sábado, 17 de setembro de 2016

Vinhais Velho, 422 anos


DOS 422 ANOS DA VILA (VELHA) DE VINHAIS

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UM DISCURSO, UMA CERTEZA… DOS 422 ANOS DA VILA (VELHA) DE VINHAIS


Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Academia Ludovicense de Letras


O IHGM, em evento recente, (re)lançou “Dois estudos”, de José de Ribamar Caldeira[1], por ocasião da doação de sua biblioteca àquela instituição de pesquisa e guardiã da memória/história do Maranhão. No primeiro, o Discurso de Japi-açu e Momboré-uaçu é o que nos interessa.
Ao transcrever – e analisar – os dois discursos, dá-nos informações de que A “ilha de Maranhão” e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. É de 1612 a informação da chegada dos Tupinambá à ilha grande do Maranhão, dada pelos primeiros contatos dos capuchinhos e os índios; estes ainda se lembravam da chegada à região. Claude d’Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580:
Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […] (Abbeville, 1614, p. 261) [2].
Os discursos dos dois índios Tupinambás aparecem nos capítulos XI e XXIV da crônica “História da missão dos padres capuchinos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”, de Claude d’ Abbeville (1975).
Em seu discurso, Japi-açu [3][…] alude ao domínio dos portugueses, que os forçou a abandonar sua terra (Pernambuco e Potiu) e a refugiar-se aqui (Upaon-açú). A aversão dos Tupinamba maranhense aos portugueses era profunda e antiga. Remontava ao começo do século XVI, quando eles se transferiram de outras partes do Nordeste para o Maranhão. Logo após terem aqueles europeus se estabelecido nelas. Conforme Caldeira (2004, p. 16), relato desses acontecimentos se encontra em Abbeville, capítulo XVIII:
[…] Abbeville conta que, em visita à aldeia de Eussauap, onde fora erguida uma cruz, e não obstante o bom acolhimento por parte de seus habitantes, a  certa altura, quando estavam reunidos na casa grande, tomou a palavra um velho indígena, de mais de 180 anos, e disse de sua desconfiança para com a manifestada boa intenção dos pai (mair), os franceses, pois que assim também se haviam os perós em Caeté e Potiú (Rio Grande do Norte), como ele próprio, Momboré-uaçu, testemunhara. (CALDEIRA, 2004, p. 28)
Alfred Métraux (1927, p. 6-7) [4] cita outras narrativas concordantes com a de Claude d’Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) [5] que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi (DAHER, 2004) [6]:
[…] (para escaparem do convívio com esses colonizadores (portugueses) (…) optaram por migrar para Oeste – em busca da Terra sem males – fixando-se no Maranhão após terem combatido e expulsado para distante de si outros grupos indigenas por eles aí encontrados […] (CALDEIRA, 2004, p. 16).
Caldeira (2004, p. 18) afirma que os franceses incluíram visitas constantes de alguns de seus líderes às aldeias, nas quais pronunciavam discursos louvando as virtudes dos franceses e estimulando o ódio dos índios pelos portugueses, além de promessas de proteção aos indígenas contra estes, e orientação e assistência religiosa.
Eram encarregados de tais pronunciamentos, sobretudo Françoise de Rasilly […] e Charles dês Vaux aventureiro huguenote que estivera no Maranhão por longo período de tempo no final do século XVI e que fora um dos principais incentivadores, junto à corte francesa, para a organização de expedição destinada à instalação da França Equinocial […][7]
Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan – natural de Vienne, no Delfinado,  e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas.
Em 1583, dois capitães franceses disseram a sir Walter Ralegh conhecer o Maranhão, mas nunca se saberá se se tratava do Maranhão ilha ou do Maranhão rio.
Era tão forte a presença francesa que muitos recantos de nossa costa foram batizados com nomes como porto Velho dos Franceses e porto Novo dos Franceses (ambos no Rio Grande do Norte), rio dos Franceses (na Paraíba), baía dos Franceses (em Pernambuco), boqueirão dos Franceses (em Porto Seguro), ou praia do Francês (próximo à atual Maceió, em Alagoas). Outro ponto no qual os navios normandos ancoravam com muita freqüência era a praia de Búzios, no Rio Grande do Norte, a cerca de 25 km ao sul de Natal. Ao porto localizado na praia de Búzios podiam “surgir navios de 200 toneladas”. Os franceses usavam o porto da desembocadura do rio Pirangi (aproximadamente 25 km de Natal) para o “resgate do pau” como os portugueses se referiam aos locais de corte e estocagem de pau- brasil.
Já em 1594, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luis, no Maranhão. Junto com Charles des Vaux aporta na Ilha Grande, atual Ilha de São Luis, no Maranhão[8]. O navio de Jacques Riffault naufraga nos baixios da ilha, mais tarde denominada Sant´Ana.
Riffault e Des Vaux aqui desembarcados fundam um estabelecimento que se tornou o “refúgio dos piratas”. Mas para os seus planos, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial.
Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) [9] -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe[10], de La Rochelle[11] e de Saint Malo[12]. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas.
Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira[13], que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba[14], os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba[15], reduto de Migan.
Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34)  [16] traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil.
Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza[17] recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava:
“[…] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios” e “fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem“.
Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux  ficara em terra conquistando a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua.
O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras, no porto do Rifoles – na margem direita do Rio Potengi; nos dois ataques à Fortaleza do Cabedelo, na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597. Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu.
Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará[18], sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado francês. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá.
Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de  agosto de 1612 vêem fundear frente  a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue[19], ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur[20] e Dieppe; o Duque de Buckigham[21] e o conde de  Pembroke[22] e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos[23].

