domingo, 12 de setembro de 2010

Zeca Baleiro e os altos e baixos dos novos discos

Zeca Baleiro

Bruna Castelo Branco
Da equipe de O Estado

Com 13 anos de carreira, o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro inicia as comemorações da trajetória musical lançando os álbuns “Concerto” e “Trilhas: Música Para Cinema e Dança” pelo selo Saravá Discos. O primeiro é um registro mais intimista gravado ao vivo no Teatro Fecap (SP) em um show que ficou em cartaz por três semanas e reúne músicas autorais e interpretações de canções de nomes como Cartola, Chico César, Camisa de Vênus, Foo Fighters executadas essencialmente com arranjos para violão. O segundo, “Trilhas”, tem composições para cinema e espetáculos de dança, atividade que Baleiro desempenhou nos últimos 11 anos.

Dos dois álbuns, “Concerto” pode ser considerado o mais fácil de agradar o público, reunindo 14 faixas, entre regravações da “discografia afetiva” e canções inéditas. O álbum chama atenção pela poesia, ironia e uma interpretação forte e inspirada. Entre as canções que, facilmente devem conquistar o público destaca-se “Barco”, uma composição de Chico César, escolhida para ser a primeira faixa do disco, que guarda em si uma melancolia poética expressa nos versos “Choro contigo barco/ pela praia que deixas/ pelo sol que se deita/ longe das pedras dos cais (...)”. Também na linha de melancolia, merece citação a boa interpretação de “Chuva”, de Gilson e Joran. De sua autoria, a atenção volta-se para “Milonga Del Mejor”, uma parceria com Vanessa Bumagny e “Mais Um Dia Cinza em São Paulo”, que consegue ser tão cinza quanto o nome escolhido.
Nem o tom mais intimista de “Concerto”, nem a gravação de “Canção Para Ninar Neguim”, uma homenagem a Michael Jackson, e nem mesmo a interpretação de “Autonomia”, de Cartola, chama mais atenção do que a ironia fina presente nas canções “A Depender de Mim” e “Armário”. A primeira faz uma crítica a psicanalistas, publicitários, padres e pastores. Mostra uma independência nas escolhas, ainda que cheia de contradições como: “meu pai dizia: o verdadeiro homem sabe o que quer/ ainda que não queira”, entre outros trechos. Já “Armário” fala dos segredos sociais que todo mundo conhece. Em outras palavras, as dificuldades em assumir o homossexualismo, por medo de preconceitos: “Quero mais que tudo/ mas sinto tanto medo/ Um medo absurdo/ Medo dos vizinhos/medo da mommy, medo do daddy/ e do meu irmão que já foi skinhead”. A canção é executada de forma primorosa no violão.

Som de fundo - Com músicas feitas para integrar filmes e espetáculos de dança, “Trilhas” é um álbum cujo processo de estranhamento é bem mais demorado que “Concerto”. De primeira, não é possível arriscar qual delas vai conseguir emplacar não só nas rádios, mas no repertório individual dos fãs de Baleiro.
Com 12 músicas, sendo quatro instrumentais e oito canções, extraídas das trilhas de dois filmes: o longa “Carmo”, do diretor paulistano Murilo Pasta (prêmio do público de melhor filme da Mostra Internacional de São Paulo de 2009) e “Flores para os Mortos”, um curta metragem experimental de Joel Yamaji; e três espetáculos: “Cubo”, do grupo paulista LúdicaDança, “Geraldas e Avencas”, do grupo mineiro 1º Ato, e “Mãe Gentil”, misto de dança, teatro e vídeo.

Talvez a sensação aconteça pelo fato de as canções estarem separadas das obras para as quais foram compostas e, por isso, necessite de mais tempo para serem compreendidas fora do contexto original. No entanto, é possível arriscar alguns destaques como “Carmo”, feita para o filme homônimo; a ótima “Xote do Edifício”, que fez parte do espetáculo “Geraldas e Avencas” e a divertida “Nome de Amor”, que mostra junção de nomes de casais para batizar os filhos. Do álbum, o que mais chama atenção são as músicas instrumentais que emocionam, sem precisar dizer uma única palavra. Vale a pena ouvir os dois e apreciar dois momentos distintos da carreira de Baleiro, apesar de serem lançamentos simultâneo.

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