Registros raros revelam mudanças na paisagem natural e urbanística da área que sempre foi considerada como um dos cartão postal de São Luís.
José Reinaldo Martins
Especial para o Alternativo
Especial para o Alternativo
Difícil até imaginar o cenário hoje, mas a Península da Ponta d’Areia, atualmente área de condomínios de luxo e do Espigão Costeiro - o promissor cartão postal de São Luís -, até poucas décadas atrás chegava a ficar quase toda encoberta pelas águas da Baía de São Marcos. É o que evidencia uma fotografia datada de 2 de julho de 1937 que integra o acervo do Museu da Memória Áudio Visual do Maranhão (Mavam), da Fundação Nagib Haickel.
No registro de oito décadas atrás, apenas uma pequena parte da Península ficava acima do mar: uma ilhota onde se vê o Forte de Santo Antônio, fortaleza histórica que, atualmente, abriga um quartel do Corpo de Bombeiros do Maranhão.
Apesar de parecer um simples registro capitado por um fotógrafo que estava em uma embarcação, em meados do século XX, a imagem revela transformações no desenho natural e urbanístico da Península da Ponta d’Areia e na configuração dos estuários dos rios Anil e Bacanga, na Ilha de São Luís.
A fotografia está focada na área da Península, quase toda encoberta pelas águas, com a ilha e o forte Santo Antônio ao centro. Ainda não foi identificado o autor do registro, mas, de imediato, ao ser visto por cineastas, restauradores de imagens fotográficas, jornalistas e fotógrafos, reunidos no Mavam, abriu espaço para calorosos debates.
O acadêmico e apoiador das artes audiovisuais, Joaquim Haickel, lançou a suspeita de que a pequena ilha se formava somente durante a maré alta. O certo é que é o único espaço de terra, na área da Península da praia da Ponta d’Areia, visível na imagem.
A panorâmica apresentada pela fotografia é tão diferente da visão atual da área da Península da Ponta d’Areia que chegaram a ‘brincar’ que não era São Luís, mas, uma ilha no Mar Mediterrâneo. Isto por causa, principalmente, do detalhe de um imóvel grande, de alvenaria e pedra, no plano de fundo da fotografia - mais visível por meio de lupas e aproximações virtuais -, situado próximo a casas de palha e taipa, provavelmente na área do São Francisco, na altura do atual espaço Ilhinha/Basa. Tudo indica que seja o Forte de São Francisco, que já não existe e é pouco lembrado.
Imagens de época, entre fotografias e gravuras, estão proporcionando viagens ao mesmo tempo reais, históricas e oníricas pelas paisagens dessa pequena península de areias brancas que invade a baia de São Marcos, na altura dos estuários dos rios Bacanga e Anil.
Certamente outras fotografias reveladoras da área da Península da Ponta d’Areia serão motivos de muitas interpretações por historiadores, sociólogos e antropólogos. No momento, o mais importante, é que a imagem foi resgatada, juntamente com outras 30 mil, por meio de um trabalho do colecionador de imagens Antônio Guimarães. O Mavam está investindo em um cuidadoso trabalho de recuperação e preservação e, futuramente, o acervo será catalogado e disponibilizado a pesquisadores.
Geógrafos, biólogos e oceanógrafos têm, também, muito a contribuir com interpretações das imagens históricas da Ponta d’Areia. Ainda há muitas interrogações. O pouco manguezal da área da Península precisa ser preservado; os pés de murici e as ‘estrelas do mar’, que eram inúmeras como se fossem desenhos nas areias poderão voltar? E como fica a presença de golfinhos no mar da região?
Gravura - A fotografia da Península da Ponta d’Areia, com a ilhota ao centro, ajuda a desvendar a composição da gravura denominada Maragnon, do século XVII, produzida pelo pintor holandês Frans Post (nasceu em Laiden, provavelmente em 1612 e morreu em 1680 em Haarlm), uma das primeiras imagens panorâmicas de São Luís. Post aportou no Brasil (em Pernambuco), com 24 anos, em 1637, junto com Maurício de Nassau, em um período em que os holandeses ocuparam várias regiões do Nordeste, incluindo o Maranhão.
Maragnon foi composta por Frans Post, tudo indica, entre 1641-1644, tempo que os holandeses ocuparam o Maranhão. Apresenta São Luís cercado pela frota holandesa e, em uma perspectiva mais próxima do observador, espaços com habitações que podem ser representações de época das extensões das áreas dos fortes de São Marcos, da ilha da península da Ponta d’Areia ou do Forte de São Francisco.
