Crescem os investimentos na produção científica na capital e, em consequência, as universidades estão colocando a cidade na rota da ciência.
Ricardo Alvarenga
Da equipe de O Estado
Da equipe de O Estado
São Luís, cidade quatrocentenária, marcada pelas glórias do passado e por seu patrimônio histórico, também tem seus olhos voltados para o futuro. Com mais investimentos na produção científica, as universidades instaladas na capital maranhense estão colocando a cidade no mapa da ciência do Brasil. Em São Luís, a produção de conhecimento está concentrada principalmente na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) e na Universidade Estadual do Maranhão (Uema).
Somente este ano, foram investidos R$ 31 milhões em pesquisas científicas, distribuídos em 43 editais. A previsão, segundo a presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), Rosane Guerra, é de que esse valor aumente mais no futuro, acompanhando a crescente demanda por recursos.
Segundo Rosane Guerra, o novo momento da ciência em São Luís pode ser verificado pela consolidação de parcerias com grandes centros internacionais. “A prova disso é que em outubro de 2011, a convite do Ministério das Relações Exteriores da França, a Fapema participou de uma missão àquele país visando consolidar as parcerias existentes, bem como estabelecer novas parcerias com institutos e instituições de fomento francesas. Somente sete estados foram convidados e lá estava o Maranhão. Então, isso é prova da inserção não só nacional, mas também da inserção internacional do Maranhão no cenário da pesquisa científica”, afirmou.
A importância da produção científica para o desenvolvimento social e econômico de uma cidade, estado ou país é indiscutível. São os pesquisadores e seu trabalho cotidiano que abrem novos caminhos para o crescimento de uma região. Mas para que isso aconteça é necessário que se criem políticas efetivas de investimento em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). No Maranhão, a Fapema é a principal agência de fomento. Atualmente, são cerca de 260 projetos de pesquisa financiados pela fundação. Dessa quantidade, 70% acontecem nas universidades e institutos localizados em São Luís.
Titulação - Outra forma de proporcionar o crescimento da produção cientifica é com a exigência da titulação de doutorado em concursos públicos. Foi assim que a UFMA, segundo o reitor Natalino Salgado, conseguiu elevar de 27% para 56% a quantidade de doutores atuando na universidade. Com recursos humanos mais qualificados, aumenta a possibilidade de realização de pesquisas e de condições para o crescimento dos cursos de mestrado e doutorado.
As parcerias com instituições locais e de fora do país são outra maneira de fortalecer desenvolvimento científico e a formação de novos pesquisadores. Neste ano, o IFMA, firmou parceria com a Fundação Nagib Haickel, para a criação do Núcleo do Pensamento Fotográfico, no Campus Centro Histórico de São Luís. O projeto tem como objetivo preservar o acervo com mais de 30 mil fotografias históricas que retratam momentos importantes da história de São Luís.
A Uema, por sua vez, tem uma experiência de intercâmbio dedicada à inovação urbana, desde 2009, com a Universidade Paris - Est Marne-la-Vallée. Pesquisadores e estudantes de Arquitetura e Urbanismo maranhenses entram em contato com colegas franceses para propor soluções aos problemas da vida do homem na cidade. Na primeira edição do Atelier Equinox, resultado desse projeto, os estudantes franco-maranhenses trabalharam projetos urbanos para ajudar a melhorar a realidade existente do Centro Histórico de São Luís, como forma de promover o desenvolvimento local sustentável.Em 2010, a intervenção foi na França.
Pesquisas – Nesse novo momento da ciência do Maranhão, experimentos de ponta começaram a surgir nas universidades locais. Nos departamentos de Engenharia Elétrica e Informática da UFMA foi elaborado um software que facilitar a detecção do câncer de mama em imagens de mamografia e de termografia da mama. Estão à frente dessa pesquisa os doutores Anselmo Paiva (Informática) e Aristófanes Correa Silva (Engenharia Elétrica).
O projeto tem suas origens na dissertação de mestrado do professor Aristófanes Silva e se destaca como uma importante produção científica em São Luís. Além da detecção e diagnóstico de câncer de mama, o software também dá mais agilidade à detecção do câncer de pulmão. “Adicionalmente, pretendemos também desenvolver metodologias para indicar a probabilidade de o achado na imagem estar associado a um nódulo maligno ou benigno”, afirmou Anselmo Paiva.