Para Noberto (2016):
 […] O Forte Sardinha, edificado em local estratégico, elevado e fronteiro ao porto de Jeviré, dava proteção a este ancoradouro (onde atualmente acontece desembarque de quem chega de Alcântara), à feitoria implantada pelo capitão Jacques Riffault e pelo imediato Charles d’Esternou des Vaux, e à povoação onde residia o tradutor e parente do governador de Dieppe, David Migan, no atual Vinhais Velho. E vigiava também a entrada do rio Anil, principal via aquática para o interior
[…]
O nome Ilhinha, aliás, sugere o óbvio, que toda aquela região formava uma pequena ilha, pois margeada por um lado pelo Igarapé da Jansen, que no início dos mil e seiscentos ficou conhecido como rio da Olaria, que se juntava a Lagoa, ao Renascença e ao Jaracati, até se encontrar com o rio Maioba ou Cutim, que mais tarde receberia o nome de rio Anil, ao pé da ponte Bandeira Tribuzzi. A pequena ilha era o abrigo ideal contra invasões, pois enquanto dificultava qualquer ataque inimigo, permitia escape para o interior da Ilha Grande em direção à aldeia de Uçaguaba, que se tornou a Miganville do tradutor francês David Migan, primeira povoação europeia do Maranhão e de toda a região.
Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d’Areia).
É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o “chefe dos negros” (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era “parente do governador de Dieppe”. Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.
detalhe do mapa holandês atribuido a Franz Post. A seta azul aponta para a localização do forte de São Francisco, antigo forte Sardinha dos franceses – noberto, 2016
Noberto (2016)[24] lembra que àquela época o Brasil setentrional era completamente abandonado pelos portugueses, no território que se estendia da povoação de Natal, no Rio Grande do Norte, até a região amazônica, que no dizer do ilustre historiador maranhense João Lisboa, no Jornal do Tímon: “era um completo abandono (…) e os donatários régios de Portugal e Espanha estavam incorrendo nas penas de comisso”:
Abandonada a região pelos lusos, desde a primeira metade dos anos mil e quinhentos os gauleses da Bretanha e da Normandia se apresentavam como os maiores frequentadores da Ilha do Maranhão, sendo ilustrativa a carona que os sobreviventes da grande expedição de Aires da Cunha, naufragada em 1536 no litoral maranhense, pegaram com os franceses para retornar à Portugal, pois estes é que faziam do Maranhão o principal locus de apoio à intensa movimentação existente entre o Amazonas e os portos franceses de Rouen, Dieppe, La Rochele, Saint Malo, Cancale e Havre de Grace. No final daquele século eles começaram a se fixar na Ilha Grande. O naufrágio da esquadra do capitão Jacques Riffault por volta de 1594 no Golfão Maranhense foi determinante para a ocupação, que ali edificou uma feitoria (le comptoir) nas imediações da Ponta da Areia. Muitos náufragos e novos moradores da Ilha se amasiavam com as índias e iam residir nas aldeias, que totalizavam vinte e sete, conforme a descrição do escritor capuchinho Claude Abbeville.
Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1992) [25] apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz[26], cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno[27] durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha  dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola:
 “[…] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[…].(NOBERTO SILVA, 2011).
Continuemos com Noberto Silva (2011) [28]:
[…] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.
Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d’Evreux de “o sítio Pineau” em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia.
Era desse lugar que partia o protagonismo francês para outras regiões como a Amazônia e a serra da Ibiapaba. Foi deste pequeno núcleo maranhense que uma equipe liderada por Charles des Vaux e Adholphe de Montville partiu para criar um povoamento na Serra Grande, onde hoje está a cidade de Viçosa do Ceará, pois os mesmos tinham laços de amizades com os indígenas daquela região. Sobre esse momento o escritor cearense Gilton Barreto na sua obra História, fatos e fotos de Viçosa do Ceará (Fortaleza, 2006) escreveu que “Por volta do ano de 1590, estabeleceram-se na Serra Grande franceses provenientes do Maranhão (…). Deu-se ao lugar um certo perfil urbano com alinhamento de casebres e ruas, dentre estas a Rua de Paris (…) e a Rua Pedra Lipse…”. Deste longínquo período restaram naquele lugar as duas ruas mencionadas. A última delas dá acesso à Igreja do Céu, no topo da montanha e um dos lugares mais visitados de Viçosa e da serra da Ibiapaba.(NOBERTO, 2016)
Segundo Noberto (2016), a França Equinocial compreendia metade do Brasil atual, estendendo-se do Ceará ao Amazonas, esse evento de passagem das chaves da fortaleza de São Luís, de mãos francesas para mãos portuguesas, representa um dos acontecimentos mais importantes da América de todos os tempos, pois ali estava sendo decidida a sorte de metade do território brasileiro:
