sábado, 25 de outubro de 2014

Argentinos pretendiam ficar na cidade apenas três dias, mas se encantaram com a Ilha...

Argentinos viajam em ônibus e ficam dois meses em São Luís

Eles pretendiam ficar na cidade apenas três dias, mas se encantaram com a Ilha, o tambor de crioula, folclore e música.
 
Foto: Biaman Prado
Família de argentinos e agregados
Eles estão a 3.835 quilômetros de casa, mas os visitantes somos nós. O grupo de argentinos que passa por São Luís, em viagem pela América do Sul, recebe O Estado em sua sala, instalada em um dos cômodos do ônibus azul - um trailer Mercedes-Benz, modelo clássico, da década de 1960 - que se tornou a moradia da família Marassa desde janeiro deste ano, quando teve início a aventura.
Todo o percurso é feito no veículo motorhome de 1969 e placas VNX-927, da Argentina. Duas camas de solteiro fazem a vez de sofá para os visitantes, na casa sobre rodas. A argentina Gabriela Marassa, de 47 anos, é a líder da expedição. Ela explica como teve início essa jornada que partiu de Córdoba (Argentina) e percorreu o litoral brasileiro até chegar à capital maranhense há dois meses. Enquanto conta as aventuras, seus filhos, Luna Bonilla Marassa, de 13 anos, e Simon Marassa, de 5 anos, brincam com cartas de baralho.
Gabriela Marassa, que trabalha como ourives em seu país, vendeu um carro e comprou o ônibus-casa por cerca de 10 mil dólares. Reformou o veículo e guardou algum dinheiro para usar durante a jornada. Para que não faltasse nenhum mantimento nem combustível durante o percurso, ela começou a trabalhar como artesã dentro do ônibus, produzindo bijuterias e outros acessórios para vender por onde passa.
O irmão de Gabriela Marassa, o músico Martin Marassa, de 39 anos, é outro membro da expedição. Mas ele só se juntou à irmã em julho, já no Brasil. "Atrasei-me por causa de trabalhos na Argentina. Estava terminando a gravação de um disco. Encontrei-os já no Nordeste brasileiro, em Fortaleza, no Ceará", explicou.
Apesar de ter 45 anos, o motorhome é confortável e está em muito bom estado, garante Gabriela Marassa. É ela quem dirige o veículo durante todo o percurso. O ônibus tem um quarto com uma cama de casal, onde dormem as crianças, uma sala com duas camas de solteiro, onde dormem os adultos, um banheiro, uma cozinha equipada com fogão e, o mais importante, "nunca pregou", assegurou a proprietária.
O ônibus já percorreu 12 mil quilômetros com a família. Durante o trajeto, tornou-se abrigo para mais dois moradores, o também argentino Sebastian Velazquez, de 28 anos, e a uruguaia Elizabeth de Leon, de 36 anos.
Sebastian Velazquez também é artesão. Viajava sozinho pelo Brasil há um ano e dois meses. Tornou-se amigo da família Marassa em um encontro e resolveu acompanhá-la durante a viagem. Já Elizabeth de Leon é artesã e há três anos passou a viajar pela América Latina, com sua mãe e uma amiga. "Minha mãe decidiu voltar para a Argentina, pois ela é de lá. Eu escolhi seguir viagem", disse.

Sonho - Gabriela Massara disse que a viagem pela América Latina é um sonho que vinha sendo planejado por ela há pelo menos três anos. "Eu morava tranquila em Córdoba, mas queria conhecer a América Latina. A maneira mais cômoda para se fazer isso, pensei, seria em um trailer. É uma nova forma de vida, uma viagem apaixonante e marcante. Queria que meus filhos pudessem ter essa experiência, saber que basta uma pequena estrutura para viver, que há liberdade", declarou.
Para que as crianças não fossem tão afetadas, a mãe garantiu que elas não parassem de estudar durante a viagem. A mais velha, Luna Bonilla Marassa, ingressou em um programa de estudos do Ministério da Cultura da Argentina e assiste às aulas pela internet. O mais novo, Simon Marassa, 5 anos, por causa da idade, é ensinado pela mãe e pelo tio.
Gabriela Massara tratou um pouco mais sobre as vantagens em viajar em um trailer. "Não precisamos procurar abrigo, pagar pousadas, estender barracas, nem tampouco arrumar a bagagem, a toda hora ter de desfazer e refazer as malas. Também economizamos com comida, pois podemos ir ao supermercado e cozinhar tudo no fogão do veículo. E não precisamos pagar para utilizar o banheiro, como ocorre nas rodoviárias brasileiras", comentou.
Para Martin Marassa, viajar pelo Brasil lhe trouxe muitas surpresas, principalmente em São Luís. "A beleza natural, das praias, a solidariedade do povo, principalmente dos nordestinos, me deixou encantada. Viemos a São Luís por indicações de outros viajantes. Eles nos informaram que aqui seria a Jamaica Brasileira. Quando chegamos, encontramos muito mais que reggae. Planejamos passar três dias na cidade, ficamos dois meses. Conhecemos o tambor de crioula e um mundo inimaginável de folclore e música", informou.

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O próximo destino do ônibus argentino é Belém-PA. De lá, os viajantes pretendem ir a Santarém, no mesmo estado, e embarcar em uma balsa para chegar a Manaus-AM.

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