terça-feira, 24 de agosto de 2010

Entrevista com o ator maranhense da Rede Record Déo Garcês


Déo Garcês

"Sonho com o dia em que seremos reconhecidos como seres humanos e não pela cor da pele ou por qualquer estereótipo físico"

Por Elliana Garcia

 
O ator Déo Garcez, de 42 anos, natural de São Luís, no Maranhão, tem mais de 30 anos de profissão. Bacharelado em interpretação teatral e com licenciatura em artes cênicas, ele possui no currículo quatro filmes, 18 peças de teatro e oito novelas, entre elas, “A Escrava Isaura”, “Prova de Amor” e, atualmente, pode ser visto como o professor Bené de “Caminhos do Coração”, em reprise pela “Rede Record de Televisão”. Nessa entrevista, o ator fala sobre o preconceito existente na televisão e dá conselhos para quem está ingressando na profissão.

Quando começou a pensar em ser ator?

Por volta dos 11 anos de idade, ao assistir pela primeira vez uma peça de teatro. Por incrível que pareça, naquele exato momento decidi que queria ser ator pelo resto da vida. Foi mesmo uma paixão imediata e, no ano seguinte, comecei a fazer teatro e não parei mais. Aos 18 anos, minha família mudou-se para Brasília, em busca de oportunidades de trabalho e eu fui com o mesmo ideal de ser ator. Foi um período de difícil adaptação, mas era o que eu queria. Eu trabalhava durante o dia, fazia teatro à noite e depois entrei na faculdade de teatro, onde tive o privilégio de ser aluno da saudosa e grande atriz Dulcina de Moraes.

Enfrentou algum tipo de preconceito por ser negro?

Vários. Tanto profissionalmente quanto na vida pessoal. Mas nunca deixei que isso me fizesse desistir dos meus objetivos. Tinha um sonho, um desejo, me preparei e embora tenha vencido vários obstáculos, sempre encontramos muitos desafios, a todo instante. Sonho com o dia em que seremos reconhecidos como seres humanos e não pela cor da pele ou por qualquer estereótipo físico.

Os atores negros ainda fazem papéis secundários e têm pouco espaço na televisão. Qual a sua visão sobre esse assunto, o que precisa mudar, na sua concepção?

Mudar a mentalidade de quem escreve, de quem produz e de quem escala os atores para os trabalhos. Hoje, no Brasil, nós temos negros em várias camadas sociais, mas na tevê eles ganham papéis inferiores. Se dermos uma revisada na história brasileira, fatalmente encontraremos pessoas importantes na nossa sociedade e que ainda não viraram personagens. Suas histórias ainda não foram contadas em roteiros de teatro, cinema e tevê por conta da cor da sua pele. Além disso, há milhares de pessoas negras, comuns, sem destaque na sociedade, mas ricas em histórias pessoais. É o preconceito racial que ainda existe, infelizmente.


Na novela “Prova de Amor” (Record/2005), você interpretou o juiz Alexandre. O que esse personagem representou, já que o negro, conforme falamos acima, sempre teve papéis secundários na tevê?

Foi importantíssimo fazer o juiz Alexandre, porque só se vê o ator negro em personagens subalternos. Isso prova que é possível reverter essa situação. A população negra que me via na novela vibrava e aplaudia, porque o meu personagem era um exemplo a ser seguido por eles. Os negros se viam ali, se identificavam e, consequentemente, isso mexia com a autoestima do espectador negro. Até por que o doutor Alexandre era um personagem que tinha boa índole, tinha bom caráter, ocupava um cargo importante na sociedade. Não era um bandido, um malandro, como quase sempre acontece nos roteiros. Mas este foi um caso isolado. É preciso que haja mais papéis desta natureza, para modificar esse conceito perante a sociedade. Caso contrário, continuaremos reforçando o preconceito racial e um sentimento negativo de inferioridade.

Em 2007 você ganhou o Troféu Raça Negra de melhor ator, e em 2010 o prêmio Arlequim de Melhor Ator, no Festival de Teatro no Rio de Janeiro. O que esses prêmios representam para você?

Representam o reconhecimento de toda essa minha dedicação e empenho até aqui, o que me deixa bastante feliz. Ao mesmo tempo me dão incentivo para continuar na luta, firme e forte.

Você é um ator popular, como reage com o assédio do público?

Com naturalidade, pois entendo e vejo o assédio como algo que faz parte do reconhecimento, da receptividade positiva do público com relação ao meu trabalho.

O sucesso demorou a acontecer na sua vida?

O sucesso ou o reconhecimento veio para mim depois dos 30 anos, quando investi em tevê. Contando então a partir desse momento, acho que não demorou muito. A minha primeira novela foi um sucesso. Todas as oito novelas que fiz foram reprisadas, algumas até por duas vezes. Sou recordista de aparições simultâneas em novelas brasileiras, pois várias foram reprisadas ao mesmo tempo. Cheguei a estar em 4 reprises de novela num mesmo período.

Você foi professor de teatro, como foi essa experiência? O que diria para quem está ingressando na profissão?

Durante 11 anos dei aulas de teatro em escolas públicas do Rio de Janeiro, como professor concursado. Ensinei teoria técnica teatral e educação e socialização através do teatro. Foi uma experiência fantástica, onde enriqueci bastante como pessoa e como artista. Dizem que quem ensina aprende, e isso é a pura verdade. Já para quem está ingressando na profissão diria para pensar se quer ser ator ou somente estrela e celebridade. Se chegar à conclusão de que quer realmente ser ator, precisa investir nisso, se preparar, adquirir conhecimento técnico, estudar bastante, construir uma carreira consistente e se destacar pelo talento e não pela falta de talento e preparo.

Que recado deixa para os nossos leitores?

A sua fé, determinação e força de vontade é que vão determinar se conseguirá ou não. Não dê valor às palavras de derrota, nem ao que os outros possam dizer. Acredite em você, no seu talento, e vá em frente.
 
Entrevista concedida para a Arca Universal

Um comentário:

Unknown disse...

ATOR NRGRO DO MARANHAO EM NOVA YORK

http://www.brazilianvoice.com/bv_noticias/artista-maranhense-estreia-como-dramaturgo-em-nova-york.html