sábado, 12 de janeiro de 2013

Produção de mel no estado deve quintuplicar a partir deste ano

Previsão é de especialistas e empresários do setor, que têm recebido investimentos de empresas nacionais.
Há cerca de um mês, os apicultores maranhenses que atuam nas regiões do Alto Turi e Gurupi e Baixada Maranhense encerraram a safra 2012 com uma produção de cerca de 2,5 mil toneladas de mel. Mais que o dobro produzido em 2011, que, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 1.107 toneladas, colocando o Maranhão no 10º lugar no ranking nacional e 5º na classificação entre os estados nordestinos.
Mas, para os apicultores locais, os números positivos da última safra poderiam ser bem melhores, não fosse a forte estiagem que ainda assola a Região Nordeste. "Se tivéssemos mantido as boas condições climáticas, a safra maranhense poderia ter ultrapassado as 3,5 mil toneladas de mel", garantiu Euler Gomes Tenório, agrônomo especializado em apicultura e consultor do Sebrae no Projeto Territórios da Cidadania na Região do Alto Turi e Gurupi.
Através do projeto, 210 dos cerca de 400 apicultores atuantes na região são atendidos pelo Sebrae com ações de assistência técnica e transferência tecnológica, e capacitação para acesso ao mercado. "O objetivo é desenvolver a cadeia produtiva da apicultura, gerando uma produção limpa, justa e solidária, visando ao aumento da participação no mercado regional e nacional, além da sustentabilidade da atividade na região", explicou o gestor do projeto, Adalberto Fraga.
O Alto Turi e Gurupi, localizado no Bioma Floresta Amazônica, responde por cerca de 70% da produção de mel no Maranhão. Lá, as floradas - ou pastos apícolas, que são as épocas de colheita - acontecem de junho a setembro e rendem mais de 2 mil toneladas de mel orgânico. Além dos apicultores locais, a região também atrai produtores do Piauí, que migram com suas colmeias sempre em meados de maio, já que no estado vizinho a florada acontece de fevereiro a abril.

Investidores - Os principais municípios produtores da região, Santa Luzia do Paruá e Nova Olinda do Maranhão, são os focos de atração de investidores nacionais, internacionais e entidades governamentais. O próprio Sebrae já realizou um projeto piloto de georeferenciamento apícola nos municípios que, hoje, têm informações sobre a localização exata dos apiários locais e podem identificar e orientar a instalação de novos apiários maranhenses ou da atividade migratória.
"O Maranhão está cada vez mais atraindo investidores que acreditam no nosso potencial. Temos uma diversidade de florada e clima propícios para a produção não só de mel orgânico, de alta qualidade e valor comercial, como de outros produtos apícolas como a cera, o pólen e até o veneno das abelhas. As maiores empresas do setor já estão de olho no nosso potencial e planejam iniciar ou aumentar os investimentos no estado nos próximos anos. O Governo do Estado está atento a esse cenário e vai aumentar as ações de incentivo a essa cadeia produtiva", destacou o secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Pesca, Cláudio Azevedo, que também preside o Conselho Deliberativo do Sebrae Maranhão.

Melhoramento - Uma das ações anunciadas no fim do ano passado pelo Secretário Cláudio Azevedo, durante o 9º Encontro Maranhense de Apicultura, realizado em Nova Olinda do Maranhão, é a aquisição e distribuição a pequenos apicultores, pelo governo do estado, de 4 mil rainhas geneticamente melhoradas. Com essa ação, a expectativa é quintuplicar a produtividade de cada colmeia com as novas rainhas.
"O melhoramento genético das rainhas, além de aumentar a produtividade, vai colocar o Maranhão em condições privilegiadas de competitividade, já que no Brasil a produtividade das rainhas é considerada muito baixa em comparação com outros países produtores. Será uma ação que colocará o Maranhão em condições de competir com outros países no que se refere à produção, com a vantagem de que poucos países têm o potencial de crescimento que temos para a atividade", comentou Cláudio Azevedo.
O setor privado também planeja grandes investimentos para a região. A empresa catarinense Prodapys, maior exportadora de mel do país - em média 3 mil toneladas/ano são vendidas para os mercados americano e europeu - e produtora de alimentos e cosméticos a base de produtos apícolas, instalou em Santa Luzia do Paruá sua maior e mais moderna Unidade de Extração de Produtos Apícolas (UEPA).
"Decidimos investir no Maranhão pela diversidade única de biomas propícios a apicultura ainda não explorados, e pelo enorme potencial do estado em produzir mel orgânico, isento de pólen transgênico, já que possui ainda grandes extensões territoriais distantes de culturas com transgênicos como a soja, que é cultivada predominantemente na região sul. Esse foi nosso principal fator de atração, pois temos o maior projeto de produção de mel orgânico do mundo, e nele está incluído o Maranhão", afirmou o diretor da empresa, Célio Hercílio Marcos da Silva.

