O Brasil acordou com um problemão. Não tem mais a quem odiar. Tessália foi expulsa de forma humilhante do BBB 10. Mataram a Odete Roitman no início da novela. E agora?
A vilã. A megera. A vadia. O talento da menina para fazer inimigos é espetacular. Um misto de leveza, sensualidade, arrogância e maquiavelismo realmente intrigante. Um personagem raro.
O brasileiro, pelo visto, prefere vilões óbvios. Não gosta de mocinhas doces que quebram as regras olhando no olho do telespectador. A turma prefere bandidos com cara de mau. Se não confunde, né?
O próximo movimento é o povão sentir alguma pena dessa moça. Ela foi duramente castigada. Está sendo esquartejada em praça pública. Jogaram pedra na Geni. Só nos restará o perdão.
Lembram do tórrido vídeo da Cicarelli com o namorado, nas praias de Cádiz? Ela foi dada como morta para a TV. Morreu mesmo, mas ainda recebe cachê. Brasileiro é bonzinho.
Mas tem surtos inquisitoriais de moralismo. Vejam a profusão de corpos nus cometendo adultérios na trama das oito. O pessoal está bravo. Porque uma mulher chifrada decidiu botar galhos no marido cafajeste. Isso não pode.
Também não é permitido se esconder debaixo do edredom para carícias colegiais. É indesculpável. A Sabrina e a Grazi também ficaram com homens comprometidos no BBB. Mas elas são fofas. E burrinhas. Então, pode.
A truculência é privilégio dos marmanjos. A sexualidade também é atributo masculino. Ficam charmosos, os safados. O Dado Dolabella, por exemplo. Um galã.
A Tessália deveria namorar o Igor Cotrim, da Fazenda. Este rapaz representou um vilão de comédia divertidíssimo. Inteligente, debochado, inquieto.
Eles fariam um par antológico. Como o Igor é bem casado, teríamos um começo eletrizante. Ele cuidaria dos diálogos sarcásticos. Ela planejaria cada uma das artimanhas. Trariam audiência. Mas seriam eliminados antes da decisão.
Façam uma pesquisa: a maioria dos que vencem realities shows é fuinha. Sem graça. Pastel. Tonto. É a vingança dos fracos e oprimidos.
Mas é só um jogo. Na vida real, o vilão se dá bem. Foge com o dinheiro roubado para o Caribe. Manda bananas para o povo brasileiro. Como nas novelas de hoje em dia.
Ai, que saudades da Odete Roitman, a vilã que pagou por todos os seus erros. No final. Que falta que ela faz.
Ninguém, gay ou hétero, tem obrigação de representar categoria alguma, embora Jean Willys tenha orgulhado muito a LGBT de todo o país. Dito isso, lá vem um novo e viciante décimo BBB.
O fato é que o brasileiro ficou viciado em domingos de confessionário, segundas de jogo da verdade, terças de paredão, quartas de animadas festas temáticas, quintas de liderança, sextas de anjo e monstro e telefonemas fatais e mais festa aos sábados. O formato televisual deste reality show é envolvente e chocante.
Como se não bastasse, a cada edição torna-se cada vez mais criativo em sua perversidade. É irresistível, para um simples mortal como eu, o voyeurismo de saber como vão reagir os confinados às crueldades desse formato. Dá pra saber quantos batimentos cardíacos a pessoa tem a cada minuto de seu drama ou se está mentindo no confessionário.
Uma novidade sensacionalista, este ano, foi o convite específico para dois gays muito efeminados e uma bela lésbica, agrupados obrigatoriamente como “os coloridos” da casa. Imediatamente, imaginei que a idéia fosse provocar os mauricinhos e patricinhas habituais do programa a reagir à androginia gritante de dois “viados” e à beleza e graça da “sapatão”.
Com uma semana de vigilância, estão se saindo bem, sem grandes ferimentos. Os héteros, por sua vez, já se queimaram com práticas de homofobia enrustida ou surpreenderam ao se mostrarem relaxados com a segurança de sua sexualidade. É consolador ver homens viris e musculosos deitando na mesma cama do gay para brincar e demonstrar carinho!
Por outro lado, a pessoa mais evidentemente homofóbica da casa tem provocado uma reação curiosa. Numa votação popular para definir quem teria o “Poder Supremo” (o direito de mudar grandes decisões no jogo), o professor de boxe Marcelo Dourado foi escolhido com 24% dos votos. Com 10%, o maquiador e drag queen Dicesar ficou em segundo. Parece uma reação ao excesso de bichas e bichices no programa.
As reações de asco de Dourado e as frases suspeitas em relação aos gays são visíveis e audíveis desde o início do programa. Ele também é a pessoa que mais questiona o conceito de homofobia. Sem falar no debate de primeira semana sobre as suásticas tatuadas no braço do gaúcho. Apesar desses “pequenos” detalhes, muitos afirmam que ele não é homofóbico.
Outro efeito dos coloridos no BBB é a irritação de muitos com a acusação de homofobia. A mesma irritação que se tem com o movimento LGBT quando enxerga homofobia no comportamento de gente importante. Todo mundo finge não saber o que é homofobia. Fazer piadinha ou achincalhar gays ou dizer frases esquisitas não é homofobia, nem ofende ninguém, dizem. Porque viado se ofende quando alguém faz trejeitos engraçados na TV?
A votação de Dourado e a impressão de que os coloridos exageram ao falar em homofobia são duas faces do mesmo movimento: uma perigosa reação contra o vocabulário e a visibilidade do movimento LGBT. É bom pensar nisso!
Em tempo: Dois sortudos moradores de São Luís já foram contemplados com carros zero km nesta décima ediçao do BBB.
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