Anderson Corrêa
Da equipe de O Estado
Parafraseando Chico Buarque, "Viva Zeca, Alê, Bruno / Luiz e Aquiles, palmas para todos os instrumentistas / Salve Djalma, Nathália, Flávia / Lena, Luciana, Rita, Tássia / Robertinho, jovens à vista". Há tempos não se via no Maranhão a ascensão de tantos talentos na música como nos últimos tempos. Ao que parece, a cena musical maranhense tem bebido de outras fontes para se manter mais forte, para se rejuvenescer, a julgar por neófitos e por outros mais experientes, mas que só agora começam a despontar no mercado fonográfico. Contudo, estes mesmos que trazem o moderno não esquecem suas raízes.
A trilha que ecoa pela capital tem muito do contemporâneo, e também um pouco do que marcou a cidade durante tantos anos de existência. "São artistas com características próprias, mas universais, que não estão tão amarrados a elementos regionais, como os músicos dos anos 70 e 80 se mantinham. É impossível desvencilhar desses rastros culturais, quebrar tais barreiras, mas já se consegue conquistar outros espaços com essa música", frisou Aquiles Andrade, compositor que já foi gravado por diversos artistas locais, como Lena Machado, com quem recentemente se apresentou em show.
E por falar em Lena, seu disco "Samba da minha aldeia" é um exemplo de que as tradições populares maranhenses podem conviver com o universal. "Neste trabalho, as faixas compostas por maranhenses são entremeadas pelo toque de mina, pelo ritmo dos blocos tradicionais e pela batida dos Fuzileiros da Fuzarca. Mas isso não quer dizer que esse trabalho é porta-voz do folclore, mas sim valoriza a tradição, dialogando com o novo. É um disco multicultural", definiu a cantora.
Para a cantora Tássia Campos, que participou de bandas no início da carreira e está preparando seu primeiro trabalho solo, a cultura está arraigada em nós, o que torna difícil fazer uma dissociação, especialmente para ela que nasceu em um bairro festeiro, na rua do bumba-meu-boi de Leonardo. Mas as pessoas já vêem com bons olhos a novidade. "Fui hostilizada no começo porque tocava algo incomum, de fora. O mercado fechou as portas para mim. Foi então que procurei fazer outras coisas, mais recortes, algo mais universal, com uma linguagem poética menos clichê. Amigos me deram um sopro de esperança e vi que não estava tão sozinha", lembrou.
Mercado - Mas o mercado fonográfico ainda é muito escasso no Maranhão e limita, segundo os próprios músicos, de produções melhores ou ainda de grande divulgação. Bruno Batista, que há cinco anos vive no Rio de Janeiro, acredita que falta no estado uma maior noção de mercado. "A ausência de uma cena musical maranhense mais sólida, impede que bons trabalhos atinjam o público. Temos artistas ótimos, mas são poucos os que se articulam para mudar esse cenário", ressaltou ele que prepara novo trabalho com canções inéditas.
Bruno Batista cita a cidade de Recife, em Pernambuco, como um bom exemplo onde a cena musical é forte e o público valoriza seu artista. "Lá eles conseguem se subsidiar. Saem para outros estados, mas voltam. Ninguém migra em definitivo. O que nos falta", analisou. Zeca Baleiro, Flávia Bittencourt e Rita Ribeiro são alguns dos principais representantes da música maranhense no sul e sudeste do país. Ambos foram reconhecidos no estado depois de ganharem a estrada e serem aclamados pelo país a fora. "Em São Luís, os artistas locais só servem para entreter a platéia antes dos shows dos cantores nacionais, o que é um absurdo", critica Tássia Campos.
O produtor e violonista, Luiz Junior, com mais de 20 anos de carreira, afirma que no Maranhão o espaço para música é ainda pequeno e a culpa tem sido dos próprios artistas. "Nossa culpa porque não temos cuidado com a nossa carreira. Aqui são poucos os que conseguem viver exclusivamente de música; muitos têm outra função. Então começam a fazer um repertório apelativo para ganhar o público e vender. Por falta de uma produção mais elaborada o show acaba não agradando. Assim, os patrocinadores não vêem com bons olhos o trabalho e não ajudam", considerou.
Por já ter visto a música maranhense de todas as maneiras possíveis, Luiz Junior acredita que a música feita no Maranhão está vivendo um tempo de renovação. "Precisamos resgatar o público que se perdeu, renovar nosso repertório, ser mais audacioso na produção, principalmente na direção musical e artística. A maioria mantém o mesmo pensamento de vinte anos atrás. É necessário mudar para não ficar só na Ilha e atingir o Brasil", salientou o produtor.
