Esta matéria tão bem escrita por Patrícia Godinho talvez sirva de resposta a Gustavo Zanelli e outros igualmente insignificantes. Alguma razão para isto eles devem ter, afinal ninguém chuta cachorro morto.
Ilha Magnética
Patrícia Godinho
Da equipe de O Estado
Da equipe de O Estado
A migração é um comportamento comum em todo o mundo, seja por conflitos, melhoria de vida ou a busca por um amor. Muitos são os motivos que fazem pessoas deixarem sua cidade natal, um processo na maioria das vezes doloroso. São Luís já se despediu de muitos filhos, que hoje vivem de saudade, ao mesmo tempo em que recebeu pessoas vindas de todos os lados.
Para quem foi embora, a cidade se revela em um cartão-postal, em um objeto em cima da estante e nas lembranças da inesquecível ilha magnética. O poeta Gonçalves Dias também sentiu saudades e no poema Canção do Exílio não se conteve em comparar as belezas que só encontrava do lado de cá.
A jornalista Raphaela Costa vive na cidade de Forli, na Itália, a 400km de Roma. Se mudou "per amore". Conheceu o italiano Marco Rossi em uma viagem de férias em Fortaleza, no Ceará, e estão juntos há cinco anos. Ela nunca havia morado fora antes. "Foi uma mudança bem radical, principalmente por causa da gastronomia e condições climáticas. Pensei que meu único problema seria a saudade da família e dos amigos, e que conseguiria superar o resto sem problemas, um ledo engano. A culinária é uma das coisas que mais sinto falta, a ponto de sonhar sentindo o cheirinho da comida de casa. Quando morava em São Luís, odiava arroz com alho. Hoje preparo aqui porque o cheirinho do alho frito me lembra casa. O guaraná Jesus é um sucesso, não divido nem com o marido", conta.
O comportamento da cidade também faz falta para Raphaela Costa. Ela conta que os amigos italianos têm curiosidades sobre sua cultura, por isso, quando vem a São Luís, leva presentes que retratam a cidade em que nasceu. Também gosta de festas e sente falta de quando podia frequentar a vida noturna por aqui.
"A cultura é bem diferente. Eu era muito boêmia, ainda gosto de reggae, capoeira, tambor, bumba meu boi e agora estou em um contexto bem diferente da vida movimentada que tinha em São Luís. Foi difícil no início, mas fui me acostumando. Hoje tenho lindas lembranças. Quando vou a São Luís, não perco tempo e caio na "folia"", revela.
Ela considera sua casa como um pedacinho de onde nasceu, com livros, fotos e souvenires. Tamanha diferença entre sua cidade natal e o lugar onde vive cria uma mistura de sentimentos. Raphaela Costa conta que quando visitou São Luís estranhou a cidade nos primeiros dias porque achou tudo barulhento, mas logo o sangue falou mais alto e se sentiu em casa novamente. Não é só a saudade da cidade que pesa, mas abdicar da convivência com a família lhe custa bastante. "Por enquanto, não posso voltar. Meu marido é projetista termotécnico, um perito industrial especializado em projetar o aquecimento das casas para o inverno. Ele diz que em São Luís ninguém vai precisar dos serviços dele", brinca.
Novos referenciais - Logo após se formar em Jornalismo, Diego Freire, 31 anos, também deixou São Luís para viver em São Paulo. Ele recebeu uma proposta para trabalhar em uma empresa na cidade paulistana e emendou com uma pós-graduação.
"Fui me deixando envolver pela rotina da cidade. Ano passado fiz um curso de História da Poesia com Ferreira Gullar, de quem gosto muito, e perguntei a ele, que nasceu em São Luís e vive há décadas no Rio de Janeiro, que sentimento tem pela nossa cidade natal. Ele disse que tem todos - o que, nas palavras dele, torna insuportável a ideia de regressar. Fiquei pensando sobre isso e cheguei à conclusão de que, ao contrário, não tenho sentimento nenhum por São Paulo - pelo menos nenhum em especial. Já São Luís me afeta de tantas maneiras positivas e negativas", comenta.
No apartamento, há referências da terra natal, uma maneira de continuar ligado à cidade. Diego Freire diz que colecionar os objetos começou por acaso, como presentes de amigos, mas hoje cada um tem seu significado. O jornalista passou a enxergar São Luís de outra maneira depois que foi embora. "Sinto mais carinho, mas também a vejo com mais rigor, porque quando se migra, você ganha novos referenciais. Faço coisas com mais frequência do que costumava quando antes. Nunca fui muito empolgado com praia, mas gostava de saber que ela estava lá para quando eu precisasse e isso mudou. Quando visito São Luís, divido o tempo entre a família, de dia, e os amigos, à noite", diz.
Quem chega quer ficar
Quem chegou para ficar também aprecia as belezas da cidade hospitaleira. Em São Luís, há profissionais e empresários em diversas áreas contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico da capital. Muitas destas pessoas vieram em busca de uma qualidade de vida melhor, expansão nos negócios, formação familiar ou tudo isto junto, como Rosário Buenos Aires, empresária, que nasceu no Piauí, em Conceição do Canindé, e se mudou para São Luís quando se casou com o maranhense Solfiere Alavá, seu sócio. Facilmente se adaptou à cidade, apesar da saudade dos amigos e familiares.
