“50 anos de atraso!… dos cabeças de inveja”, dispara Sarney, sobre críticas da oposição
Da Coluna do Sarney
Maranhão X Pará
"A guerra foi grande. Os paraenses me atacavam por querer trazer o ferro de Carajás para o Maranhão e um deles chegou a dizer que só faltava agora eu trazer a Festa de N.S. de Nazaré."
(José Sarney)
A então Vale do Rio Doce não se interessou pela mesma, pois estava concentrada em Minas Gerais e nada queria nesta região. Com a ida do César Cals, que tinha sido meu superintendente da Cemar e de Boa Esperança, para o Ministério de Minas e Energia do Governo Médici, combinei com ele que devíamos fazer uma companhia de mineração para esta região, porque a Vale não iria fazer nada. Ele criou a Amazônia Mineração e nomeou seu presidente Vicente Fialho, que tinha sido meu secretário e prefeito de São Luís. Fialho estruturou a companhia e partiu para comprar a concessão de Carajás da United Steel e promovermos o projeto que iria embarcar o ferro pelo Itaqui, viabilizando este como um grande porto.
A coisa andou e quando a Vale viu que Fialho ia fazer o projeto independente dela, abriu os olhos. Então Eliezer Batista tomou a peito a tarefa de incorporar a Amazônia Mineração do Fialho e deslanchou o projeto. Comprou a Mina de Carajás por 50 milhões de dólares, ela que era a maior mina de ferro do mundo, com alto teor, quase 70%, ferro puro.
Iniciado o projeto era essencial definir escoamento viável. O Pará queria que fosse por via fluvial, descendo o Tocantins. Tinha o obstáculo de transpor Tucuruí. Então ele queria fazer as eclusas do Tucuruí. O projeto do escoamento por estradas de ferro e pelo Itaqui era muito mais fácil e o porto paraense de Barcarena não tinha calado para receber navios de grandes tonelagens. Mas a guerra foi grande. Os paraenses me atacavam por querer trazer o ferro de Carajás para o Maranhão e um deles chegou a dizer que só faltava agora eu trazer a Festa de N.S. de Nazaré.
Com a luta grande entre os dois estados, eu reuni minha equipe e disse que devíamos “melar” o estudo de viabilidade e propor uma solução fluvial pelo Maranhão. Usamos a mesma técnica que havíamos usado na SãoLuís-Teresina. Haroldo Tavares bolou, com sua criatividade, que podíamos abrir um canal ligando o Mearim ao Tocantins (!) e o escoamento seria pelo Itaqui.Embora fosse uma proposta mirabolante, o certo é que a solução fluvial podia também levar ao Itaqui. A guerra foi grande. A bancada do Pará foi ao presidente Médici, e o Epílogo de Campos, deputado pelo Pará, disse: “O Pará tem direito.” Médici respondeu: “Tem direito mas não tem porto”.
Nossa equipe trabalhava junto à área técnica e sabíamos que a solução tinha de ser o Itaqui e só ela viabilizava o aproveitamento das Minas de Carajás. Briguei, foram dois anos de luta, mas vencemos, e hoje o Itaqui exporta 120 milhões de toneladas de ferro, é o 2° porto do Brasil e, recebendo 1.550 navios/ano, é um dos maiores do mundo.
Depois eu fui presidente, dei toda força à Vale e concluímos o projeto e atingimos o objetivo. A Vale era estatal e o governo não negava recursos ao Itaqui e ao projeto Carajás. Eu estava vigilante e sempre cobrando seu andamento.
Completávamos o nosso sonho. Tínhamos construído o Ponta da Madeira, no Itaqui, conseguimos que ele fosse o Porto de Carajás, e hoje ele está recebendo os maiores navios do mundo (400.000 toneladas), que só ancoram aqui e em Roterdã, e alavanca o progresso do Maranhão.
Repito, em torno de um grande porto sempre floresce uma grande civilização. No futuro só teremos que ter grandes e boas notícias. O Itaqui, a estrada de Carajás, a Norte-Sul que eu comecei a construir, tudo era e é para dar emprego, deu e está dando milhares, criando riqueza para o bem-estar de nosso povo. Foram os 50 anos de atraso!… dos cabeças de inveja.
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