terça-feira, 12 de março de 2013

Ney Matogrosso Turnê para unir vários olhares

O cantor Ney Matogrosso deu início, na última sexta-feira, à turnê Atento aos sinais , em que demonstra estar antenado com a música de hoje.

São Paulo - O tempo, para Ney Matogrosso, não para. A instrospecção de Beijo bandido é coisa do passado para o cantor de 71 anos, que anuncia sua volta ao pop-rock e aos grandes espetáculos com a turnê Atento aos sinais. Ele começou a rodar o país na sexta-feira (8), com a estreia em São Paulo, no HSBC Brasil. No Rio, o intérprete se apresenta em 3 de maio, no Vivo Rio.
Seu plano é manter o show na estrada por pelo menos dois anos e, quando se sentir pronto, entrar em estúdio para gravar parte do repertório de 19 canções, que privilegia novos compositores como Criolo, Dani Black, Vitor Pirralho, Dan Nakagawa e Rafael Rocha (do grupo carioca Tono), integrados a nomes consagrados como Paulinho da Viola, Caetano Veloso e Itamar Assumpção.
“O show tem uma narrativa. Não é uma história linear, são impressões. Há um ano já tinha escolhido quase todas as músicas. Quis começar com Rua da Passagem (de Arnaldo Antunes e Lenine), para tratar de cara dessa temática de gente civilizada. Delicadeza, gentileza é fundamental”, explica o artista, que também assina a direção e a iluminação do espetáculo. “Nesses últimos dois ou três anos, estava sempre com a intenção de criar alguma coisa. Ia pescando para formar um roteiro. Fui a um show do Pedro Luís e A Parede. Ele cantou Incêndio, de uma banda punk que teve em 1980. Em 2009, escolhi Tupifusão, de Vitor Pirralho. Achei interessante aquela verborragia consciente. Roendo as unhas, de Paulinho da Viola, é uma música pessimista, composta em 1973. Mas posso mostrá-la agora com deboche e ironia. É possível subverter uma letra ao colocar uma intenção diferente da do autor”, afirma.
O título do show veio de Oração, de Dani Black. Ney explica que não é uma mensagem velada, nem uma alusão a seu interesse por novos compositores. Para ele, a referência é clara e direta: diz respeito a um intérprete atento à vida. “Dizem que a música brasileira passa por uma crise. Vou dar meu depoimento: busquei, procurei e encontrei. Não adianta ficar em casa esperando compositores ou querer ouvir no rádio. Mas quem procurar, prestar atenção vai encontrar”, acredita. Assim como em seus quatro shows anteriores, o cantor fez uma apresentação de Atento aos sinais em Juiz de Fora, Minas Gerais, no Cine-Theatro Central, no fim de fevereiro. É um teatro onde ele pode passar quatro dias se dedicando a preparar palco e iluminação. “É uma luz rock’n’roll que nunca usei, nem vi ninguém usar. Os figurinos são do tipo que gosto, salientes. Relutei em usar telões de LED, mas dessa vez terei projeções. Aceitei porque não é usado de forma convencional”.

Acaso - A estreia da turnê no mesmo ano em que completa 40 anos de carreira é “um acaso”, segundo o artista, que se diz “avesso a festejos”. “Não sou do passado, não faço balanço. Saiu no ano passado a segunda caixa (de CDs com sua obra completa). Aí pensei: está tudo posto aí, agora estou zerado, vou começar de novo, fazer o que eu quiser. Meu tempo é agora, estou vivo aqui e agora. Ontem não é mais, amanhã, não temos certeza. A mentalidade aberta para o momento é o que me ajuda. Não persigo a juventude, mas quero estar sintonizado no mundo em que estou vivendo, mesmo discordando dele”, reflete.
Politizado, não hesita em afirmar que discorda de tudo num mundo que não valoriza o ser humano: “Discordo de tudo. Governos, religiões, economia, acho tudo errado. Os princípios estão distorcidos. Não há nada voltado para o bem-estar, para o engrandecimento humano. Tudo é dinheiro, poder e ganância, não só no Brasil. Aqui vemos a corrupção, uma política sórdida. Mas não somos o único mau exemplo”, observa.
Ele acredita que o tempo o tornou um homem mais tolerante, mas não menos exigente em relação às pessoas com as quais convive. “A maturidade suavizou a minha maneira de olhar o mundo. Era muito radical, cortava da minha vida quem não correspondia às minhas expectativas. Hoje sou mais tolerante, mas não significa que não seja exigente em termos pessoais. Quem está próximo a mim tem de ter sustância, ética”.
Para o artista, o público jovem se interessa por sua obra por causa dos Secos & Molhados, grupo que integrou na década de 1970. No show, Ney canta Amor, do repertório do grupo, um agrado para a plateia, segundo ele. “Os jovens são atraídos inicialmente pela figura dos Secos & Molhados. Mas se vão prestar atenção em mim, que prestem em tudo. Tem gente que não vai gostar. Normal, tudo certo. Não vou deixar de ser quem sou porque tem gente que não gosta. Nem vou trabalhar para agradar a quem gosta. Faço porque me guio pelos meus instintos e sentimentos, com independência. Tenho necessidade de ser assim, de me expressar dessa maneira”, conclui, entre risos.

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