Em 1607 o jesuíta Luiz Figueira recebeu informações dos selvagens que retornaram do Maranhão para a Ibiapaba. Ele as anotou assim na sua conhecida Relação do Maranhão:
[…] acerca dos franceses que tínhamos por novas que estavam assentados com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio Maranhão. Uma destas era o Forte Sardinha (le fort Sardine) […]. O quartel francês era comandado por um português, que emprestou seu nome ao forte, e trabalhava para bretões e normandos. Foi ali defronte, no porto de Jeviré, que a esquadra fundadora aportou em 1612. (NOBERTO, 2016).
Japi-açu, através de Migan, convida Françoise de Rasily para ter com ele em sua aldeia para tratar de assuntos importantes; lá Japi-açu diz que já estavam começando, os indígenas, a se aborrecer por não chegarem os guerreiros franceses sob o comando de um grande morubixaba; que já tinham resolvido abandonar a região com receio dos perós. Afinal, já estavam cansados de negociar com os naturais de Dieppe, “pobres marinheiros e negociantes” [29], que lhes prometiam a vinda de um grande chefe para os proteger dos portugueses:
[…] o orador (Japi-açu) percebe que os integrantes da frota destinada a instalar a França Equinocial não eram ‘pobres marinheiros e negociantes’ – como os que viviam no Maranhão entre os indígenas desde o final do século XVI -, ‘nossos bons amigos’, referindo-se àqueles que viviam desde certo tempo entre os Tupinambá […] mas um exercito de ‘bravos soldados’ para a defesa contra os inimigos […]
Do discurso de Momboré-uaçu – capitulo XXIV, intitulado Do que ocorreu em Eussauap durante a nossa visita, acontecida num domingo (20 de outubro de 1612…), após a realização de missa à qual compareceram os “habitantes de Eussauap juntamente com os franceses– este afirma que vira a chegada dos perós em Pernambuco e Potiú; e da mesma forma que com os portugueses, aconteceu com os franceses:
[…] Da primeira vez que vieste aqui, vós o fizeste somente para traficar […] nessa época, não faláveis em aqui vos fixar; apenas vos contentáveis em visitar-nos uma vez por ano, permanecendo entre nós somente durante quatro ou cinco luas.     Regressáveis então a vosso país, levando os nossos gêneros para trocá-los com aquilo de que carecíamos. […] Agora já nos falais de vos estabelecerdes aqui, de construirdes fortalezas para defender-nos contra os nossos inimigos […] trouxeste um morubixaba e vários Paí […] depois da chegada dos Paí, plantastes cruzes […](CALDEIRA, 2004, p. 38, in ABBEVILLE, 1975, p. 115-115).
Poucos meses depois – prossegue Noberto (2016) -, o então ativo complexo bélico-portuário-comercial sob a proteção do Forte Sardinha foi esvaziado e substituído pelo momento oficial estabelecido no Maranhão da França Equinocial pelos generais La Ravardière e Razilly:
O primeiro conjunto de leis das Américas, promulgado na Praça do Forte no dia primeiro de novembro de 1612, que previa pena de morte, dentre outras coisas, não permitia desobediências dos antigos ocupantes franceses do pequeno reduto, pois tudo e todos estavam sob as ordens do reino da França. Alguns permaneceram na Ilha a serviço do Rei, sob as ordens do governador Daniel de la Touche. As ações, a partir de então, migraram para o novo locus no promontório mais alto onde a cidade de São Luís foi implantada, na atual Praça Pedro II, local escolhido pelos novos senhores da terra para levantar a cidadela de São Luís.
Tem-se, pois, que a ocupação do Maranhão com o estabelecimento de uma povoação ininterruptamente ocupada por europeus, em especial, franceses, se deu em 1594, com o estabelecimento de Miganville, mais junto á aldeia de Uassap –  Eussauap – hoje, Viva Velha de Vinhais; e a missa, celebrada aquela primeira, se deu na capelinha ali construída, e rezada a missa no dia 20 de outubro de 1612…
Na falta de uma data fixada naquele ano de 1594 – seria março? – comemora-se os 422 anos da ‘fundação’ de Miganville/Onçaguaba – Uassap –  Eussauap/Aldeia da Doutrina (1617 ou 1622, dos Jesuítas)/Vila (Nova) de Vinhais (1755-1835)… Temos o dia 20 de outubro como data de comemoração, quando dos 404 anos da primeira missa rezada e chantada a cruz…
1978
1973
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rASSILY
[1] CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. DOIS ESTUDOS: os discursos de Japi-açu e Momboré-uaçu e Vdiagem no Maranhão, 1800-1850. São Luis: EDUFMA, 2004
[2] ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.
Daher, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, Horiz. antropol. vol. 10 no. 22.  Porto Alegre.  July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004
[3] Japi-açú era ‘o primeiro e o maior morubixaba não somente da aldeia, mas ainda de toda a Ilha Grande’, conforme Abbeville, 1975, p. 141.
[4] MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por Daher, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, Horiz. antropol. vol. 10 no. 22 Porto Alegre.  July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004   NOBERTO DA SILVA, Antonio.  São Luís antes da fundação. in ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 3, julho a setembro de 2016, p. 237-240, pré-print.  Palestra apresenta por ocasião das comemorações dos 404 anos de fundação de são Luis, promovida pela Academia Ludovicense de Letras, em 8 de setembro, na casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche.
