domingo, 24 de julho de 2011

Mistérios pairam sobre o desaparecimento de igreja




Mistérios pairam sobre o desaparecimento de igreja


Em alguns espaços que antes eram ocupados por templos, a história é relacionada a mistérios. Localizado na Rua Oswaldo Cruz, o Edifício Caiçara é um dos pontos mais antigos do comércio de São Luís. Os relatos históricos incluem registros de suicídios e de episódios sobrenaturais. O que pouca gente sabe é que antes do Caiçara ser construído a área do prédio era ocupada pela antiga Igreja da Nossa Senhora da Conceição, construída na segunda metade do século XVIII e desapropriada em 29 de agosto de 1939.
Na época, a desapropriação da igreja foi justificada pela Prefeitura sob a alegação de que era necessário alargar as ruas. De acordo com o estudo, a destruição aconteceu por etapas. Primeiro, as imagens foram retiradas. Algumas foram levadas para residências. A da padroeira foi conduzida para a Igreja de Sant’Ana. Depois, o templo começou a ser destelhado e em sequência foram demolidas as paredes. Na época, o arcebispo de São Luís destinou parte do terreno para a construção de uma nova igreja, o que nunca aconteceu. “A municipalidade desapropriou a igreja sem levar em consideração o valor histórico que o templo representava para a cidade de São Luís, pois ali se realizaram dezenas de batizados, casamentos, crismas, primeira comunhão. Dos vigários, o mais popular foi o Monsenhor Frederico Chaves”, relata o pesquisador Eulalio Leandro.
Destruição - Dos locais que foram profanados, além de grandes templos, o mapeamento do pesquisador Eulalio Leandro registra a destruições de ermidas, que são capelas pequenas, geralmente, construídas próximas a povoados. Entre elas a Ermida de Nossa Senhora da Guia, uma pequena capela, na Praia da Guia, que recebeu este nome em referência a Nossa Senhora da Guia. A Ermida foi construída nos primeiros anos da dominação portuguesa pelos padres carmelitas que vieram na expedição de Alexandre de Moura.
Outra ermida que desapareceu com o passar dos anos foi a de Nossa Senhora da Boa Hora, localizada na propriedade do Barão de Anajatuba, na Quinta da Boa Hora, no século XVIII. Apesar de não existir uma data precisa da fundação, deve ter sido por volta de 1720. Em 1723, em um requerimento, o sargento-mor João Nogueira de Sousa solicitou à Câmara a expansão da capela. O documento solicitava “um chão na rua que vai dar ao canto de João Barbosa para a ermida de Nossa Senhora de Boa Hora, diante das Fontes das Pedras”. Diz a lenda que os jesuítas compraram a quinta onde estava a capela para a convalescença dos doentes e, com a expulsão dos padres jesuítas do Maranhão, os bens foram confiscados e a igreja destruída. No seu lugar, foram construídos casas e pontos comerciais.
Carmo - Entre os locais tradicionais da fé católica em São Luís, está o Convento do Carmo, mas pouca gente sabe que o local estava fadado à destruição no século XIX. Com o advento da República, o governo incorporou o Convento ao patrimônio nacional por meio da “Lei da Mão Morta”, podendo o espaço ser descaracterizado. Mas, devido ao empenho da missão dos capuchinhos do norte do Brasil, o espaço foi comprado e restaurado, pois a conservação era precária e os sinais de destruição já eram visíveis pela presença de morcegos e ratos. Hoje, o espaço está recuperado.

Cemitério dos Ingleses era marcado pelo luxo


Onde hoje é o Grupo Escolar Sotero dos Reis era antes ambientado o Cemitério dos Ingleses. Fundado entre os anos de 1816 e 1825, era o cemitério mais luxuoso existente em São Luís. Logo na entrada havia um portal de cantaria, que veio de Lisboa, capital de Portugal, e no local outros portões e gradeados de ferro também chamavam a atenção pela pompa. No cemitério, foram enterrados apenas 242 corpos, entre eles, diplomatas, comerciantes, comandantes de navio, e marinheiros.
Pertencente à Irmandade Bom Jesus dos Passos, o Cemitério dos Passos foi fundado em 1849 e funcionou até 1870. O local ficava nas proximidades da também já extinta Fonte do Apicum. Entre as pessoas que lá foram enterradas registra-se o escritor Antonio Lobo, fundador da Academia Maranhense de Letras.

Mortos sob o Socorrão


A pesquisa inclui ainda vestígios sobre a fundação e relatos sobre alguns dos cemitérios mais antigos da cidade. De acordo com estudos, o Cemitério Antigo ou Cemitério Velho da Misericórdia, onde hoje é a Avenida Pedro II, é considerado o primeiro campo-santo de São Luís. Sem nenhum vestígio sobre a sua existência nos dias atuais, o cemitério era uma extensão da Igreja da Misericórdia e foi fundado em 1776.
Já o cemitério da Santa Casa de Misericórdia foi construído pela Santa Casa em 1805, onde hoje é localizado o Hospital Djalma Marques (Socorrão I), e fechou em 1854. Na sua história, há registro de que nos anos de 1805 a 1830 o local era destinado para enterros dos escravos africanos não batizados. Estima-se que neste cemitério foram sepultados, em 25 anos 15.407 escravos. Nos 50 anos de funcionamento, os registros dão conta de que foram enterrados 41.280 corpos. O encerramento das atividades do cemitério teve ligação com a peste da bexiga. O cemitério foi interditado por não haver mais espaço para enterros. Com a interdição, a capela também deixou de existir.
Das curiosidades do Cemitério da Santa Casa de Misericórdia é que, apesar de nos primeiros 25 anos ter sido destinado ao enterro dos escravos, com o tempo transformou-se no principal cemitério para a aristocracia rural maranhense. A sepultura do Jardim das Flores, destinada aos sócios, custava 20 mil réis. Na destruição, perderam-se os ricos mausoléus de mármores e as obras de artes pertencentes às famílias de grande poder econômico. Os mausoléus imponentes simbolizavam a sociedade escravagista da época.

Os Passos da Via Sacra


Em uma cidade com tantos templos religiosos, é natural que em São Luís tenha existido caminhos para a peregrinação cristã. Destes roteiros, existia “Os Passos da Via Sacra” onde se recriavam os passos da Via Crucis, o roteiro era nas ruas do Centro. Esse era um ritual católico tradicional que com o tempo, pelo menos em São Luís, foram reduzidos ao interior das igrejas. Dos Passos da Via Sacra, apenas dois pontos lembram o antigo roteiro, um na Rua Vital de Matos, outro na Rua Afonso Pena.
Outro local que, possivelmente, poderia se tornar um caminho de peregrinação era o espaço onde existia a Capela e o largo de São Tiago, localizado na Rua da Barraquinha, no centro de São Luís, fundado em 1789, pelo Capitão José Salgado de Sá Moscoso. No arquivo do escrivão de Capelas e Resíduos, existe uma escritura feita em 1788, o Capitão José Salgado e sua mulher faziam doações anuais de patrimônio para a capela, mas a capela não resistiu ao tempo, toda a área foi vendida para a construção de pontos comerciais e de um conjunto habitacional para funcionários públicos e graduados.

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