Potencialidades - Já a Cearape, com sede em Crato (CE) e pioneira na exportação de mel orgânico, está desenvolvendo ações de incentivo à cadeia produtiva fornecendo insumos e tecnologia e garantindo a comercialização e certificação do mel orgânico produzido no estado. "O Maranhão tem mais pasto apícola disponível do que apicultores para explorá-los e queremos ajudar a mudar essa realidade. Não existem muitos locais no mundo que permitem a produção de mel orgânico, o que aumenta ainda mais a importância do Maranhão como produtor", afirmou Paulo Seixas Levy, diretor-presidente da empresa que recentemente se aliou a uma das maiores exportadoras de mel orgânico do mundo, a italiana Matrunita.
"Pretendemos trazer para o estado projetos de estruturação da cadeia produtiva via parceria público-privada, como o que estamos desenvolvendo a partir desse ano com governos do Piauí e Ceará. E estamos dispostos a comprar todo o mel que incentivarmos a produzir", completou Paulo Seixas Levy.
"A apicultura é o agronegócio com melhor distribuição de renda entre os pequenos produtores, pois o mel já sai do produtor praticamente pronto para consumo. Além disso, qualquer pequeno produtor pode participar, pois os investimentos são muito baixos e de retorno rápido", avaliou o empresário Célio da Silva.
Foi nisso que acreditou o ex-lavrador e hoje apicultor João Moreira de Sousa, 49 anos, que mora em Nova Olinda do Maranhão. Há 19 anos ele trocou a roça de subsistência de arroz, milho e feijão pela apicultura incentivado por um padre da região. Hoje ele produz de 5 a 6 toneladas de mel/ano, que rendem cerca de R$ 25 mil à sua renda familiar. "Não me arrependo da mudança. A renda da apicultura permitiu que eu terminasse de construir minha casa e que comprasse as 20 cabeças de gado que hoje complementam a minha renda", relatou.

Produtores esperam certificação para comercialização internacional



Já estão em processo de certificação estadual (SIE) casas de mel instaladas em cinco municípios maranhenses

Mesmo com todo o potencial e qualidade do mel produzido no estado, a comercialização do produto ainda é tímida porque a maioria dos apiários em atividade é de produção familiar. O mel maranhense é vendido in natura e a granel, o que sinaliza para muitas outras oportunidades com a instalação de mais casas e entrepostos de mel e, principalmente, das chamadas UEPAS - Unidades de Extração de Produtos Apícolas, preparadas para extrair mel, pólen, cera e veneno para beneficiamento e comercialização não apenas com a indústria alimentícia, mas também a farmacêutica e cosmética.
Em Santa Luzia do Paruá foi instalada a primeira UEPA do Maranhão, de propriedade da empresa Prodapys. Além da unidade de extração que iniciou suas atividades no ano passado, a empresa executa um projeto de Produtores Orgânicos de Mel - que já envolve mais de 50 produtores, e planeja quadruplicar esse número ainda em 2013 - e prepara-se para implantar uma central de produção de rainhas geneticamente selecionadas.
A Cearape, que exporta o mel brasileiro para os Estados Unidos, Japão, Canadá, e países da União Europeia, também planeja aumentar os investimentos no estado. "Exportamos 2 mil toneladas por ano e temos a expectativa de dobrar esse volume nos próximos três anos e apostamos no Maranhão para alcançar essa meta", conta o diretor-presidente da empresa, Paulo Levy.
Até agora, o mel maranhense já abastece os mercados nordestinos e da Região Sul do Brasil. A exportação para o mercado internacional ainda é muito restrita, dada a falta de certificação do mel orgânico maranhense. A conquista definitiva dos mercados estrangeiros, especialmente os maiores compradores, que são os Estados Unidos e países da União Europeia, deve chegar após a certificação das casas de mel pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária (AGED-MA). Já estão em processo de certificação estadual (SIE) casas de mel instaladas nos municípios de Viana, Centro Novo do Maranhão, Governador Nunes Freire, Junco do Maranhão e Açailândia - ainda em construção, por meio de doação da empresa Suzano para a associação de apicultores do município.
A Prodapys e a Fazenda Entre Rios, pertencente ao Grupo Edson Queiroz, que atuam como exportadoras na região, já possuem a certificação nacional (SIF), emitida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Um diferencial competitivo importante dos apiários maranhenses é o índice de produtividade das colmeias. Enquanto a média nacional é de 19 kg/colmeia, nos apiários instalados no Alto Turi e Baixada, por exemplo, cada colmeia chega a produzir até 33 kg em média. Cada quilo de mel produzido no Maranhão é comercializado entre R$ 4,80 e R$ 5,20. "Mas podemos melhorar esse preço. O mel mais caro produzido no Brasil, o cipó-uva, comum na região do Vale do Cariri, em Pernambuco, é vendido a R$ 6,20/kg porque possui propriedades bioquímicas desintoxicantes. Esse mesmo mel também é encontrado na Região do Alto Turi", ressaltou Euler Tenório.

Saiba mais


Brasil - Estima-se que o país produza entre 20 e 50 mil toneladas por ano.

Nordeste - A região responde por cerca de 55% da produção nacional, tendo como maiores destaques os estados do Piauí, Ceará, Bahia e Pernambuco.

Maranhão - Atualmente, os quase 500 apiários instalados no Alto Turi e Gurupi, Baixada Maranhense e no Bico do Papagaio (Açailândia) produzem uma média de 3,5 mil toneladas por ano, sendo a primeira região responsável por 70% da produção estadual.

Potencial - Apenas com os investimentos privados previstos a atividade apícola deve mais que dobrar em no máximo três anos - chegando a até 8 mil toneladas/ano -, e quintuplicar até 2018.

Onde está o mel do Maranhão


Bioma Floresta Amazônia: Nova Olinda do MA, Araguanã, Santa Luzia do Paruá, Presidente Médici, Maranhãozinho, Governador Nunes Freire, Maracaçumé, Centro Novo do Maranhão, Junco do Maranhão, Amapá do Maranhão e Boa Vista do Gurupi.
- Período de florada: junho a outubro.

Bioma Mangues: São João Batista, Viana, Anajatuba e Perizes.
- Período de florada: setembro a dezembro.

Bioma Mata de Transição: Matões do Norte, Cantanhede, Coroatá, Alto Alegre do Maranhão, São Mateus e Coelho Neto.
- Período da florada: abril a julho.

Bioma Cerrado: Colinas, Buriti Bravo, Passagem Franca, São Raimundo das Mangabeiras, Jatobá, Fortuna , São João dos Patos e Balsas.
- Período da florada: abril a junho.

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