domingo, 14 de novembro de 2010

Conto de Aluísio Azevedo vira quadrinhos


A Editora Peirópolis lançou recentemente, a obra Demônios, conto clássico de autoria do escritor maranhense Aluísio Azevedo. Adaptado pelo quadrinista gaúcho Guazzelli, o conto “Demônios” ganha sua versão em HQ pela Editora Peirópolis, após mais de 120 anos desde que foi publicado na primeira edição da coleção “Contistas e cronistas do Brasil”.

Partindo do despertar de um homem comum, um dos maiores prosadores do Brasil sugere o quão incrível podem ser os pequenos detalhes da rotina do protagonista. As imagens produzidas por Guazelli parecem convergir com a construção abstrata da narrativa na mente do leitor. Rostos expressionistas aparecem em algum lugar entre a aurora e o crepúsculo, onde diversos tons de anil e magenta são suficientes para despertar um sentimento além da empatia.

Conservando integralmente o texto do autor nas passagens escolhidas, o quadrinista sugere imagens sem apresentar trechos literais ou universos plenamente delimitados. Sua narrativa visual não se converte em apenas um registro mecânico ou uma versão empobrecida do texto. “Fiquei impressionado com a capacidade do autor de evocar imagens, o percurso do protagonista pelas trevas, a absurda sensação de despertar no meio da noite em meio ao maior dos silêncios, o terror absoluto gerado pelo próprio silêncio”, comenta Guazzelli sobre a obra.

Terror - Embora o conto seja pouco conhecido, sua linguagem é capaz de evocar imagens, proporcionando um amplo espaço para ilustrações. A estrutura do texto alcança a raiz mais profunda da narrativa de terror, trazendo à tona desafios interessantes para o quadrinista e questões interessantes para leitores mais atentos. Talvez isso se deva ao fato do próprio Aluísio Azevedo ter ganhado seu sustento como desenhista, quando trabalhava para periódicos cariocas em 1876.
“Demônios” é o mais intrigante dos contos do autor cuja narrativa fantástica propõe o desafio de construir ações que acontecem nas trevas, a qual também se converte num elemento facilitador para estabelecer ambiguidades e sugestões ao leitor. A riqueza imagética da obra, sua “narrativa em abismo” e seu desconhecimento, em especial por parte do público jovem e leitor de quadrinhos, foram fatores decisivos para a transposição da obra em HQ. “Em tempos velozes e imagéticos, a história em quadrinhos pode se transformar em um excelente convite para mergulhos mais profundos na obra de determinado autor”, finaliza o ilustrador.

Sobre o autor

Eloar Guazzelli é ilustrador, quadrinista, diretor de arte para animação e wap designer. Mestre em comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), foi premiado no importante Yomiuri International Cartoon Contest (1991), no Japão. Além desse, recebeu inúmeros outros prêmios em festivais de cinema, salões de humor e bienais de quadrinhos dentro e fora do Brasil. Gaúcho de Vacaria, é admirador do fantástico desde a adolescência. A partir de Poe, seguiu pela admirável trilha de Lovecraft, Quiroga, Borges, Cortázar, Simões Lopes Neto, entre outros, enquanto se deleitava com as conexões entre esse gênero literário e os primeiros ensaios da linguagem de HQ, com Windsor, McCay, Raymond, Breccia, Moebius e Frazzetta. Em 2009 ilustrou Maluquices Musicais, também da editora Peirópolis.

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