Isso ocorre porque as áreas de descarga estão totalmente dizimadas.
OEstado - Quais as consequências do desmatamento na Ilha?
José Amaro Nogueira - A gente pôde acompanhar nos últimos anos áreas como o Campo Ferroviário, a Cohama, o Cohafuma e os sítios no Turu, onde havia muita incidência de precipitações, que nesses locais está ocorrendo o desaparecimento dos lençóis freáticos.
A princípio havia os condomínios horizontais, que impermeabilizaram tudo e depois houve o crescimento vertical, que aumentou a sobrecarga de uso dos recursos hídricos. Um dos principais impasses é que não há um reaproveitamento da água consumida pelos condomínios habitacionais, o qual vai direto para o esgoto.
OEstado - E a situação das invasões, como tem afetado a Ilha?
José Amaro Nogueira -Na semana passada, uma denúncia enviada pelo NuGeo foi atendida pelo Batalhão Ambiental. Um grupo de grileiros invadiu um terreno na Pedra Caída, uma área próxima a um igarapé, com vegetação característica dessa região. Eles demarcaram tudo e fizeram reuniões para repartir o terreno. Contudo, muitos não vêm que isso é um tiro no pé. Quando chove, essas áreas ficam alagadas e a água invade casas. Já se viu muito isso em São Luís. Essa ocupação desordenada foi comum ao longo das duas últimas décadas e causou grandes problemas de infraestrutura e oneração da gestão dos municípios.
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