Wilson Lima
Da equipe de O Estado
A história maranhense apresenta um acervo de contradições e de fatos curiosos que nem sempre é do conhecimento geral. Durante o II Simpósio de História do Maranhão Oitocentista, que acontece de hoje até sexta-feira, serão lançadas duas obras que mostram esse Maranhão pitoresco, a partir da biografia de nomes famosos e de outros nem tanto.
Os livros “Maranhão: ensaios de biografia e história”, de Marcelo Cheche Galves, e “O Epaminondas Americano”, de Yuri Costa, ambos professores da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), a serem lançados quinta-feira dia 9 de junho, às 19h30, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande), mostram exatamente isso.
O primeiro trata-se de uma coletânea de artigos de professores e historiadores maranhenses que contam a história do Maranhão baseados na vida de alguns personagens como Ana Jansen, Padre Vieira, Maria Aragão, e o ex-governador Fernando Noronha. Uma missão similar a de “O Epaminondas Americano”, uma biografia do jurista maranhense Manoel da Paixão dos Santos Zacheo. Um homem à frente do seu tempo, mas contaminado por problemas e contradições do Maranhão do século XIX.
Em entrevista a O Estado, o professor doutor Marcelo Cheche Galves fala um pouco sobre as duas obras e revela como a vida em carne e osso ajuda a descobrir um pouco da vida do Maranhão.
O Estado - Qual é o aspecto de inovação dos dois livros para a historiografia maranhense?
Marcelo Galves - São obras distintas quanto à abrangência (a primeira reúne 20 artigos, enquanto a segunda recupera uma única trajetória), mas similares na perspectiva do gênero biográfico, revitalizado pela historiografia brasileira das últimas décadas.
OEstado - Sobre o livro “Maranhão - ensaios de biografia e história”, verifica-se que são retratados tanto personagens conhecidos como Maria Aragão, Ana Jansen, Padre Antônio Vieira, como gente menos conhecida como Francisco Antonio Brandão Jr. (maranhense que teria realizado a primeira aplicação das “doutrinas sociais” de Augusto Comte à realidade brasileira); o músico Adelman Corrêa e outros. Por qual motivo se misturam tantos personagens, com histórias tão distintas em uma mesma obra?
Marcelo Galves - O gênero biográfico esteve associado, por muito tempo, à ideia de “vultos”, “efemérides”. Tal associação fez com que as biografias perdessem espaço diante do movimento de renovação da escrita da História. Hoje, conciliamos melhor narrativas individuais e os novos objetos e abordagens da História, que incluem o estudo de “pessoas comuns” e novos olhares sobre aqueles que foram heroicizados historicamente. Penso que a proposta era surpreender. Aos vinte autores convidados, não fizemos qualquer restrição, nem estabelecemos qualquer critério para a escolha de seus personagens. Os artigos revelam pessoas de “carne e osso”. Essa humanidade aproxima nossos estudos do público leitor.
OEstado - Do outro lado, o livro também detalha a trajetória de personagens com Ana Jansen e Padre Vieira entre outros já retratados em obras anteriores. De fato, quais são os aspectos inéditos da vida destes personagens mais conhecidos e que são abordados em “Maranhão – ensaios de biografia e história”?
Marcelo Galves - O ineditismo talvez esteja menos nas informações do que na abordagem. Lidamos em nosso ofício com a tarefa diária de reescrever um passado a partir de olhares fincados no tempo presente. O avanço de outras religiões (que não a católica) e as recentes conquistas das mulheres, por exemplo, alteram sobremaneira o olhar sobre os personagens que você citou.
OEstado - Por fim, em “Epaminondas Americano”, vocês fala das transformações na província do Maranhão durante o século XIX a partir da vida do jurista maranhense Manoel da Paixão dos Santos Zacheo, que alinhavou projetos para o Código Civil e Criminal do Império, já em 1825. Agora, o interessante desse personagem é que ele personifica, de certa forma, as contradições do Maranhão do período. O senhor poderia falar um pouco dessas contradições a partir de Zacheo?
Marcelo Galves - Zacheo é um personagem desafiador. Do momento em que chegou ao Maranhão, em 1810, até sua morte, décadas depois, envolveu-se nos mais variados debates: constitucionalismo, escravidão, independência, catequização dos índios... Atuou como advogado, publicista e conselheiro provincial. Atribuir um sentido único a sua trajetória seria traí-lo, desumanizá-lo. Oferecemos ao leitor um personagem inquieto. Esperamos que seja bem recebido.
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