NOBERTO DA SILVA, Antonio.  São Luís antes da fundação. in JORNAL PEQUENO, São luis, 8 de setembro de 2016
NOBERTO DA SILVA, Antonio.  São Luís antes da fundação. in O IMPARCIAL, São Luis, 8 de setembro de 2016
[5] http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf
[6] DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, Horiz. antropol. vol. 10 no. 22 Porto Alegre.  July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004
[7] VER Abbeville, 1975, p. 23 e 27
[8] http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html
[9] Não seria POTE –
[10] Dieppe ou, na sua forma portuguesa, Diepa[2] é uma comuna francesa na região administrativa da Alta Normandia, no departamento do Sena Marítimohttps://pt.wikipedia.org/wiki/Dieppe
[11] La Rochelle[2] [3] [4] [5] (raramente aportuguesada como Rochela ou Arrochela[6] ) é uma comuna francesa, situada no departamento de Charente-Maritime, na região de Poitou-Charentes.[7] Foi um importante porto no período colonial, junto com HavreHonfleur e Bordéus. https://pt.wikipedia.org/wiki/La_Rochelle
[12] Saint-Malo (BretãoSant-Maloù) é uma comuna francesa situada no departamento de Ille-et-Vilaine, na região Bretanha. https://pt.wikipedia.org/wiki/Saint-Malo
[13] Luís Figueira (1574 ou 1576, AlmodôvarPortugal – outubro de 1643, Ilha de JoanesBrasil colônia), foi um padre jesuíta de destacada atuação no Brasil colonial. Foi autor de uma das primeiras gramáticas da língua tupi, denominada Arte da Lingua Brasilica. Entre 1607 e 1608, acompanhou Francisco Pinto e 60 índios numa trágica expedição ao Maranhão. Inicialmente chegaram a uma aldeia na Chapada de Ibiapaba (atual Ceará), e dali seguiram à aldeia de Jurupariaçu, onde receberam notícias sobre a presença de franceses e índios hostis.[2] Dali partiram para o Maranhão, mas foram atacados por índios, instigados pelos franceses. O padre Francisco Pinto foi morto pelos indígenas em 10 de janeiro de 1608; Luís Figueira conseguiu escapar e foi depois resgatado por outro jesuíta, Gaspar de Samperes, regressando a Pernambuco. Estes fatos são bem conhecidos pela Relação do Maranhão, escrita por Luís de Figueira em 1609, na qual são descritos em detalhe as peripécias da viagem.  https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Figueira
[14] O topônimo “Ibiapaba” é oriundo do termo tupi yby’ababa, que significa “terra fendida” (yby, terra + ‘ab, cortar + aba .
Serra da Ibiapaba, também conhecida como Serra GrandeChapada da Ibiabapa e Cuesta da Ibiapaba, é uma região montanhosa que localiza-se nas divisas dos estados do Ceará e Piauí. Uma região atraente em riquezas naturais que já era habitadas por diversas etnias indígenas. Os povos que viviam já negociavam diversos produtos naturais com povos europeus, tais como os franceses, antes mesmos da chegadas dos portugueses. Habitada inicialmente por índios tabajaras e tapuias, como a índia Iracema que se banhava na bica do ipu foi bastante retratada no livro Iracema de José de Alencar. A cidade mais antiga da serra é Viçosa do Ceará, que foi colonizada pelos jesuítas da Companhia de Jesus a partir do século XVI. Também encontram-se as cidades do TianguáUbajara – onde existe a Gruta de Ubajara.  https://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_de_Ibiapaba
[15] Segundo Capistrano de ABREU ,  “EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes”. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre  José de Morais, está Uçagoaba,  que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”. ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS.  Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975
[16] MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982
[17] Pero Coelho de Sousa foi um explorador português, oriundo dos Açores, primeiro representante da Coroa a desbravar os territórios da capitania do Ceará no início do século XVII. Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de Capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que a anos atuavam na capitania do “Siará Grande”. Após uma série de lutas, conquistou a região da Ibiapaba vencendo os franceses e indígenas. Depois dessa vitória ele tentou entrar mais na região na direção do Maranhão, mas devido à rebelião de seus homens, retornou à barra do rio Ceará onde ergueu o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Coelho_de_Souza
[18] Viçosa do Ceará é o primeiro município criado na Serra da Ibiapaba, inicialmente habitada por índios Tabajaras pertencentes ao ramo Tupianacéarariú ecroatá do ramo Tapuia. Viçosa foi antiga aldeia de índios dirigida por padres da Companhia de Jesus(Veja Missão da Ibiapaba). Foi desbravada ao findar o século XVI, quando do contato dos índios com os franceses, vindos do Maranhão entre 1590 e 1604, data em que foram expulsos por Pero Coelho de Sousa, quando este fazia tentativas de colonização portuguesa no Ceará.. https://pt.wikipedia.org/wiki/Vi%C3%A7osa_do_Cear%C3%A1

