Bruna Castelo Brancoj
Enviada especial
Alcântara - Foi lançada na manhã de ontem na cidade de Alcântara (MA) a pedra fundamental para a construção do complexo terrestre da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS) – parceria Brasil/Ucrânia - , que é considerado o ponto-chave para a projeção brasileira no mercado aeroespacial. Obras deverão ter a duração de dois anos.
O evento teve a presença do ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende; dos diretores da Alcantara Cyclone Space (ACS), Oleksandr Serdyuk, representando a parte ucraniana; de Roberto Amaral, da parte brasileira da empresa, e do presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem. Na cerimônia, também foi assinado o termo de cooperação entre o Ministério de Ciência e Tecnologia e a ACS para a construção do Centro Sociocultural Santos Dumont, idealizado para atender à comunidade alcantarense.
Na solenidade, foram recolhidos para a posteridade documentos importantes que marcaram a trajetória da empresa, entre eles o Tratado de Cooperação entre Brasil e Ucrânia, que deu origem à empresa; a licença prévia ambiental; a permissão para a instalação dos canteiros de obras e a autorização final que permitiu a instalação do complexo, emitida pelo Instituto Brasileiro de Meia Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) segunda-feira (6).
De acordo com o diretor da empresa, Roberto Amaral, os documentos selecionados marcaram momentos cruciais para o desenvolvimento da empresa, inclusive a autorização para que as obras fossem iniciadas. “Esse é um projeto de integração. É um momento que simboliza todas as nossas conquistas até agora e é nosso dever dar continuidade a um empreendimento que é, acima de tudo, uma conquista do país”, afirmou Amaral.
O diretor da parte ucraniana da empresa, Oleksandr Serdyuk, enfatizou que, com a conclusão da obra e com o primeiro vôo de qualificação do Cyclone 4, o Brasil terá condições de realizar lançamentos comerciais em parceria não só com a Ucrânia mas, também, com outros países. “Gostaria de agradecer a todos que nos ajudaram neste projeto que é tão importante para os dois países. Vocês serão testemunhas do lançamento do Cyclone em 2012”, declarou.
Estrutura - A construção do complexo é composta por três sítios distintos, sendo um o de lançamento; um complexo técnico e o de condicionamento de propelentes. Segundo o diretor da ACS, Roberto Amaral, na próxima segunda-feira será assinada a ordem de serviços com as empresas Camargo Corrêa e Odebrecht, contratadas para a realização das obras, que devem ser iniciadas em 10 a 15 dias. “Conforme cronograma, esperamos concluir a obra em dois anos, mas temos que considerar o período chuvoso aqui no Maranhão, que é muito intenso”, observou Amaral.
Pelo cronograma, a previsão é que a estrutura do complexo, que será construída em uma área do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e que ocupará 462 hectares, seja finalizada em um prazo máximo de dois anos.
A primeira operação de lançamento está prevista para 2012 com o vôo de qualificação do Cyclone 4, que possibilitará os lançamentos comerciais. A estimativa da empresa é realizar cerca de seis lançamentos ao ano, cada um orçado em R$ 50 milhões.
Quanto à construção do Centro Sociocultural Santos Dumont, recursos serão utilizados para a recuperação do casarão histórico cedido pela Prefeitura de Alcântara, no centro da cidade. Após a recuperação do imóvel, será firmado um convênio com o Ministério do Trabalho para a realização de cursos de qualificação de mão-de-obra da população local. Antes, porém, haverá um levantamento para saber quais os setores que mais necessitam de qualificação. “Nossa intenção é aproveitar os recursos da comunidade, mas as pessoas precisam ser treinadas por meio de cursos de construção civil, entre outros. Também temos um projeto para qualificar pescadores e agricultores, para que eles possam aproveitar melhor a fonte de renda, preservando seus hábitos culturais”, informou Roberto Amaral.
Intercâmbio - O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, destacou que a concretização da empresa Alcantara Cyclone Space é importante para o desenvolvimento tecnológico do país que, embora, tenha em Alcântara o melhor local para lançamentos do mundo, em termos de tecnologia ainda se encontra em estágio atrasado em relação a outros países. “Nossa cultura tecnológica é muito recente em comparação a outros países. Começamos a investir na formação de pesquisadores somente na década de 60. Tivemos muitos avanços nos últimos anos em intercâmbio tecnológico e qualificação. Nosso trabalho foi para vencer etapas. O Brasil, até 2022, terá um completo programa espacial”, avaliou Rezende.
O ministro lembrou que a parceria do Brasil e Ucrânia, que deu origem à Alcântara Cyclone Space, é um passo importante para a troca tecnológica entre os dois países. Da parte brasileira, a melhor localização para a realização de lançamentos e da parte ucraniana, uma tecnologia avançada na fabricação de foguetes.
TMI - O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, classificou o evento como uma síntese de quase uma década de esforços para colocar o Brasil como um país importante nos lançamentos comerciais. Ele disse ainda que o ato também simboliza um ganho social e cultural para o país, principalmente para o Maranhão.
“Além da ACS, Carlos Ganem lembrou os projetos do Programa Espacial Brasileiro desenvolvidos para o Centro de Lançamento de Alcântara. Entre eles a finalização da Torre Móvel de Integração (TMI), que será utilizada para o lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS), prevista para ser entregue em dezembro deste ano.
A TMI tem um investimento de R$ 44, 1 milhões, 10 metros de largura e 34 de altura. “O projeto está praticamente pronto. É completamente distinto da que nós perdemos em 2003”, finalizou Carlos Ganem.
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