José Reinaldo Martins é jornalista, pesquisa História da Fotografia e atua no Uniblog, do Portal Imirante.com
O tempo na Ponta d’Areia
A Ponta d’Areia tem muitas histórias. O Forte de Santo Antônio, por exemplo, chegou a ser, no século XIX, espaço para quarentena de grupos de teatro e ópera que vinham da Europa para São Luís. Por causa das pestes que assolavam o velho continente, os grupos ficavam um tempo no forte antes de participarem de apresentações na cidade. As informações constam de jornais de época que integram o acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite.
Ao longo do século XX, muitas famílias atravessavam de barco, da Avenida Beira-Mar (que já foi chamada de Cais da Sagração e Avenida Magalhães de Almeida) para passar horas de lazer na área da Ponta d’Areia. Cada qual usava as roupas apropriadas para a sua época.
Uma imagem interessante, provavelmente da década de 1910 ou de 1920, mostra a família Domingues em uma escadaria do forte de Santo Antônio e jovens e crianças na parte de cima do forte. A fotografia, da Coleção de José Renato Castro de Carvalho, expõe como algumas esferas da sociedade iam a uma área de praia na época.
Há imagens, do século XX, em que o mar aparece tocando no Forte de Santo Antônio e pessoas banhando e visitando o local, provavelmente captadas nas três décadas anteriores a construção da Ponte São Francisco, já com roupas apropriadas para banho de mar.
Até a década de 1990 havia uma grande casa de veraneio na Ponta d’Areia que, de acordo com depoimentos para documentário sobre o ex-prefeito de São Luís, Haroldo Tavares, dos cineastas Luís Fernando Baima, João Ubaldo Serra de Moraes e Joaquim Haickel, pertencia à família de Simão Felix. A casa é erguida sob pilares de concreto com mais de 1 metro de altura, pois, no local, provavelmente para se resguardar das variações de marés.
O cenário mudou depois da inauguração da Ponte São Francisco, em 1970. Foi justamente no período do prefeito Haroldo Tavares, quando parte da Península foi aterrada e asfalto margeou o forte de Santo Antônio.
Hoje, a Ponta d’Areia tem tudo para ser um grande ponto turístico de São Luís com a construção do Espigão Costeiro. Depois da urbanização deste quebra-mar será possível desfrutar melhor de uma bela paisagem, em um local confortável e seguro, principalmente aos finais de tarde, de agosto a outubro, com o cenário envolvente do por do sol.
Cantada por poetas como Chico Maranhão, a Ponta d’Areia, vista do mar, quando se vem de Alcântara, é mais bela: o panorama é de um bloco insurgente de areia branca desafiando o mar profundo e bravio.
Espigão Costeiro
Uma nova fase para a Ponta d’Areia se consolida neste início do século XXI. Os moradores e os turistas que visitarem São Luís terão mais um polo de lazer e turismo com a urbanização do Espigão Costeiro, serviços que deve começar nos próximos 15 dias, segundo informações da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra).
A obra do Espigão, orçada em R$ 32 milhões, foi iniciada em abril de 2011. Com a extensão do quebra-mar, a previsão é que seja inaugurada, totalmente urbanizada, em março de 2014.
Como parte da urbanização, o espaço no entorno do Espigão Costeiro ganhará quiosques de conveniência, bancos e um grande calçadão que poderá ser utilizado para práticas esportivas, como ciclismo, corridas e caminhadas.
O projeto inclui a construção de um deck de madeira reaproveitada e palmeiras imperiais como item de ornamentação, além de iluminação, pavimentação, fixação de proteção lateral, locais para coleta de lixo, pontos de observação, entre outros espaços paisagísticos. Haverá um novo pavimento, ciclovia, a restauração e revitalização da avenida principal da península.
O espigão tem 572 metros de comprimento, 13,36 metros de largura e 8 metros de altura, sendo 1,4 metro acima da preamar máxima. Ao final, há dois braços de 128 metros e 8,2 metros de largura, para atracação de embarcações.
O Memorial Bandeira Tribuzi, instalado próximo ao Espigão, será um Centro Cultural. O Espigão Costeiro Foi construído para recompor uma faixa de praia, conter o avanço da erosão e para desassoreamento de canais de navegação na Baia de São Marcos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário