sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Falta de interesse de proprietários prejudica conservação de casarões

 

Muitos imóveis que compõem o conjunto arquitetônico do Centro Histórico de São Luís estão se deteriorando.

Foto: Douglas Júnior
Prédio fechado na Rua da Palma está coberto por plantas que ocupam o lugar onde deveria estar o telhado

Muitos casarões do Centro Histórico de São Luís estão abandonados, e a falta de interesse dos proprietários em conservá-los contribui para que a situação se agrave. Alguns alegam ainda não ter condições financeiras para arcar com os custos da reforma e, como consequência, a cada dia esses prédios se deterioram com a ação do tempo, aliado à falta de investimentos. A chegada das primeiras chuvas traz também risco de desabamento, pois muitos estão com a estrutura física comprometida.
A capital maranhense tem hoje 5.600 imóveis localizados na área tombada pelo Governo do Estado. Dentro desse espaço, existem 1.342 prédios tombados pelo Governo federal. Contudo, aproximadamente 90% de todos esses imóveis são de propriedade particular, cujos responsáveis não investem na conservação.

Abandono - Basta dar algumas voltas pelas ruas do Centro Histórico da cidade para observar que alguns casarões, que integram o conjunto arquitetônico da cidade, estão se deteriorando por falta de responsabilidade de seus proprietários. A região é um dos principais cartões-postais da cidade. Porém, o estado de alguns imóveis históricos contribui para a desvalorização da área.
Os sinais de abandono dos prédios são percebidos em vários pontos: nas paredes dos imóveis, feitas de pedra e barro, existem rachaduras e infiltrações que aumentam os riscos de desabamento de telhados e paredões; há vegetação que cresce de forma desordenada entre as paredes e o teto de alguns dos imóveis, deixando ainda mais visível o aspecto de abandono. Além disso, alguns dos prédios estão servindo como abrigo para traficantes e usuários de drogas, que costumam cometer delitos na região para sustentar seu vício.

Reformas - Para tentar mudar essa realidade, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) constantemente realiza reformas em prédios tombados. Em alguns casos, os serviços feitos em imóveis históricos resultaram de perdas judiciais do órgão, que foi obrigado pela Justiça a intervir em espaços de propriedade particular, pois os donos desses locais alegam não terem condições financeiras para arcar com os custos das obras.
Somente em 2010, o Iphan moveu mais 100 ações judiciais contra proprietários de imóveis abandonados, para que realizassem reparos necessários em seus imóveis. Atualmente, existem várias ações em tramitação na Justiça contra donos de casarões, exigindo que eles façam as adequações necessárias em suas propriedades.
"É feita uma inspeção técnica nos prédios e, após a fiscalização, é elaborado um relatório que é encaminhado para o proprietário, para que ele faça as adequações. Poucos são os que se ajustam e por isso o Iphan já fez mais de 40 recuperações de prédios em cumprimento a sentenças judiciais", disse Kátia Bogéa, superintendente do Iphan no Maranhão

Requalificação - De acordo com ela, além da falta de recursos, alguns donos de imóveis históricos não têm interesse em fazer as reformas necessárias em suas propriedades, preferindo deixá-las à mercê do tempo e sem a conservação necessária.
Kátia Bogéa frisou que são necessárias políticas públicas voltadas para resolver primeiramente problemas sociais, que são crônicos no Centro Histórico. "Não adianta a legislação, se faltam políticas públicas que regulem a questão social. O Centro Histórico foi tomado pelo tráfico de drogas e pela prostituição. Dessa forma, quem tem propriedade nesse local não se sente seguro para morar ou investir. São situações como essas que fazem com que essa área urbana se desvalorize. Os proprietários estão abandonando seus imóveis, que estão sendo invadidos por pessoas em situações terríveis de abandono social", afirmou a superintendente do Iphan no estado.

PAC Cidades Históricas reformará prédios


Por meio do PAC Cidades Históricas - programa do Ministério da Cultura (MinC) lançado pela presidente Dilma Rousseff, que tem o objetivo de restaurar prédios históricos do setor público, contribuindo para a preservação do patrimônio cultural -, estão sendo feitas intervenções que contribuirão para melhorar a paisagem e o conjunto arquitetônico de São Luís. Serão investidos
R$ 133 milhões em obras em 45 espaços históricos.
O programa do Governo Federal tem também como objetivo estruturar as cidades, transformando-as em potenciais turísticos e requalificando os espaços urbanos para a população. Outro ponto que deverá ser priorizado em todas as obras que constituem os espaços públicos e turísticos do acervo arquitetônico de São Luís é a acessibilidade. Em todos os projetos, tanto de reforma quanto de requalificação dos espaços, está incluída a aplicação de uma estrutura acessível para pessoas com deficiência física.
As obras do PAC Cidades Históricas na cidade serão iniciadas após o processo de licitação e serão feitas na área de tombamento estadual e federal. Elas serão executadas na capital pelo Iphan, que terá parceria do Governo do Estado e da Prefeitura de São Luís para a realização das atividades.
O Governo do Estado auxiliará nas obras com a contração de uma gerenciadora de projetos, que fornecerá o corpo técnico composto por engenheiros, arquitetos, arqueólogos e outros profissionais, para a realização das atividades, uma vez que a equipe do Iphan é reduzida. Já a Prefeitura se comprometeu em dar o apoio logístico para a realização dos serviços.

Mais


De acordo com um levantamento feito Defesa Civil, órgão subordinado à Secretaria Municipal de Segurança com Cidadania (Semusc), 31 casarões do Centro Histórico, que hoje servem como estabelecimentos comerciais ou residências para várias famílias, têm risco de cair.

Números


5.600 imóveis do Centro Histórico são tombados pelo Governo do Estado.
1.342 é a quantidade de imóveis do Centro Histórico tombados pelo Governo Federal

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