quinta-feira, 9 de junho de 2011

Athenas Brasileira sob ponto de vista histórico

Athenas Brasileira sob ponto de vista histórico


Carla Melo
Do Alternativo

Resultado da tese de doutorado defendida na Universidade Federal Fluminense em 2009, o livro “Uma Athenas Equinocial: a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro”, do historiador e professor José Henrique de Paula Borralho, será lançado hoje, às 19h30, no Teatro Alcione Nazaré, Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (Praia Grande). A publicação é a vencedora do prêmio Antonio Lopes, do 32º Concurso Literário da Cidade de São Luís, categoria Erudição.

Nas 446 páginas, o professor trata de como se confeccionou o epíteto de Atenas em São Luís. “O livro é fruto de anos de pesquisa e indagação de como, no período imperial brasileiro, parcelas da sociedade que habitavam a cidade de São Luís decidiram se autocognominar herdeiros da civilização grega, a tal ponto de assumirem que o Maranhão, então província, era Athenas Brasileira”, explica Henrique Borralho.

Para o professor, lideranças intelectuais e políticas do período encontraram no referencial grego uma resposta ao caos pelo qual o estado passava naquele momento, especialmente com a Guerra da Balaiada. “Ao mesmo tempo, esses intelectuais costuraram uma articulação política entre o emergente estado imperial brasileiro e a recém-formada província do Maranhão”, observa Borralho.

A maior circulação de livros, o aumento da atividade tipográfica e a participação de expoentes como Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Sotero dos Reis e Gomes de Sousa no cenário nacional fortaleceram a ideia de Athenas. “Não elimino a capacidade literária de nenhum deles, mas o fato é que estavam coadunados em uma rede de relações que favoreceu esse reconhecimento”, diz o autor.

Henrique Borralho pesquisou em São Luís e no Rio de Janeiro sendo que, no último, as fontes foram mais abrangentes. Jornais, livros de literatura e de poesias maranhenses, correspondências de Gonçalves Dias com Dom Pedro II, relatórios de província, almanaques, revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), folhetins de João Lisboa, correspondências de Odorico Mendes, além de instituições como Academia Brasileira de Letras, Gabinete Português de Leitura, Arquivo Nacional, Biblioteca Pública Benedito Leite, Casa de Cultura Josué Montello, Arquivo Público do Estado do Maranhão foram consultados.


Partes – Dividido em quatro capítulos, o livro aborda o tema sob diferentes aspectos. Na primeira parte – “A ‘pentarquia’ maranhense como ideação da Athenas brasileira” - há um balanço sobre a Athenas Brasileira ao longo da historiografia maranhense. O professor enfatiza o momento da formação do epíteto, sua repercussão e as discussões e debates em torno do tema. “Neste mesmo capítulo abordo alguns debates sobre questões como nação, raça, religião, imprensa e, sobretudo, literatura, destacando o papel do romantismo como corrente literária com peso significativo na construção dos sentidos da identidade nacional”, diz o professor.

A segunda parte, intitulada “Um banquete para poucos: um perfil dos membros da elite ludovicense” parte da análise de algumas partes de “O Panteon Maranhense”, de Antonio Henriques Leal. Borralho resgata biografias de alguns vultos importantes na construção, bem como na consolidação da ideia de Athenas.

“Quando a pentarquia vira tetrarquia”, é o nome da terceira parte do livro. Nesta etapa, o autor centra nas figuras de Odorico Mendes, Sotero dos Reis e Gonçalves Dias.

Último capítulo aborda as críticas à denominação

O quarto e último capítulo, “As colunas do aryry do panteão ludovicense”, se dedica à obra de João Lisboa e à crítica à ideia de Athenas a partir de seu legado. Apesar de compor o grupo de intelectuais que servem de referência a esta ideia, Lisboa critica não só este mito, como também os costumes da sociedade dominante. “Para Lisboa, a ideia de Athenas era bizarra”, diz o professor.

O professor Borralho explica que seu interesse com o livro não foi provar que não existiu uma Athenas equinocial. “Ao contrário, quero evidenciar por que parcelas da sociedade maranhense e mais precisamente de São Luís erigiram para si este semióforo”, destaca Borralho.

Perguntado sobre se existiu uma Athenas, o professor responde que sim, “para aqueles que a consideravam e se consideram”. A pergunta respondida no livro, no entanto, não é esta, já que este não é foco. Ao longo da publicação, Borralho aponta as perspectivas de porque a sociedade maranhense optou conscientemente em selecionar determinadas representações em detrimento de outros segmentos sociais.

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