quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Arqueólogos estudam comunidades pré-históricas no Sítio do Físico


Grupo de pesquisadores encontrou fósseis com mais de seis mil anos


POR SAULO MACLEAN

Uma equipe de jovens arqueólogos vindos do Piauí, Amapá, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, liderada por um maranhense, concluiu, ontem, em São Luís, a terceira etapa de um estudo que pretende ampliar e estabelecer a idade de comunidades pré-históricas que viveram na capital maranhense há pelo menos 6.600 anos. No laboratório ao ar livre, localizado em uma área de floresta do Sítio do Físico (área do Coroadinho) - à margem esquerda do Rio Bacanga -, os pesquisadores conseguiram encontrar conchas, cerâmicas, ossos de pequenos animais, e até mesmo uma sepultura.

Os trabalhos de pesquisa, desenvolvidos em 2006, 2007, e agora, em 2010, fazem parte, cronologicamente, de uma dissertação de mestrado e de uma tese de doutorado produzida pelo arqueólogo maranhense do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP), Arkley Marques Bandeira, 30 anos. Ele e o restante da equipe conseguiram descobrir em uma escavação de aproximadamente 80 cm, que o local foi habitado por populações que fabricavam suas próprias ferramentas e utensílios de forma bastante rudimentar.



"Esse último trabalho de escavação durou apenas nove dias, porém, foi o bastante para descobrir que essa área foi habitada por, pelo menos, até o ano de 900. Os indícios mais antigos que conseguimos visualizar aqui são de cerca de 6.600 anos atrás, que produziu uma cerâmica mais elaborada do que os anos mais recentes, porém, não menos importantes. As mudanças nos formatos de objetos como potes, pedras usadas para a confecção de facas, por exemplo, indicam uma diversidade de culturas que passaram por aqui", explicou o arqueólogo.

Descoberta - A área explorada pela equipe de pesquisadores foi descoberta como importante fonte de estudo em 2004, pela proprietária do Sítio do Físico, a ceramista Nery Mendonça, 55 anos. Formada em Gestão Cultural pela Faculdade São Luís (MA), ela disse ter achado estranho o fato de uma grande quantidade de conchas (também denominada de sambaqui) terem aparecido na superfície da terra, sendo que as mesmas estavam em uma área muito distante das margens do Rio Bacanga. "No Paraná, estudava muito os sambaquis. Ao chegar aqui, acabei associando o cenário com os livros", contou a ceramista, que também é mulher do juiz da 8ª Vara da Fazenda Pública, Fernando Mendonça.




Durante todo o processo de retirada do material arqueológico encontrado nas diferentes camadas do substrato, os arqueólogos submetem os "achados" a diversos processos. "Tudo o que é encontrado é peneirado, limpo e separado posteriormente conforme sua natureza. Nesse trabalho, nós distinguimos ossos, cerâmicas, líticos (pedras), e classificamos tudo. Neste local, por exemplo, além da sepultura, conseguimos observar restos de fogueiras e alimentos deixados pelos povos pré-históricos que aqui passaram", acrescentou Arkley Bandeira.

Segundo os arqueólogos, atualmente existem cerca de 11 sambaquis em todo o Maranhão, porém, apenas dois deles estão registrados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) local. Após a conclusão das escavações, todo o material recolhido e analisado fica à disposição do Eco-Museu do Sítio do Físico. A instituição, segundo os proprietários da área, não dispõe de nenhum mantenedor senão os parceiros voluntários que, assim como a própria equipe de jovens arqueólogos, chegam a custear as pesquisas feitas nos sambaquis.



Apesar da falta de patrocínio constante, o cansaço de, às vezes, 30 dias de exploração em solo, para aqueles que estão à procura de conhecimento na área, acaba valendo à pena. Ana Joaquina Oliveira, 21 anos, veio como representante da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e disse que a única maneira de vencer a falta de apóio aos grupos de pesquisadores voluntários é a integração entre os profissionais e os emergentes. "Lá no Piauí existem apenas sítios rupestres (onde se encontram pinturas pré-históricas). Vir ao Maranhão é ter acesso a uma informação nova, e isso certamente acaba ampliando nosso conhecimento empírico", frisou a componente da equipe.



A equipe de arqueólogos, composta por doutores, doutorandos, graduados em História, Gestão Ambiental, Humanidades e, é claro, Arqueologia, deverá iniciar ainda hoje, 20, uma nova etapa nos estudos. Desta vez, o cenário escolhido será Panaquatira, em São José de Ribamar. Lá, a expectativa dos pesquisadores é de também encontrar elementos de mais de 6 mil anos, no entanto, em escavações mais profundas. No primeiro momento, quisemos estabelecer a idade dos grupos. Nessa nova fase, nosso objetivo é ampliar esse conhecimento para uma visão mais regional, envolvendo áreas como o Bacanga, Panaquatira e Mocambo (Cururupu)", revelou o arqueólogo chefe da equipe.

2 comentários:

Myleny disse...

Visitar o Sítio do Físico, foi uma experiência unica,dentro daquelas ruínas me senti voltando ao passando,pena que as pessoas não dão o devido valor agora entendo a paixão que Nery Mendonça sente quando fala daquele lugar. Agradeço pela oportunidade,sou Myleny Saraiva,estudante do curso de Guia de Turismo pela Uema.

Moises Matias disse...

Parabéns pelo belo trabalho. Parabéns pelos resultados alcançados. A descoberta é extraordinária! Assim, amplia-se o olhar, de uma São Luís secular, para uma cidade com origem milenar. Certamente outros sítios arqueológicos existem na região.
Lá no Sítio Panakuí, do outro lado da ilha, encontramos muitas cerâmicas,bacias - ou panelas - enterradas a 30 , 50 cm, pedras de formatos diversos e até uma machadinha trabalhada. Já avisamos alguns arqueólogos, mas até o momento não conseguimos iniciar nenhuma pesquisa sobre o tema. para béns, amigo e parceiro Fernando Mendonça, parabéns Nely e á equipe de pesquisa.
Moisés Matias.