Aquiles Andrade observa também que se fazem necessários projetos que estimulem as pessoas a apreciar tais músicas, especialmente as crianças. Ele lembra que desde criança teve contato com bons compositores, com músicas que não circulavam facilmente no mercado. "O ouvido da criança deve ser educado. As pessoas devem facilitar o contato desde esta idade. Na casa dos meus tios, havia vinis de artistas que não estavam entre os mais aclamados do país, mas que aguçavam meu gosto e provavam que existiam outras alternativas. Cresci ouvindo Gonzaguinha e hoje vejo minha música muito parecida com a dele, um tanto visceral", contou.
Instrumentistas são destaque
Luiz Junior cita também a falta de grandes festivais onde possam ser revelados novos e bons nomes da música. "O festival faz com que você realmente se prepare. Você é motivado a produzir algo bom para ser apresentado. O artista é obrigado a se profissionalizar. Somado a isso tem a grande mídia que massacra o artista e mostra o que é ruim", contou o produtor que já prepara dois eventos para mostrar o trabalho de gente nova. Um deles é o I Festival de Música Instrumental do Maranhão, que deve levar ao conhecimento do público nomes de jovens como Robertinho Chinês, que é considerado um das promessas da música instrumental.
Com apenas 16 anos, Robertinho Chinês já é mestre no que faz. Aprendeu, ainda criança, a tocar bandolin e cavaquinho com seu pai. Prestes a lançar seu primeiro disco que terá participações especiais, como o Clube do Choro de Brasília e o francês Nicolas Krassik, o jovem instrumentista já esteve no palco com Chiquinho França, Alcione e Zeca Baleiro.
"Se para os cantores o mercado é ruim, para os instrumentista é ainda pior. Grande parcela do público vai às apresentações para privilegiar os vocalistas e esquecem que com ele há um grupo, uma banda, tão importante quanto aquele”, diz ele.
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Lançamentos de discos vão marcar 2º semestre
O ano de 2010 novidades está sendo de novidades. Começou com a repercussão de “Todo Domingos”, de Flávia Bittencourt, no qual regrava composições de Dominguinhos com quem tem o prazer de fazer dueto em uma das faixas do CD. Houve também o lançamento de “Cine Tropical”, do Projeto Criolina, formado pelo casal Luciana Simões e Alê Muniz. Lena Machado preparou um álbum com sambas, choros e blues com compositores locais. “Samba da minha aldeia” foi elogiado pelo sudeste e emplacou uma das faixas em rádios do Rio de Janeiro, além de ter marcado presença no blog do crítico musical Nelson Motta.
Mas até o fim do ano boas surpresas devem chegar às rádios. Uma delas será “Salomé”, um tango que traz o verso “Eu posso ser o que você quiser que eu seja em sua vida, amor”. A música é uma das 12 faixas do CD estréia de Aquiles Andrade, que deve ser lançado em novembro. “Por ser compositor, não tenho uma exigência de uma leitura única no disco. Não apenas um ritmo; é bem variado. São temáticas universais que falam dos sentimentos humanos e de toda a realidade que o cerca”, contou Andrade.
Produzido por João Paulo, da banda Legenda, o primeiro álbum de Tássia Campos, ainda em fase de gravação, trará um recorte temporal do que vive a cantora. “Aposto muito no novo. Nunca me ative a gravar só o que é feito aqui”, disse ela que gravará músicas de compositores de outros estados. “O disco tem uma linha poética que faz com que as relações humanas sejam valorizadas. As canções de amor conseguem inquietar os ouvidos”, completou.
Um disco mais maduro, com composições escritas ao longo dos cinco anos em que esteve no Rio de Janeiro, é como define Bruno Batista o seu segundo trabalho fonográfico. “Um produto diferente daquele que lancei em 2004. Mais acústico, onde uso muito os instrumentos de corda para trazer aquele ar mais triste e melancólico às letras. O CD é esteticamente mais pesado, pois foi gravado em estúdio com a banda tocando ao vivo”, disse Bruno.
Outro destaque é o EP “Conforme prometi no réveillon”, do cantor Djama Lúcio, que está em fase de gravação. Ex-vocalista da banda Catarina Mina, o cantor previu o lançamento de quatro músicas. São elas: “Conforme Prometi no réveillon”, “Não quero dançar”, “Infiel” (com Breno Galdino/Fábio Abreu) e “Bar Central”.
Também estão previstos para novembro os lançamentos dos álbuns de Robertinho Chinês e Luiz Junior. Ambos os trabalhos devem ser apresentados ao público no I Festival de Música Instrumental do Maranhão. “O enfoque dos trabalhos é manter essa percussividade do folclore. Gosto de trabalhos que têm esses elementos que mantém a identidade maranhense”, finalizou Junior, que também é responsável pela direção musical do CD de Robertinho Chinês.
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