[19]  Jan de Moor, burgomestre de Flessingue, dirigia uma companhia de conquista na Amazônia. Jayme I, da Inglaterra, concedia cartas-patentes a John Rovenso, Thomas Challomer e Roberto Marcourt, para o senhoreamento da região entre o Essequibo e o Amazonas. http://www.brasiliana.com.br/obras/pontos-de-partida-para-a-historia-economica-do-brasil/pagina/73

[20] Honfleur é uma comuna francesa na região administrativa da Baixa-Normandia, no departamento Calvados. https://pt.wikipedia.org/wiki/Honfleur
[21] Os títulos de Marquês e Duque de Buckingham, referindo-se à Buckingham, foram criados várias vezes nos pariatos InglaterraGrã-Bretanha, e no Reino Unido. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ducado_de_Buckingham
[22] El Condado de Pembroke, asociado con el Castillo de Pembroke, en Gales, fue creado por el rey Esteban de Blois. En varias ocasiones la línea se extinguió y el Condado hubo de ser recreado, empezando la cuenta de nuevo con el primer nuevo conde. El 1 de septiembre de 1533Enrique VIII, ascendió a su esposa Ana Bolena creando para ella el rango de marqués de Pembroke,1 en señal de honor, ya que su tío abuelo Jasper Tudor había sido Conde de Pembroke y el padre de Enrique VIII, Enrique VII, había nacido allí. Ana Bolena, reina consorte de Inglaterra por su matrimonio con Enrique VIII y primera marqués de Pembroke. El actual conde también ostenta el título de Conde de Montgomery, creado en 1605, para el hijo más joven del Henry Herbert, II conde de la octava creación antes de que él ascendiera como IV conde en 1630. Los actuales condes ostentan también los títulos subsidiarios de Barón Herbert de Cardiff, de Cardiff, en el Condado de Glamorgan (1551), Barón Herbert de Shurland, de Shurland, en la Isla de Sheppey, en el Condado de Kent (1605), y Barón Herbert de Lea, de Lea, en el Condado de Wilts (1861). Todos están en el rango de nobleza de Inglaterra excepto la Baronía de Herbert de Lea, que está en el rango de nobleza del Reino Unido. La sede familiar está en la Casa Wilton, en Wiltshire. https://es.wikipedia.org/wiki/Condado_de_Pembroke
[23] Palos de la Frontera é um município da Espanha na província de Huelvacomunidade autónoma da Andaluzia. https://www.google.com.br/?gws_rd=cr&ei=NLTMVuXUKMTFwASa5I2ICQ#q=Palos

