quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Maranhão: porto seguro para o desenvolvimento

Estado esbanja fertilidade em suas terras, de onde brotam o babaçu e cobiçados minérios. Beleza atrai turistas


Poço Azul - Carolina (MA)


Não foi à toa que franceses, portugueses e holandeses guerrearam para dominar o Maranhão, ainda na primeira década dos anos 1600. Nascido entre rios e o mar, cedo fez riqueza com a habilidade de sua terra. Ganhou poder com o algodão, com a abundância do arroz e com o doce da cana. Mas com o passar dos anos, não resistiu à competição internacional, e hoje busca desenvolvimento na extração de minérios, na agropecuária e no turismo, principalmente. A agricultura familiar tem potencial, mas como a pesca e a cultura do babaçu, ainda é pouco explorada.

 

Porto de Itaqui é responsável por parte do escoamento do que é produzido no estado.

As siderúrgicas estão presentes. Bem localizado no mapa mundial, o Maranhão tem portos estratégicos e em expansão, de onde partem minérios, ferro gusa e soja em grande escala. A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo e segunda maior mineradora do planeta, com investimento de R$ 2 bilhões, vai instalar o Píer IV no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís, um dos dois únicos portos no mundo com condições de receber o navio Berge Stahl, com aproximadamente 365 mil toneladas.

Este navio, no mundo inteiro, só atraca em Roterdã, na Holanda, e na costa de São Luís, onde está também o Porto de Itaqui, responsável pelo embarque de mais de 105 milhões de toneladas no ano passado, a maior movimentação no País.


O Maranhão, com 640 quilômetros de costa litorânea, a segunda maior do Brasil, perdendo só para a Bahia, também é dono de um deserto encantador de fina areia branca de quartzo, e com a dádiva de incontáveis piscinas naturais, moradia de peixes coloridos. A beleza de suas dunas em forma de lençóis aquece o turismo. E também atraí investidores.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a empresa MPX Energia, do grupo brasileiro EBX, comandado pelo empresário Eike Batista, anunciou que vai aplicar R$ 8,5 milhões durante dez anos na estruturação e manutenção do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, criado em 1981, com 155 mil hectares e 70 quilômetros de praias desertas.


A capital do Maranhão, São Luís, com casarios preservados nas ruas estreitas por onde passou o Brasil Colônia, é outra potência: 3.500 construções, grande parte adornadas com os famosos azulejos de Portugal, tiveram valor reconhecido pela Unesco e desde 1997 são Patrimônios da Humanidade. Na última semana, o governo federal lançou o Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas, que só este ano vai investir, em 32 municípios, incluindo São Luís, R$ 140 milhões. Também este ano, São Luís foi eleita a Capital Brasileira da Cultura, título de reconhecimento internacional, que, entre outras vantagens, torna prioritária nos programas do governo a divulgação da cidade como destino nos mercado turísticos mais expressivos do mundo.


Festa do Boi retrata manifestação cultural do Maranhão

Com a fama de falar o português mais correto em território nacional, a população do Estado em 2007 somava 6.118.995 habitantes, 59,5% em áreas urbanas e 40,5% na zona rural. A taxa de analfabetismo funcional é de 33, 2% entre os moradores dos 217 municípios do Maranhão com mais de 15 anos de idade, segundo pesquisa do IBGE Síntese dos Indicadores Sociais 2009.

O Estado mede quase 332 mil quilômetros quadrados, grande parte ocupada por oito milhões de cabeças de gado. Tem até búfalos: atrás do Pará, é o segundo criador nacional. Estima-se que seu território abriga mais de 77 mil destes animais, com criação polêmica, ainda dependente de acertos ambientais e jurídicos. Parte da Floresta Amazônica que havia, praticamente desapareceu.

Na mira de grandes empresas, o Maranhão guarda hoje uma carteira de investimentos estimada em R$ 54 bilhões, sem somar com os 20 bilhões de dólares anunciados pela Petrobras, para a construção da refinaria Premium, até 2015, no município de Bacabeira.

Uma fábrica de papel e celulose do grupo Suzano também está por vir. Com interesses na extração mineral, pretende se instalar no Estado o grupo EBX, 100% brasileiro. A Companhia de Bebidas das Américas, AmBev, está ampliando suas fábricas no Maranhão, onde o grupo Ferroeste está desde a década de 1990, e agora quer construir uma termelétrica, no município de Açailândia.

