terça-feira, 27 de outubro de 2015

O ator maranhense Dionisio Neto se divide entre cinema, teatro e televisão

Dramaturgia à flor da pele

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Radicado em São Paulo, o maranhense Dionisio Neto, que está em cartaz com a peça “Desamor”, de Walcyr Carrasco, se dedica ao cinema, teatro e TV; ele está no elenco de “Meu amigo hindu”, de Hector Babenco, filme que estreará ano que vem

O ator Dionisio Neto se divide entre cinema, teatro e televisão
O ator Dionisio Neto se divide entre cinema, teatro e televisão (Foto: Nelson Aguilar)
O ator, dramaturgo e diretor maranhense Dionisio Neto, radicado em São Paulo há anos, tem trilhado uma carreira consolidada, especialmente no teatro. É autor de várias peças e no cinema atuou em papéis coadjuvantes de longas como "Contra Todos", de Roberto Moreira; "Garotas do ABC", de Carlos Reichenbach; e "Carandiru", de Hector Babenco. Com este último, gravou ainda “Meu amigo hindu”, previsto para chegar às telonas ano que vem. Em 2010, iniciou com Walcyr Carrasco uma parceria de sucessos teatrais com os espetáculos “Seios” e “Desamor”. Em entrevista exclusiva para O Estado, Dionisio Neto fala sobre sua carreira, planos para o futuro e também sua relação com São Luís, lugar onde nasceu.
Você está há um tempo em cartaz com a peça “Desamor”, de Walcyr Carrasco. Fale sobre este trabalho, de como surgiu a parceria e de que trata a peça.
Em 2009, eu era proprietário de um pequeno teatro em São Paulo - O Inflamável. Entre o acervo da Companhia Satélite que eu dirijo há 20 anos, havia um banco desenhado pelo arquiteto Rodrigo Cerviño Lopez, do espetáculo “Desconhecidos”, de minha autoria (publicado no livro “Cinco Peças”, Ed. Giostri). Era um banco muito lindo e como a peça havia terminado, não quis me desfazer do banco. Resolvi criar o "Festival do Banco". Enviei um convite para alguns dramaturgos pedindo uma pequena peça para dois atores e um banco. Um dos dramaturgos era o Walcyr Carrasco que enviou "Seios". Foi a melhor peça e a única que montamos. Walcyr não só foi ver a peça várias vezes como escreveu "Desamor" para abrir "Seios", por livre e espontânea vontade, escrita especialmente para mim. Um presentão. Além disso, me convidou para a novela "Morde e Assopra". A peça é sobre um taxista homofóbico que faz michê com os passageiros. Ele está em um bar e conversa com este passageiro imaginário que através de uma boa ação fez com que o amargo taxista questionasse toda sua vida. Quando o texto chegou para mim eu chorei muito. Sabia que a peça seria um sucesso, apesar de falar de um tema espinhoso, acaba sendo uma peça cristã.
Você também tem feito trabalhos no Cinema, a exemplo de “Mundo cão”, de Marcos Jorge e “Meu Amigo Hindu”, de Hector Babenco, entre outros. Quais são seus planos para a Sétima Arte, o que podemos esperar?
Além desses filmes que você falou - que não posso comentar nada por questões contratuais -, também fiz "Carandiru", "Contra Todos", "Garotas do ABC". Foram papéis pequenos, mas marcantes. Em curta-metragem protagonizei "Araucárias", de Marcio Lovato, e o inédito "Dramáticos Demais", de Ivan Feijó, que produzi em esquema de cooperativa. Não tivemos dinheiro para o filme e todos os que trabalharam nele viraram sócios. É adaptado da primeira parte da minha peça "Desconhecidos" (também publicada no meu livro de peças à venda nas melhores livrarias do Brasil). Escrevi dois roteiros que estão em fase de captação: "Classe Média" e "Perpétua". Serão meus primeiros protagonistas no cinema. No teatro eu já fiz inúmeros protagonistas, mas no cinema e na TV ainda não. É um desejo que eu tenho, o de protagonizar filmes e novelas.
E na TV?
Na TV, fiz pequenos e marcantes papéis também em "A Favorita", de João Emanuel Carneiro a convite do Ricardo Waddington onde fazia o namorado da Giulia Gam, o Tito, um traficante barbudo da pesada e "Morde Assopra", de Walcyr Carrasco, onde fiz o Dr. Aquiles, o advogado. Contracenei com o elenco inteiro, foi uma grande experiência, minha primeira novela inteira, contracenando com todo tipo de ator. De Cássia Kiss ao saudoso Paulo Goulart. Aprendi muito sobre este veículo. Também fiz participações em "Cidadão Brasileiro", da Record e em duas séries: “O Negócio”, da HBO, e “Copa do Caos”, da MTV. Estou pronto para papéis maiores e mais complexos e desafiadores como os que venho fazendo no teatro. E quem sabe um dia eu não faço meu próprio projeto na TV?