"São Luís é uma cidade linda e maravilhosa, que merece ser cuidada por todos - cidadãos e governantes. Uma terra de povo hospitaleiro e amigável. Um mercado de grandes oportunidades para o comércio e a indústria. Precisamos trabalhar de forma conjunta para melhorar a cidade que é todos", coloca.
O diretor de um grande grupo hoteleiro da cidade, Dagoberto Silva, vive na cidade há menos tempo, mas diz que não pretende ir embora. Há um ano e 11 meses vivendo em São Luís com a esposa Liliane e os filhos Vinícius e João Vitor, natural de São Paulo, trabalhou no exterior na área de hotelaria por vários anos. Quando decidiu voltar para o Brasil, estudou diversos convites profissionais e, dentre eles, escolheu São Luís.
"Eu e minha família nos surpreendemos muito positivamente com a cidade e hoje somos muito felizes aqui. Não temos a mínima vontade de ir embora. Adoramos o clima e outra coisa muito legal em São Luís é a proximidade com os Lençóis Maranhenses, um dos lugares mais lindos do mundo na minha opinião, e onde gosto de ir sempre que posso. O ludovicense é um povo maravilhoso, mas que precisa evoluir e melhorar muito no trânsito, na minha opinião", afirma.
Assim como Rosário Buenos Aires, Dagoberto Silva diz que uma das dificuldades encontradas em São Luís na área profissional é a oferta de fornecedores. Para ele, existe pouca oferta de serviços e baixa confiabilidade de serviços em diversos setores. "É uma cidade próspera, onde os negócios estão começando a acontecer. Uma terra que está atraindo novos e importantes empreendimentos. Muitos ludovicenses também estão investindo para trazer novas marcas e serviços para a cidade. Esta é uma terra de oportunidades", cita.
Refinaria da Alumar em São Luís uma das maiores do mundo
Trabalho - O engenheiro pernambucano José Domingues Neto, 48 anos, superintendente da Refinaria da Alumar, redicado em São Luís há 26 anos, tem muita história para contar. "Durante minha graduação em Engenharia Química na Universidade Federal de Pernambuco em 1986, tomei conhecimento do Projeto Alumar e fui escolhido para realizar meu estágio curricular na refinaria. Logo em 1987, após a minha formatura me mudei para São Luís contratado como engenheiro de processos da refinaria, meu primeiro e único emprego até hoje", conta.
O profissional vive na cidade com a esposa Danielle Vieira e os filhos Matheus e Fabrício Vieira Domingues e como todo mundo que é novo em um lugar, sentiu falta de casa. "Procurei ampliar meu círculo de relacionamento social na cidade e isto foi muito positivo na minha vida porque sentia muita saudade dos familiares e dos amigos. Também tive a sorte de conhecer minha esposa e seus familiares e com isto, novas amizades foram agregadas ao nosso convívio", relata.
O pernambucano e ludovicense de coração gosta do sol dos domingos e das iguarias com mariscos e frutos do mar. Para ele, a cidade está em contínua transformação e cresce muito rápido, o que afeta a sustentabilidade social e ambiental, além de expor algumas carências de mobilidade urbana e saúde pública. "Enxergo que é necessário que haja um entendimento urgente dos agentes públicos - um pacto de governos Municipal e Estadual para resgatar o controle social e propor ações mais estruturantes de forma conjunta e que apresentem sinergia e continuidade", frisa.
A Ilha do Amor e sua magia
Toni Guimarães veio do extremo norte, nascido na cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre. São Luís foi a cura para ele e calmaria para a família. Por causa da asma que tinha, mudou-se muitas vezes para diversas cidades do país em busca de um clima adequado para viver. Por aqui encontrou um local com todas as características que precisava para respirar, e seus pais, o clima de paz que necessitavam: Toni estava curado.
Passada a fase de adaptação, e certos de que poderiam ter uma vida normal e segura, assimilaram os costumes da cidade. Toni Guimarães estudou Comunicação Social na Universidade Federal do Maranhão e hoje é professor e coordenador de extensão da Universidade Ceuma.
"São Luís é uma cidade muito receptiva. Acredito que é a capital brasileira com maior diversidade cultural do país. Infelizmente algumas áreas são pouco exploradas comparadas ao potencial de outras capitais vizinhas, como a orla que deveria ter maior infraestrutura. A cidade enfrenta dificuldades reais e que aumentam a cada dia. Também tive dificuldade em me posicionar no mercado de trabalho e precisei me recolocar, mas são desafios de grandes centros urbanos", diz.
Aos 30 anos, Toni Guimarães não encontrou apenas saúde e carreira em São Luís. Em novembro vai se casar com uma maranhense, o que mostra que a cidade continua lhe fazendo bem em todos os sentidos.
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