segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Entenda porque o Estado Islâmico executa alguns gays e outros não

Os fatos internacionais que desafiam a lógica e o bom-senso explicados de maneira clara e atraente

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Eduardo (Duda) Teixeira é jornalista e editor de internacional da revista Veja. É autor dos livros O Calcanhar do Aquiles (Arquipélago), sobre a Grécia Antiga, e Guia Secreto de Buenos Aires (Record). Em 2011, publicou com Leandro Narloch o Guia Politicamente Incorreto da América Latina (Leya)

Por que os terroristas do Estado Islâmico (Isis) executam gays, mas mantêm homossexuais em suas fileiras?

Muitos muçulmanos condenam os gays passivos, mas toleram os que são ativos em um relacionamento. Isso acontece no Talibã, entre os iranianos e os príncipes sauditas

Por: Duda Teixeira

Na Síria, terroristas do Estado Islâmico jogam de um prédio jovem de 15 anos, acusado de ter tido relações comum comandante do grupo
Na Síria, terroristas do Estado Islâmico jogam de um prédio jovem de 15 anos, acusado de 
ter tido relações comum comandante do grupo

Ainda que governos do Oriente Médio persigam homossexuais, muitos islâmicos têm para com eles uma postura paradoxal: condenam os que são passivos na relação e aceitam os que são ativos. Assim pensam muitos terroristas do Estado Islâmico (Isis ou EI) no Iraque e na Síria, membros do Talibã no Afeganistão e príncipes na Arábia Saudita.
No início deste ano, um jovem de 15 anos foi lançado de um prédio por terroristas do Estado Islâmico em Deir ez-Zor, na Síria. Ele fora encontrado na casa do comandante do Estado Islâmico, Abu Zaid al-Jazrawi. Enquanto o menino foi executado por ser gay em frente a uma multidão (na foto acima), Jazrawi foi chicoteado e mandado para lutar no Iraque. Mais velho que o parceiro, ele não foi excluído do grupo.
Um caso parecido aconteceu em 2010, quando um príncipe saudita, Saud Abdul Aziz bin Nasir al-Saud, foi condenado à prisão perpétua em Londres por matar seu escravo, depois de lhe dar umas mordidas na bochecha. Apesar de dormirem juntos e de se comportarem como um casal, o príncipe passou boa parte do julgamento insistindo que era hetero. “Matei, sim, mas que meu país fique tranquilo: não sou gay”, disse al-Saud na época.
Na Turquia, a homossexualidade pode ser motivo para escapar do alistamento militar. Os médicos então pedem para ver fotos e vídeos dos recrutas fazendo sexo com um homem. Segundo a revista alemã Spiegel, se o candidato estiver na posição de passivo, a homossexualidade é comprovada. Mas se aparecer como ativo, então vai para as forças armadas do mesmo jeito.
E entre os muçulmanos xiitas? Pelas regras do Irã, um homem que tenha tido um papel passivo em um relacionamento homossexual deve ser enforcado. Se tiver sido o ativo, contudo, recebe uma pena é mais branda: é chicoteado 100 vezes.
Dá para explicar isso? No mundo islâmico, é muito difícil um jovem ter um encontro amoroso com uma mulher. Por esse motivo, sempre houve alguma tolerância em relação ao sexo entre os homens. Em alguns textos religiosos, fala-se até que, além das 72 virgens, os homens poderiam encontrar garotos “brancos como pérolas” no paraíso. Permeia também a noção de que o gay ativo ainda poderia se reproduzir com uma mulher e, portanto, deveria ser poupado.
Fora esses casos, o castigo é severo. Os tribunais baseados na sharia, a lei islâmica, normalmente se baseiam no trecho do Corão em que os habitantes de Sodoma (“o povo de Lot”) são mortos por se aproximarem dos homens, e não das mulheres (26:165-166).
(Observação: o parágrafo sobre o alistamento militar na Turquia foi inserido no dia 28 de janeiro de 2016)

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