As vozes do São João

Os cantadores dos grupos de bumba meu boi estão na contagem regressiva para a temporada junina e preparam indumentária e cuidam da voz e da saúde.

Eles são as estrelas mais brilhantes nas noites de São João no Maranhão. Com suas vozes marcantes para conduzir as toadas que embalam os batalhões, os cantadores de bumba meu boi aguardam na concentração para, mais uma vez, homenagear São João, São Pedro, Santo Antônio e São Marçal.

Há 40 anos à frente do grupo folclórico, Humberto de Maracanã, cantador do Boi de Maracanã, afirma que está pronto para enfrentar a maratona de apresentações do São João deste ano, apesar dos problemas de saúde que tem enfrentado nos últimos meses. Aos 75 anos, ele não se cansa de levantar a voz e ouvir o barulho ensurdecedor das matracas, que ecoam nos espaços onde o boi se apresenta.

Para os terreiros, irá acompanhado dos seus seis amigos de cantoria: Roberto Ricci, Humberto Filho, Ribinha, Toninho Rocha, Gaguinho e Cabeça Branca. “Eu jamais poderia deixar de participar desta festa, porque isto é a minha vida. Eu sempre estive ligado ao folclore e tenho certeza de que a minha energia vem de São João. Estou seguindo todas as orientações médicas depois da cirurgia cardíaca que fiz, e por isso me sinto ótimo”, disse Humberto de Maracanã.

Ontem, o amo de um dos mais expressivos grupos de bumba meu boi conduziu o chamado “Ensaio Redondo”, no Maracanã, e esteve no Arraial da Vila Palmeira, aberto ontem à noite. Humberto está em estúdio gravando novo CD da manifestação folclórica, que reunirá 12 toadas. Além disso, ele se prepara para cumprir agenda de apresentações e a próxima será no dia 21 deste mês, no Arraial da Associação Atlética Banco do Brasil.

“Depois, temos arraial da Cemar e arraiais do Sesc. Antes, no dia 7, fui convidado para a solenidade de posse do novo presidente do Sinduscon, onde serei homenageado. Estarei firme e forte em tudo quanto é canto”, antecipou Humberto de Maracanã.

Ritual - Assim como Humberto de Maracanã, Chagas, cantador do Boi da Maioba, cumprirá o mesmo ritual. Ele conta que nesta época costuma ficar rouco, pois são muitas as apresentações sequenciadas. Chega a se apresentar até oito horas por noite, mas não se cansa. Com 44 anos, o amo tem uma grande responsabilidade: dar voz a um dos mais numerosos grupos de bumba meu boi.

Chagas contabiliza 25 anos de cantoria e este ano gravou 14 novas toadas, que apresentará na temporada junina. “Ao longo da temporada, folgo somente um dia”, antecipou.

Entre as novas toadas que Chagas cantará, destacam-se Roseira de Aço e Quando a Maioba Chama. O CD já foi lançado e agora o grupo prepara DVD que será gravado durante o São João. Com 50 anos de trabalho em grupo folclórico, o amo Zé Olhinho, do Boi de Santa Fé, sotaque da Baixada, começou cantando toadas quando tinha apenas 10 anos.

De lá para cá, não mais se calou e até hoje é figura carimbada nos arraiais da cidade. Olhinho não bebe, não fuma e se prepara de forma saudável para enfrentar a maratona de apresentações. “Água gelada nem pensar. Não faz bem para a voz de um cantador”, enfatiza.

Vaidoso, ele já está com a indumentária que usará para bem representar o batalhão. “Gastei

R$ 3 mil com a roupa, mas valeu a pena. Ficou muito bonita”, orgulha-se.

Hoje, o Boi de Santa Fé estará no Arraial do Parque Folclórico da Vila Palmeira e o amo mostrará sua roupa para o público. Depois o boi tem uma agenda agitada para cumprir. São muitos os arraiais e dois ônibus, uma Kombi e vários carros para transportar os brincantes. O boi protagoniza um dos mais belos espetáculos regionais. A apresentação lembra um ritual africano, com índios, índias e cazumbas com adereços gigantes sobre a cabeça, a maioria adornada com espelhos e outros objetos reluzentes.

O resultado faz a diferença nos terreiros. “Todos os anos tiro muitas fotos com o público e também os brincantes. Os turistas gostam muito”, conta Olhinho, que canta ao lado de Sirico, Zé Miguel, Sargento Batista, Vitório, Miguel e Juarez.

João Chiador, do Boi de Ribamar, tem 73 anos, adora o que faz à frente do grupo. Sempre com o apoio da esposa Rosa e das filhas Lady Diana e Ana Alice, ele segue firme na carreira de cantador. Ele e seus parceiros de cantoria gravaram 14 novas composições este ano.

“Vamos animar essa festa como todos os anos fazemos ,e, para isso, estou descansando o máximo que posso para poder ir para os terreiros. Já no dia 22 de junho temos uma apresentação na Polícia Militar. Ontem, lançamos o nosso CD e já estamos em ritmo de São João”, disse.