Para você, que transita com facilidade nos três meios – TV, teatro e cinema – qual te dá mais prazer? E sobre as dores e delícias de cada um, que tens a dizer?
Todos os veículos me dão prazer. Não importa o veículo e sim a qualidade do personagem e do trabalho. A diferença é que fazer uma novela na Globo dá uma visibilidade tremenda. Uma vez fui aos Lençóis Maranhenses e uma mulher que nunca tinha saído de lá me reconheceu da novela “Morde e Assopra”. A reação dela foi tão pura, me deu um abraço que até hoje eu lembro. A investigação do personagem é a mesma nos três veículos, muda a forma de atuar. Na TV tem-se menos liberdade por ser uma indústria, não há quase ensaio nem direção, quase não há "processo", é tudo no susto. Mas essa é a graça. O teatro é o campo da liberdade maior. No teatro, eu sou produtor também, então faço o que quero. E no cinema eu me aproximo da grande arte. Gosto de todos, contudo como disse, os meus grandes personagens na TV e no cinema estão chegando. É uma questão de tempo. E de sorte.
Você é maranhense, mas está fora há bastante tempo... Qual sua relação com o estado? E na esfera artística, tens algum vínculo ou pretendes ter?
Eu sempre vou a São Luís desde criança. Minha última viagem foi para conhecer meu pai biológico, aos 40 anos - Raimundo Assub. É uma história de novela, quem sabe um dia vire uma. Eu soube dele por acaso, em pleno domingo de Carnaval, em uma praia deserta em Aracaju (SE). Encontrei meus primos por uma rede social. Fui a São Luís, fizemos o exame de DNA e três meses depois ele faleceu. Descobri minhas raízes libanesas e ganhei uma família enorme que até hoje não conheço toda. Foi a maior emoção da minha vida. Eu falei para ele que tive alta da psicanálise. Tornei-me um homem melhor depois de tê-lo conhecido e saber de sua brilhante trajetória política - de presidente da Câmara dos Vereadores a Prefeito de São Luís. Artisticamente, falando na minha área, nós temos este deslumbrante teatro na cidade, o Arthur Azevedo. Um dos mais lindos teatros do mundo. Quero fazer muitas peças neste teatro. Sei que agora o Maranhão tem edital de longa metragem. Penso em escrever um roteiro especialmente para ser filmado aí. Será uma grande honra e um grande prazer. O Maranhão é um estado humanamente riquíssimo, cheio de histórias que precisam ser contadas para o mundo todo. E quem sabe um dia eu vire Secretário de Cultura do Estado e siga os passos do meu pai? Por que não?
E apresentações por aqui? Estão nos seus planos?
Quero levar “Desamor”, que é minha atual peça. É escrita por um dos maiores autores do Brasil em atividade - Walcyr Carrasco - especialmente para um ator maranhense. Só este fato já gera curiosidade, não? É só convidar que agente vai. Walcyr, inclusive, me disse que quer ir conhecer o Maranhão.
Dos personagens que já interpretou, qual mais te marcou? Por quê?
Sou um ator stanislavskiano, de personagens. O meu grande talento é construir personagens totalmente diferentes de mim. No teatro gosto muito deste taxista homofóbico de "Desamor". Também fiz Otelo e Ricardo III, de Shakespeare, que é o maior autor do mundo de todos os tempos. Fazer um protagonista de Shakespeare muda a vida de qualquer ator. Levarei comigo para sempre estes dois. No cinema, o Lula de Carandiru, é inesquecível e mesmo 10 anos depois ainda sou reconhecido por este personagem e com ele fui citado no The New York Times. Na TV, o Tito de A Favorita, ainda é o meu mais marcante personagem. Mas o melhor personagem ainda está por vir. Rezo para que seja em um filme do Walter Salles, que conheci na casa do Andrucha Waddington e Fernanda Torres, no Rio, e desde então trocamos emails, nos encontramos e um dia ele me ligou para eu fazer a locução do trailer de "Linha de passe". Trabalhei algumas intensas horas com ele. Eu disse que meu maior desejo é fazer um filme dele, que considero o maior diretor do Brasil e um dos maiores do mundo, e para minha surpresa, ele disse que ele é quem quer trabalhar comigo.
Adianta para gente o que estás planejando para os próximos meses, o que está trabalhando, seus projetos...
Estou terminando meu segundo livro de coletânea de peças, um romance, um curta, esperando a resposta de editais para montar novas peças e batalhando patrocínio para filmar “Classe Média” e “Perpétua”. É o que posso falar, por enquanto.
Não importa o veículo e sim a qualidade do personagem e do trabalhoDionisio Neto

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