[24]   NOBERTO DA SILVA, Antonio.  São Luís antes da fundação. in ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 3, julho a setembro de 2016, p. 237-240, pré-print.  Palestra apresenta por ocasião das comemorações dos 404 anos de fundação de são Luis, promovida pela Academia Ludovicense de Letras, em 8 de stembro, na casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche.

[25] PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS –  os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SIOGE, 1992.
[26] João Teixeira Albernaz, também referido como João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira Albernaz, o Velho (Lisboa, último quartel do século XVI — c. 1662), para distingui-lo do seu neto homónimo, foi o mais prolífico cartógrafo português do século XVII. A sua produção inclui dezanove atlas, num total de duzentas e quinze cartas. Destaca-se pela variedade de temas, que registam o progresso das explorações marítimas e terrestres, em particular no que respeita ao Brasil. João Teixeira Albernaz I pertenceu a uma destacada família de cartógrafos cuja actividade se estende desde meados do século XVI até ao fim do século XVIII, incluindo o seu pai Luís Teixeira, o tio Domingos Teixeira, o irmão Pedro Teixeira Albernaz e o neto João Teixeira Albernaz, o Moço além de Estevão Teixeira. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Teixeira_Albernaz,_o_Velho
[27] Diogo de Campos Moreno (Tânger1566 – 1617) foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o “Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil” (1612) e a “Jornada do Maranhão” (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno
[28] SILVA, Antônio Noberto. O Maranhão francês sempre foi forte e líder. In http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/,  05/11/2011 14h25 05/11/2011 14h25. Ver também:
EVANDRO JUNIOR. :  Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida. IN  Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11, disponível emhttp://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-la-france.html .

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