Com o software, os médicos poderão realizar a visualização dos exames de mamografia e tomografia computadorizada com mais facilidade, podendo, inclusive, segmentar as imagens e destacaras regiões suspeitas. A pesquisa permite, ainda, que nessas áreas suspeitas os médicos possam realizar inspeções no exame, medindo área, volume dos possíveis nódulos e massas, além de classificá-los de acordo com suas características.
O sistema está em desenvolvimento e tem previsão de conclusão no final de 2014. Uma pesquisa como essa coloca São Luís em posição de destaque no cenário científico nacional, com impacto em diversas áreas, já que a pesquisa é interdisciplinar. Pesquisadores da área de tecnologia da informação estão desenvolvendo a inovação, mas os benefícios e o uso propriamente dito do sistema serão feitos por profissionais da saúde.
Pesca - Além das pesquisas relacionadas às áreas de saúde e tecnologia, outras diversas áreas do conhecimento são exploradas para tentar garantir mais qualidade de vida à população. A professora Zafira Almeida, do Departamento de Ciências Agrárias da Uema, realiza uma estudo sobre a gestão de recursos pesqueiros, que busca contribuir na elaboração de um modelo de gestão desses recursos e formação de indicadores de sustentabilidade.
“A linha de pesquisa Gestão de Recursos Pesqueiros nasceu da necessidade de conhecer a real situação dos recursos pesqueiros na costa do Maranhão, por entendermos a importância da atividade de pesca e o que os recursos pesqueiros representam para uma grande parcela da população, como fonte de alimento e renda”, destacou a pesquisadora.
A intenção é monitorar a situação da pesca nos ambientes aquáticos maranhenses e, no final, contribuir com a manutenção de importantes estoques pesqueiros, a exemplo de caranguejo, peixe-serra e pescada, que são matérias-primas para a produção da maioria dos pratos típicos de São Luís.
Segundo Zafira Almeida, embora a pesca realizada em São Luís seja artesanal, é preciso fazê-la de forma organizada, para garantir que os recursos pesqueiros não sejam esgotados. “A pesca é feita de forma desorganizada e sem qualquer gerenciamento, o que vem acarretando o desaparecimento de importantes recursos e ecossistemas marinhos e estuarinos e dificultando, consequentemente, a vida dos pescadores que subsistem da atividade. Embora muitas pessoas achem difícil acreditar, já está comprovado o declínio de populações de muitas espécies de peixes, crustáceos e moluscos, mundial e localmente”, ressaltou.
Trabalho em conjunto em prol da ciência
A produção de alimentos é uma das grandes preocupações da ciência, tecnologia e inovação, ao lado de questões relacionadas à preservação ambiental. A saída é encontrar um ponto de equilíbrio entre produção e uso sustentável dos recursos naturais. Para isso, as instituições também têm trabalhado em conjunto. Esse é o caso do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), nos Campus Maracanã e Codó, que em parceria com a Embrapa, Uema e UFMA formaram a Rede de Pecuária Sustentável (Rede Pecus).
Os pesquisadores da rede atuam em todo o país investigando técnicas que possibilitem melhorar a absorção de gás carbônico pelo solo e, também, diminuição dos gases prejudiciais à camada de ozônio, emitidos na produção pecuária. No Maranhão, os pesquisadores investigam a produção de gado bovino de corte, em vista que o metano eliminado no arroto dos bovinos contribui para aumentar o efeito estufa. O gás liberado por eles é 30 vezes mais poluente do que o CO2.
Os pesquisadores concentrados na capital maranhense estão testando um sistema de produção que seria capaz de diminuir esses impactos ambientais, aumentando a eficiência no uso da pastagem bovina. A proposta é usar o Sistema de Lotação Rotativa. “Vamos associar esse sistema de produção ao ambiente das florestas de babaçu do Maranhão, agregando valores diversos, na redução do CO2 atmosférico e redução de gases poluentes, como o metano, e preservação das florestas de cocais, que servem de subsistência para diversas famílias do estado”, explicou José Antônio Cutrim Júnior, que é doutor em Zootecnia.
A pesquisa atende ao acordo assinado pelo Brasil na 15ª Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, que aconteceu na Dinamarca, em 2009, quando o país se comprometeu a reduzir os gases produzidos na Agropecuária. No Maranhão, estão envolvidos os pesquisadores André Mantegazza (IFMA – Campus Codó), Antônio Carlos Freitas e Joaquim Bezerra (Embrapa Cocais), Luciano Muniz (Uema) e Rosane Rodrigues (UFMA). “Esse é um exemplo de como as instituições podem se juntar em prol da pesquisa científica”, avaliou Cutrim Júnior.
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