O texto abaixo transcrito foi elaborado pelo Antonio Noberto, membro do Conselho Diretor da Aliança Francesa de São Luís:
“Foi com muita alegria que finalizamos e disponibilizamos a você o mapa Saint Louis: capitale de La France Equinoxiale – 1615. O trabalho é a primeira “fotografia” clara, detalhada da Ilha Grande à época de sua fundação pelos franceses. Uma contribuição à pesquisa e ao turismo local.
O mesmo é iniciativa deste que vos escreve mensalmente, com desenho e arte de Jonilson Bruzaca. Foram muitos anos de pesquisa sobre o tema para que, afinal, chegássemos a este resultado. E como “nada vem do nada, e nada vai para o nada”, existe um grupo competente que participou da pesquisa, concepção e avaliação crítica do mapa: os arqueólogos Deusdédit Leite Filho e Eliane Gaspar; o historiador Rodrigo Norte; historiador, escritor e diplomata brasileiro Vasco Mariz; o Cônsul honorário da França no Maranhão e membro do Conselho da Aliança Francesa de São Luís José Jorge L. Soares; o diretor da Aliança Francesa de São Luís Nicolas Payelle; a escritora Joana Bittencourt e a professora de francês Eva Chatel. Uns mais outros menos, mas todos contribuíram para que atingíssemos o resultado esperado.
A reconstituição traz a lume um dos capítulos mais importantes da história colonial brasileira do século XVII, só comparado às Missões Jesuítico-guarani no Sul (1609 – 1750) e ao Brasil holandês no litoral Leste (1630 – 1654). O caráter colonizador pacífico verificado nestes três momentos foi alicerçado no respeito e na tolerância entre indígenas e europeus.
A França Equinocial sempre foi objeto de estudo de incontáveis pesquisadores, locais, nacionais e estrangeiros, dos quais nos recordamos de Charles de La Roncière, Lucien Provençal, Andréa Daher, Vasco Mariz, Ribeiro do Amaral, Jerônimo de Viveiros, Rubem Almeida, Mário Meireles, Carlos de Lima, Antonio Carlos Lima e Wilson Ferro. A sede da nova colônia foi concertada, no então Palácio do Louvre, hoje museu, entre a rainha regente Maria de Médici, o supervisor da expedição Almirante Charles de Montmorency Damville e pelos generais franceses Daniel de La Touche de La Ravardière, François de Razilly e Nicolas Harlay. Ficou decidido que seria construído um forte e, junto a ele, um porto e um convento com colégio e igreja para os religiosos capuchinhos. E foi sobre esse eixo que a cidade floresceu, conforme se pode observar no mapa.
O núcleo urbano da Nova França era uma espécie de cidadela cercada por uma paliçada, ligada ao exterior por uma ponte elevadiça construída sobre um fosso. Ao forte deu-se o nome de São Luís, elevado no local onde hoje está assentado o Palácio dos Leões, sede do poder estadual. Igualmente se nomeou a capela, erguida em frágeis fundamentos, onde atualmente se vê a pomposa igreja da Sé. Na mesma praça foram levantadas casas de um e dois pavimentos. Ao pé do dito forte encontrava-se o porto de Santa Maria, atual Cais da Praia Grande. Foi este porto que fez surgir o bairro comercial da Praia Grande. Existia ainda um estaleiro, serraria e serralheria, o convento e igreja São Francisco, primeiro convento Capuchinho do Brasil, erguido no local onde encontramos a Igreja de Santo Antonio, mais precisamente a Capela dos Navegantes.
Distando um pouco mais de um quilômetro existia o Porto de Jeviré, na Ponta da Areia, protegido pela fortaleza do Sardinha (Ilhinha / São Francisco), que também protegia a grande aldeia de Uçaquaba, também chamada de Miganville, no Recanto dos Vinhais. Tudo isto do lado de cá, na Baía de Santa Maria (nome dado em honra à mãe do menino Jesus e à rainha regente), atual baía de São Marcos.
Ao outro acidente geográfico batizou-se de São José, em honra ao pai do menino Jesus. Lá existia o porto de São José (no atual núcleo urbano onde teve início a cidade de São José de Ribamar). O ancoradouro era guarnecido por duas fortalezas: o Fort de Caillou (pronuncia-se Caiú, e quer dizer “Forte de Pedra”, pois foram iniciadas as obras em pedra e taipa de pilão), daí surgiu o lugar conhecido por Caúra; e o forte de Itapari, construído às pressas quando da ameaça portuguesa em novembro de 1614, em local próximo à Praia de Boa Viagem.
Era mais ou menos assim a imagem da pequena São Luís, primeira cidade do Brasil setentrional. Afinal, todos têm direito a, pelo menos, uma fotografia dos primeiros dias de nascimento.
Os que acompanham mensalmente esta coluna sabem que sempre defendemos a fundação francesa de São Luís, não como uma simples vaidade local, mas por acreditar no poder deste vinculo histórico e na disposição gaulesa em conhecer os locais onde sua cultura foi disseminada. Por isso é que não cessamos de investir neste tema. Mais cedo ou mais tarde haverão de nos ouvir.
O Repórter Mirante do último dia 04/09, desenvolvido pelo repórter Tiago Soares e pela produtora Eveline, soube explorar muito bem este tema, bem como o mapa. Fizeram bonito!”
Antonio Noberto é turismólogo, pesquisador e escritor.
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