sexta-feira, 2 de julho de 2010

CLA apresenta nova torre de lançamento


Bruna Castelo Branco
Enviada Especial

ALCÂNTARA - A diretoria do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, apresentou, ontem, oficialmente a nova Torre Móvel de Integração (TMI), que se encontra com as obras em fase de finalização. A TMI foi elaborada para atividades com o Veículo Lançador de Satélites (VLS).
A apresentação ocorreu por ocasião da assinatura, na manhã de ontem, no CLA, do termo de entrega da área para o início das instalações físicas e sítio de lançamento da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), de onde será lançado o foguete de tecnologia ucraniana Cyclone 4 em meados de 2011. A previsão é de que a pedra fundamental do sítio seja colocada no dia 16 de setembro, em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a estrutura física já concluída, a nova TMI deve ser finalizada em dezembro. No momento, ainda falta o encadeamento dos sistemas eletrônicos para que sejam iniciados os testes. A previsão é de que todos os sistemas da nova torre comecem a ser testados entre os meses de outubro e dezembro. “Em outubro teremos aqui um VLS completo, apenas sem o motor de propelente. Esse protótipo será necessário para que se faça testes em todas as conexões. A obra será entregue em dezembro e em 2012 deverá acontecer o primeiro lançamento do VLS a partir da nova TMI e do Cyclone em parceria com outros países”, informou o diretor do Centro de Lançamento de Alcântara, tenente-coronel aviador, Ricardo Rodrigues Rangel.

Nova TMI - Segundo o coronel Rangel, apesar de ter a mesma aparência externa da antiga plataforma de lançamento, que foi destruída em 2003, a nova TMI tem um projeto bem mais complexo e seguro que o elaborado há 15 anos. Orçada em R$ 47 milhões, o novo formato priorizou ainda mais os sistemas de seguranças como, por exemplo, a Torre de Escape construída interligada ao sistema que permite várias possibilidades de sair do local em caso de um início de incêndio ou de algum incidente que seja necessário evacuar o local com mais agilidade. Com três formatos de escapes, sendo por escada, ferro de apoio ou queda livre, o projeto tem como foco permitir mais segurança aos técnicos durante uma operação de lançamento.

A quase finalização da TMI, apresentada em paralelo à assinatura do convênio entre o CLA e a ACS para a construção de um novo sítio de lançamento voltado, principalmente, para parcerias internacionais, legitima a importância do Centro de Lançamento de Alcântara para o Programa Espacial Brasileiro. Ainda este ano, o CLA deverá realizar lançamentos de pequeno e médio porte que servem de preparação para atividades maiores e ainda almeja possibilidade de expansão. De acordo com o coronel Rangel, na área atualmente ocupada pelo CLA há espaço para a construção de mais quatro sítios de lançamentos. “Esses sítios de lançamento são independentes ao que está sendo construído para o VLS e também para o da Cyclone Space”, comentou.

Assinatura do Termo é o primeiro passo para parcerias internacionais
Evento realizado ontem garante a construção de obras para a implantação do sítio de lançamento pela Cyclone Space.

A assinatura do Termo de Entrega da Área simboliza a concretização da presença da empresa binacional Alcântara Cyclone Space, em Alcântara. Após um impasse que retardou o projeto em dois anos, mudanças de área e novos atrasos para a liberação do início das obras, a empresa deverá começar os trabalhos em pouco tempo, ocupando uma área de 473 hectares dentro do CLA.

O diretor da parte brasileira da empresa e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, relembrou, durante a cerimônia, as dificuldades que o Programa Espacial Brasileiro enfrentou após o acidente de 2003. “De 2003 para cá, o nosso projeto espacial enfrentou dificuldades de toda ordem. O projeto só está dando certo por causa de nossa teimosia. Portanto, temos que continuar teimosos e temos tudo para ser uma grande potência”, afirmou Amaral.

Para ele, a data de ontem simbolizou uma conquista da nação brasileira de extrema importância para a segurança nacional e soberania. Roberto Amaral ainda fez questão de divulgar algumas datas previstas no cronograma de atividades da empresa, após a assinatura do termo. “ No dia 16 de setembro faremos o lançamento da pedra fundamental do nosso sítio. Em meados de 2011, mas precisamente no último trimestre, faremos o primeiro lançamento de qualificação do Cyclone 4 e em 2012 iniciaremos as atividades comerciais”, anunciou.

Acidente destruiu o VLS-1 na plataforma

O mais trágico acidente da história do Programa Espacial Brasileiro que aconteceu no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no município de Alcântara no Maranhão, destruiu o foguete VLS-1 e deixou o saldo de 21 mortos, no dia 22 de agosto de 2003. O acidente aconteceu com o foguete ainda em terra e todas as vítimas foram técnicos e engenheiros da equipe de manutenção que trabalhava na plataforma de lançamento. A explosão abalou o país e provocou graves repercussões na política espacial do Brasil.

As causas apontadas por peritos responsáveis pela investigação do acidente identificaram que uma descarga elétrica no interior do detonador tenha causado o acionamento dos propulsores do foguete. Não foi detectada falha humana, mas muitos peritos em tecnologia espacial identificaram que a falta de recursos pode ter prejudicado a segurança do projeto. Este foi o maior e mais grave acidente da história do Programa Espacial Brasileiro, que está em funcionamento desde os anos 50 e o primeiro com vítimas.

Cerca de US$ 12 milhões foram investidos nos três anos para realização da campanha de lançamento do VLS. Metade desse valor foi empregada na construção e desenvolvimento do foguete. Outros US$ 1,5 milhão foram usados no desenvolvimento dos dois satélites que estavam embarcados no VLS. A tragédia com o foguete - que tinha 19 metros de altura e pesava 50 toneladas, 47 dos quais correspondendo a combustível - poderia ter sido maior ainda se ontem tivesse sido um dia normal de trabalho.

Folga - A maioria dos 230 técnicos e engenheiros que trabalhavam diretamente na missão de lançamento estava fora da base em um dia de folga, depois de ter participado de uma operação de lançamento simulada no dia anterior foi considerada um sucesso por não ter sido detectado nenhum tipo de problema.

Na época, a Força Aérea Brasileira informou que as duas plataformas de lançamento - a do VLS e a de lançamento médio, que estão distantes cerca de 100 metros uma da outra – foram completamente destruídas pela explosão e os destroços foram derretidos pelo calor do combustível queimando. No momento da explosão, a temperatura chegou a dois mil graus.

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