sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Aluísio Azevedo por Jean-Yves Mérian

 
Pesquisador francês vem a São Luís lançar segunda edição do livro Aluísio Azevedo: vida e obra, um estudo biográfico do autor maranhense.
 
Carla Melo
Do Alternativo
 
A segunda edição do livro Aluísio Azevedo: vida e obra (1857-1913), de autoria do brasilianista francês Jean-Yves Mérian e que chega ao mercado pelo selo da editora Garamond, será lançado hoje, às 19h, na sede da Academia Maranhense de Letras (AML). Na ocasião, o escritor e pesquisador proferirá palestra sobre o romancista de O mulato. A primeira edição da obra foi publicada em 1988 e está esgotada. Foi o resultado da tese de doutoramento do pesquisador pela Universidade de Altos Estudos da Bretanha, na França. Esta edição, no entanto, não é apenas a republicação daquela, visto que vem ampliada e revisada.
A ampliação se deu graças ao estudo de novas fontes primárias de pesquisa, bem como à visitação de Mérian ao trabalho de historiadores brasileiros como José Murilo de Carvalho, Rodolfo Vainfas, Lília Mortiz Schwarcz, Emília Viottida Costa, entre outros.
Para o autor, o livro, além de situar Aluísio Azevedo na sociedade de seu tempo, tem a ambição de relembrar a atuação do cidadão nos grandes debates do fim do império e início da República. No campo da literatura, talvez o grande mérito da obra seja o de questionar a divisão da obra do maranhense em grandes e pequenos romances. “Evidentemente, como toda obra literária, a de Aluísio Azevedo conheceu altos e baixos, em função das condições de exercício do ofício de escritor e, é claro, em função do público que queria conquistar”, explica Mérian na apresentação da segunda edição.
Esta é a terceira vez que Mérian visita São Luís. Da primeira vez em que ele esteve na cidade foi exatamente para proceder com as pesquisas para o seu livro. Aqui visitou cartórios, Arquivo Público, Biblioteca Pública Benedito Leite e fez entrevistas com diversos intelectuais da cidade. Rio de Janeiro, Buenos Aires e Lisboa foram outras capitais visitadas por Mérian a fim de compor seu trabalho. Na entrevista abaixo, o estudioso francês fala sobre o livro.

O Estado - Como nasceu seu interesse pela vida e obra de Aluísio Azevedo e o que o motivou a escrever o livro?
Jean-Yves Mérian - Como especialista em literatura brasileira na França, conhecia a obra de Aluísio, que me parecia o escritor mais representativo do fim do século XIX na abordagem dos grandes temas sociais e culturais do tempo: problemas ligados à permanência da escravidão, relações interraciais, condição da mulher na sociedade patriarcal, lutas entre clericais e anticlericais, liberdade de culto, problema do analfabetismo, luta a favor das ideias republicanas e positivistas. Decidi aprofundar o conhecimento sobre o papel exercido por Aluísio por meio de sua obra literária e jornalística. Como escritor realista-naturalista, ele tinha um compromisso implícito com as grandes questões de sua época. Foi um escritor comprometido, um lutador pelo progresso da sociedade.

O Estado - Trata-se de uma segunda edição, a primeira foi publicada na década de 1980. O que possibilitou esta nova impressão e como foram os preparativos?
Jean-Yves Mérian -Trata-se de uma nova edição totalmente revista e atualizada à luz de novos documentos que aborda, de forma mais exaustiva, os compromissos sociais de Aluísio Azevedo. A edição se inscreve nas comemorações do centenário da morte do autor e conta com o apoio da Biblioteca Nacional.

O Estado - Há diferenças entre a primeira e a segunda impressão do livro? Quais?
Jean-Yves Mérian - Na presente edição, procurei contextualizar de forma mais precisa a publicação dos romances e mostrar a importância dos romances folhetins na construção de sua obra literária, assim como sua grande popularidade na época.

O Estado - Em sua opinião, qual a importância literária de Aluísio Azevedo no cenário brasileiro?
Jean-Yves Mérian -Ele foi sem dúvida o escritor mais lido do seu tempo, até mais do que Machado de Assis, por quem ele tinha uma grande e sincera admiração. Ele foi o principal representante da corrente realista- naturalista no Brasil, embora outros escritores, como Raul Pompéia e Adolfo Caminha, também fossem importantes, se bem que pouco lidos. O caso do Machado de Assis é um caso à parte.

O Estado - O senhor é especialista no século XIX brasileiro e tem trabalhos publicados sobre a época. No campo da literatura e tendo como cenário o Maranhão, o que o senhor destacaria?
Jean-Yves Mérian - Aluísio Azevedo pertenceu a uma geração particularmente notável da produção literária maranhense: com o irmão Artur Azevedo, Joaquim Serra e Coelho Neto, foi um expoente das letras maranhenses e brasileiras, embora não tenha ofuscado a glória dos grandes maranhenses da geração anterior, como Gonçalves Dias e Sousândrade. É importante que seja lembrado por sua coragem e empenho em defender suas ideias por meio da literatura e do jornalismo, como também, pela luta em prol dos direitos autorais que pudessem permitir que um escritor podendo viver de sua pena, fosse independente do funcionalismo público. Aluísio Azevedo foi o primeiro escritor brasileiro que procurou viver do que escrevia.

Mais


Jean-Yves Mérian é natural da Bretanha, França, e professor emérito de Estudos Brasileiros da Universidade de Rennes 2. Grande parte de sua carreira transcorreu a serviço do Ministério das Relações Exteriores da França, tendo exercido funções de conselheiro cultural na Argentina, Brasil, e em Portugal. É especialista no século XIX brasileiro, com trabalhos publicados sobre o período, tanto no domínio da literatura brasileira como da história das ideias no Brasil.

Serviço


• O quê
Palestra e lançamento do livro Aluísio Azevedo: vida e obra (1857-1913), de Jean-Yves Mérian
• Quando
Hoje, às 19h
• Onde
Academia Maranhense de Letras (AML), Rua da Paz, Centro
• Preço do livro
R$ 70,00 no lançamento

Nenhum comentário: