sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Acidente com navio no Maranhão é destaque no mundo


Acidente com navio é destaque no mundo

Cezar Scanssette
Editor de Portos


O acidente com o navio Vale Beijing repercutiu nacional e internacionalmente na imprensa, no setor econômico e na comunidade marítima. O cargueiro de 400 mil toneladas de porte bruto (TPB), da classe de embarcações Valemax, as maiores do mundo nessa categoria, sofreu rachaduras nos tanques de lastro durante uma operação de carga no Terminal Portuário Ponta da Madeira (TPPM) no início de dezembro de 2011. As causas do acidente ainda não foram esclarecidas. A Capitania dos Portos do Maranhão (CPMA) instaurou um inquérito administrativo para tratar do caso, com prazo inicial de três meses para ser concluído, prorrogável por igual período, caso seja necessário.
Tido como um dos mais respeitados jornais do setor marítimo, o norueguês TradeWinds traz em sua edição de 16 de dezembro de 2011 informações que podem ser significativas para a apuração do acidente, na visão do jornal. O periódico afirma que o serviço global de gerenciamento de riscos, Det Norske Veritas (DNV), teria endossado um procedimento de carga (single-pass loading) para o Vale Beijing que reduziria o tempo de operação no porto de aproximadamente 26 horas para cerca de 12 horas, fato que até então teve pouca importância no noticiário nacional.
A DNV é uma fundação norueguesa criada em 1864, considerada pelo setor naval como uma das maiores sociedades classificadoras de navios e plataformas de petróleo do mundo. Possui 300 escritórios em mais de 100 países. No Brasil, possui escritórios no Rio de Janeiro e Macaé (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA) e Caxias do Sul (RS).
Voltando ao caso do Vale Beijing, o jornal estrangeiro não afirma que o procedimento de carga adotado tenha sido o responsável pelo acidente, mas informa que esse tipo de operação não é usual para cargueiros de grandes dimensões, caso dos navios da classe Valemax, de 400 mil TPB e com capacidade de carga de 390 mil toneladas. Além do Vale Beijing, outros três Valemax já estão em operação: Vale Brasil (o primeiro da frota, que entrou em atividade em maio de 2011), o Vale Rio de Janeiro e o Vale Itália. Ao todo, segundo informações da Vale, a frota será de 35 supercargueiros. Nestes casos, segundo o TradeWinds, o carregamento dos navios é efetuado numa operação diferente e mais lenta, de forma a distribuir uniformemente a carga nos porões.
Economia - Outro aspecto do acidente com o Vale Beijing foi em relação às consequências do fato no cenário econômico mundial. Na ocasião, a agência Reuters e também o TradeWinds publicaram notícias sobre a advertência de armadores chineses quanto aos Valemax, ou Very Large Ore Carriers (VLOC), como são classificados os supercargueiros no cenário internacional. Os asiáticos teriam reforçado as restrições para Valemax atracar em portos chineses, alegando riscos ambientais em caso de acidente, entre outros argumentos, uma iniciativa da Chinese Shipowners Association (CSA), desde a viagem inaugural do Vale Brasil, em maio de 2011, que estava programado para descarregar minério de ferro no porto chinês de Dalian, mas acabou desviado para o terminal italiano de Taranto.
Neste sentido, o jornal Folha de São Paulo informou, nesta semana, que a Vale teria planos de construir um complexo portuário na Malásia, a fim de fornecer minério de ferro à Ásia. Desta forma, os Valemax e outros cargueiros de grande porte poderiam descarregar na Malásia e a mineradora poderia carregar o produto em navios menores, utilizando a frota local. Sozinha, a China absorve 45% das vendas da Vale e poderá ser atendida em menos de 10 dias a partir da Malásia. O tempo de viagem de um Valemax do Brasil até a China é calculado em aproximadamente 45 dias.
Maranhão - No Maranhão, o site PortosMA, especializado no setor portuário local, publicou um artigo sobre o acidente do Vale Beijing, mas sem chegar a uma conclusão. Entretanto, trouxe a público algumas informações que se aproximam do destaque dado pelo estrangeiro TradeWinds a respeito do procedimento de carga.
Segundo o site ludovicense, o plano de carga apresentado pelo comandante do Vale Beijing (que implica o conhecimento prévio do DNV, do armador e também da Vale) teria como meta carregar 384,3 mil toneladas de minério nos sete porões do navio e 260 mil toneladas já estavam a bordo quando ocorreu o acidente, no Píer I.
Ressalte-se que outros Valemax, como o Vale Brasil e o Vale Rio de Janeiro, já realizaram operações no Píer I carregados, cada um, próximos à capacidade total dos porões (390 mil toneladas), sem que tivesse ocorrido nenhum problema, segundo o PortosMA, ninguém iria supor que o Vale Beijing, em sua viagem inaugural, sofreria um acidente.
Como comparativo, outro VLOC, o Berge Stahl, que até a chegada dos Valemax era considerado o maior navio mineraleiro do mundo, com 355 mil toneladas de capacidade de carga, operou em Ponta da Madeira por mais de 20 anos, e que ainda está em atividade, sem ter sofrido nenhum incidente relevante. Em resumo, a análise do PortosMA endossa a avaliação feita pela armadora do Vale Beijing, a STX Pan Ocean, de que o acidente pode ter sido um fato isolado (e ainda não esclarecido).

Números


360 Metros de comprimento tem o Vale Beijing
400 Mil toneladas de porte bruto
390 Mil toneladas de capacidade de carga

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