quarta-feira, 27 de julho de 2011

Giba prepara despedida da seleção: ''Não dá mais''



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SÃO PAULO - Giba já não aguenta mais. Depois de 16 anos desde sua estreia pela seleção brasileira, o capitão prepara a despedida. A paixão pelo ambiente, pelo grupo e pela rotina de títulos ainda está lá. Mas a decisão já foi tomada, e a data, marcada: o fim das Olimpíadas de Londres, em 2012. O relógio, apressado, marca exatamente um ano para o início da competição. E o maior ícone do período mais vitorioso do vôlei brasileiro reconhece que não será fácil deixar de lado a velha camisa amarela, com o número 7 estampado nas costas.

- Já coloquei na minha cabeça. Não dá mais. Minha filha me ligou outro dia chorando, dizendo que estava com saudades. Eu estava na estrada, cheguei em casa e disse que estava tudo bem. Mas a criação acaba sendo outra. E isso pesa muito. Claro, vou sentir falta de tudo. Da convivência, de estar em quadra e ouvir o hino. Estar em um ginásio lotado, representando seu país. Quem está fora fica arrepiado, imagina eu? – disse o capitão, que completa 35 anos em dezembro e tem, pela seleção, um ouro olímpico, três títulos mundiais e oito conquistas da Liga Mundial.

Condições para seguir, ele afirma ter de sobra. Depois de uma temporada marcada por lesões em 2010, o ponteiro voltou a ser decisivo nos jogos da seleção durante a Liga Mundial deste ano. O ritmo pesado e o tempo longe da família, no entanto, apressaram a decisão de deixar a equipe no ano que vem.

- Em 20 anos de seleção, contando juvenil e outras de base, eu nunca fiz uma cirurgia. Sou um abençoado por isso. No ano passado, fiquei no banco no Mundial e sei que ajudei mesmo assim.

Por conta da boa forma, Giba afirma que teria condições até mesmo de chegar aos Jogos de 2016 ainda representando o Brasil. Mas nem isso o balançou para que mudasse de ideia. Os planos para o "depois", no entanto, não deixam a competição de lado. Mesmo que seja fora de quadra.

- Sinceramente? Nem isso me balançou. Mas eu me vejo trabalhando nos Jogos, mesmo que seja em outra área. Claro, se me derem a oportunidade.

Antes, pretende encerrar sua história na seleção com uma outra conquista. Apesar da prata na Liga Mundial, o ponteiro acredita que o Brasil tem todas as possibilidades de voltar de Londres com mais um ouro olímpico.

- Se pararmos para lembrar, sempre perdemos alguma coisa antes de um evento importante. Antes do Mundial, perdemos dois jogos para a Alemanha que todo mundo passou a perguntar o que iríamos fazer lá. Fomos bem na Liga Mundial. Mas foi como o Serginho (líbero) me disse depois do jogo contra a Rússia: "A bola já bateu na trave tantas vezes e entrou a nosso favor. Hoje, entrou para eles". É uma coisa que acontece. Nosso objetivo é maior.

Ícone maior de uma geração que se acostumou a vencer, Giba reconhece que o país anda carente de ídolos. O capitão, porém, entende o vôlei como um esporte à parte. Com uma equipe renovada e forte a cada geração, ele diz encontrar em Murilo seu sucessor.

- O Brasil é carente de ídolos. E é um país que necessita muito, por conta de todos os problemas. Cada um que ganha algo já é um guerreiro. Mas o vôlei tem uma base que já foi criada há anos. Troca uma geração e se mantém um nível muito alto o tempo inteiro. E o Murilo é o capitão dessa geração. Ele tem esse perfil de jogador. E eu fico feliz por ter ajudado ele. Sou capitão desde 2007. Se virmos o tempo que eu estou na seleção, é pouca coisa. Antes, tivemos o Nalbert, o Ricardinho, o Gustavo por um tempo. Temos a sorte de contarmos com uma série de jogadores que podem assumir essa posição, que têm a responsabilidade para isso.

Para Giba, nem mesmo a polêmica criada em torno da derrota para a Bulgária, no Mundial do ano passado, pode ser encarada como um episódio ruim em sua passagem pela seleção. O ponteiro acredita que as acusações de “marmelada” foram apenas notícias fabricadas. A vitória, no fim, é o que conta.

- Quando se trata do Brasil, ganhar não é mais notícia. Se ganhar, sai apenas uma linha no jornal. Se perder, é o caos. Se o futebol vai fazer um amistoso no Japão, vão 52 redes de TV acompanhar tudo. Quando fizerem isso com a gente e souberem como é a nossa situação, todos poderão cobrar. Por que não fizeram isso quando Kaká e Robinho foram poupados em um jogo da seleção na Copa (no jogo contra Portugal, quando o Brasil já estava classificado para as oitavas de final)? Eles foram poupados para descansar. E foi o que fizemos também.

Para Londres, Giba acredita que o Brasil tem condições de ter um desempenho melhor do que nas últimas edições dos Jogos. Para ele, porém, o país tem se preparado para chegar a um nível superior apenas em 2016.

- Eu acho que, nas Olimpíadas de Londres, vai ser criada uma expectativa muito grande, mas os resultados não vão ser tão bons quanto no Rio. Estamos trabalhando para chegarmos bem em 2016. Estamos com bons projetos para crianças, jovens. Vem sendo feito um trabalho muito bom de base, principalmente em esportes que não são tão praticados no Brasil.

Sobre seu tempo na seleção, Giba não escolhe nem o melhor nem pior momento. Também não sabe do que sentirá mais falta. Brinca, porém, ao dizer exatamente o que não deixará saudades.

- O melhor momento foi quando eu entrei na seleção, e o pior vai ser quando eu sair. Qualquer momento na seleção é especial. Poderia falar de um torneio em Atlanta, em 95, quando estreei pela seleção principal, ou o Sul-Americano de 93 pela base. Não tenho do que não sentir falta. Aliás, só não vou sentir falta nenhuma das broncas do Bernardinho. Isso eu não posso deixar de falar – brincou, aos risos, o capitão.

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