Em 2008, o Ministério do Trabalho constatou a onda de crescimento no Maranhão, medindo a oferta de empregos no Brasil. Comparado com o ano anterior, o Estado foi o que mais gerou postos de trabalho no país. Foram 19.334 em apenas um ano: alta de 7,9%. Mas, de acordo com estudo Fundação Getúlio Vargas deste ano, a capital São Luís é a terceira com maior percentual de pobres do Brasil, depois de Maceió e Recife, em Alagoas e Pernambuco, respectivamente, apesar da valorização do seu Produto Interno Bruto (PIB) a partir de 2005, quando registrou o segundo maior crescimento no Brasil e o primeiro no Nordeste. Com ajuste de 7,3%, chegou a R$ 25,326 bilhões.

Para José Cursino Raposo Moreira, professor adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal do Maranhão e vice-presidente do Conselho Regional de Economistas no Estado, a expectativa é grande com os investimentos anunciados.

Ele disse que pelo menos três setores podem reforçar o crescimento no futuro breve: papel e celulose, ao lado do setor de reflorestamento; a siderurgia e o turismo. “A chegada da refinaria em Bacabeira vai proporcionar a vinda de outros investimentos durante sua construção e operação”, frisou o professor, alertando que é preciso o governo do Estado preparar mão-de-obra para consolidar a oferta de empregos.
“Com projetos de grande porte, a infraestrutura do Maranhão terá que desenvolver em cinco anos o que levaria dez para construir, por exemplo”, comparou o economista José Cursino, ao afirmar que o alumínio e a soja dominam as exportações no Estado. “O Maranhão é um corredor de exportações de matérias-primas”, disse ele, explicando que a Vale e a Alumar, formado pelas empresas Alcoa, Alcan e BHP Billiton, são os dois grupos que lideram as exportações de minérios. O professor também faz questão de ressaltar que a pecuária continua forte. “É um setor bastante avançado, referência em pesquisas sobre inseminação artificial, e em técnicas de corte e abate”.

O agronegócio também não faz feio. De janeiro a agosto deste ano, o Maranhão saltou duas casas no ranking dos Estados exportadores no setor. Saiu da 16ª posição para a 14ª, passando Pernambuco e Rondônia. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mostram que no mesmo período a balança comercial do Estado – diferença entre exportações e importações – registrou superávit de 285,8 milhões de dólares. Tocantins, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Piauí, Amazonas, Distrito Federal, Paraíba, Sergipe, Amapá, Roraima e Acre também ficaram atrás do Maranhão na balança exportadora do agronegócio.

Falta ao Maranhão, na visão do economista, um melhor ordenamento da exploração de suas riquezas naturais. Para ele, o Estado deve investir mais nos Arranjos Produtivos Locais. A cultura do Babaçu, segundo José Cursino, poderia ser bem mais rentável para as famílias da zona rural. Substâncias extraídas do vegetal servem até a indústria farmacêutica. Mas segundo o professor, o auge da exploração do Babaçu se deu entre as décadas de 1960 e 1970, depois perdeu espaço para a pecuária. As áreas foram cercadas para o gado. “O extrativismo do Babaçu é muito primitivo. Antes havia um centro industrial para processamento da amêndoa, mas hoje não existe mais”, informou, dizendo que a produção anual do Babaçu no Maranhão chega a 200 mil toneladas.


A cultura do Babaçu pode ser mais rentável para as famílias da zona rural

A pesca do caranguejo é outra potência mal explorada no Estado. “O Maranhão exporta muito caranguejo e peixe in natura para ser beneficiado no Ceará”, conta o economista, dizendo que o mercado do varejo genuinamente maranhense não é tão relevante. Ele se lembrou de um supermercado com cerca de 60 anos que acabou absorvido ao patrimônio do Bompreço. “O comércio varejista local perdeu espaço para as grandes lojas de departamento”, afirmou, ao avaliar que a economia do Maranhão ainda está abaixo do que sua potencialidade pode lhe reservar. “Eu espero que o crescimento venha se consolidar com todos os investimentos que estão sendo feitos no Estado atualmente”, disse, reconhecendo que o governo tem feito a sua parte.

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