No Circolo Italia, italianos se reúnem com suas famílias para apreciar a culinária da sua terra e resgatar tradições.
De acordo com a PF, 371 italianos compõem a segunda maior comunidade internacional da cidade.
Amanda Arrais/Imirante
SÃO LUÍS - O Estado do Maranhão abriga cerca de 350 italianos espalhados, principalmente, em São Luís, Imperatriz e na Baixada Maranhense - representando a segunda maior comunidade internacional da cidade, ficando atrás somente dos portugueses. Na terceira, e última, reportagem da série sobre essas comunidades em São Luís, informamos, a quem não sabe, que a capital maranhense dispõe não somente de uma Agência Consular da Itália no Maranhão, mas também de duas escolas de idiomas que ensinam italiano e uma Associação Cultural Italiana, localizada no Olho D'Água.
A chegada dos italianos em São Luís
Pesquisas apontam que, no início da imigração, havia uma grande resistência dos italianos em se casar com brasileiros. No entanto, esse quadro sofreu uma mudança drástica. Hoje, a grande maioria dos italianos residentes em São Luís são casados com mulheres maranhenses.
"Eu decidi vir pra São Luís porque tinha um tio que morou aqui exercendo sua atividade pastoral por 50 anos e me convidou. Cheguei em 2002 pela primeira vez. Visitei e gostei de tudo: das pessoas, do clima, do ambiente. Quando um turista visita o Brasil, ele gosta muito, porque o povo é muito receptivo, aberto. Aqui, o estrangeiro se sente melhor do que em sua própria casa."
É assim que Emanuele Bani, um italiano que mora em São Luís desde 2010, começa a contar sua história. O professor de italiano, Emanuele, conheceu sua atual esposa durante seu primeiro mês de visita a São Luís, em 2002. "Assim que cheguei, me apaixonei. Aqui é tudo muito rápido", ri o professor, que foi obrigado a voltar para Itália após o fim do seu visto de turismo, que tinha duração de três meses. Em 2007, Emanuele visitou a ilha pela segunda vez, e em 2009 levou sua então namorada para Itália, onde casaram - o que concedeu à sua mulher visto permanente no país.
Em 2010, o casal decidiu voltar para o Brasil devido à crise econômica europeia. "Entre ficar pobre na Itália e ficar pobre no Brasil, é melhor no Brasil, porque aqui alguém sempre te oferece um prato de comida", brinca o professor, que afirma adorar morar em São Luís. "Em três anos eu mudei muito. Cheguei aqui com uma mentalidade italiana, me zangava muito fácil, era uma pessoa mais séria. Agora não! Conheci a maneira de viver do povo maranhense, que é muito alegre", explica Emanuele, que tirou visto permanente e hoje revalida seu diploma italiano de formação em Geografia, na UFMA.
À esquerda, o guia turístico Luca Palmieri. À direita, o professor de italiano Emanuele Bani.
Já o presidente da Associação Circolo Italia, Luca Palmieri, veio pela primeira vez ao Brasil em 1996, mas só decidiu conhecer o Maranhão após ler "Noites sobre Alcântara", de Josué Montello. "O livro despertou minha curiosidade. Comecei a me apaixonar pela música e literatura brasileira, e quis vir pra São Luís pra conhecer os Lençóis Maranhenses e Alcântara". E foi exatamente no dia em que visitou Alcântara, que Luca conheceu sua atual esposa, Eliseth Palmieri, em 2007.
"Escolhi São Luís porque gostei da cidade. Aqui tem potencial, tem o mar, a história", justifica o presidente da Associação, que hoje trabalha também como guia turístico. "Mas morando em São Luís, descobri que falta um pouco de cuidado. Meu sonho é continuar a morar aqui e ver essa cidade crescer", completa Luca.
Agência Consular Italiana no Maranhão
Sediada no Centro, a Agência Consular Italiana oferece serviços não só para os italianos que vêm para o Brasil, mas também para os brasileiros que vão para a Itália. Questionado sobre as funções da Agência, o cônsul da Itália no Maranhão, Gianluca Maria Bella, explica que a principal função é a integração. "Estamos fazendo o máximo para criar sinergias e colaborações entre a Itália e o Maranhão", garante.
A Agência Consular Italiana é dirigida pelo cônsul Gianluca Maria Bella
E Gianluca comemora uma recente vitória: a permissão concedida ao Centro Internacional de Idiomas (CII), localizado em São Luís, para realização do exame de proficiência em italiano. Anteriormente, os estudantes do Maranhão tinham que se deslocar até outros estados para participar do exame de admissão italiana. No entanto, em fevereiro deste ano, o CII foi credenciado para realizar o exame de proficiência em italiano, que dá acesso às bolsas de estudo e ao programa federal Ciência sem Fronteiras. "Foi uma grande conquista. É um sinal de como o Estado tá crescendo", celebra o cônsul.
Empreendedorismo italiano no Maranhão
O cônsul da Itália no Maranhão, Gianluca Maria Bella, aponta que nos dois últimos anos, percebeu-se que a imigração italiana – antes formada de italianos trazidos por motivos religiosos ou missionários - é hoje composta por empresários e profissionais liberais que querem criar uma atividade fixa no Maranhão.
Adolfo Rossetti, por exemplo, chegou ao Maranhão em 1986 como turista. Não satisfeito com o emprego na Itália e ansiando por mudanças, Adolfo decidiu vir pra São Luís, onde construiu não só segurança econômica, mas também uma família. Em 1991, o italiano abriu a Gelateria Rosseti, hoje localizada no Monumental Shopping, e garante que a culinária italiana está entrando na tradição maranhense.
Também nos últimos anos, parte da comunidade esportiva do kitesurf da Itália se mudou para Atins. Famílias inteiras se instalaram e criaram pousadas. "Existem várias missões empresariais. Ao redor do Maranhão, podemos estimar que hajam 40 empresas italianas grandes querendo se instalar aqui, ainda em andamento. Os italianos querem trazer recursos e tecnologias, mas precisamos do apoio", aponta o cônsul.
Diferenças culturais
Fundada em 1980, a Associação Círcolo Italia tem sede no Olho D'Água e oferece como principais propostas a continuidade do convívio entre italianos e a integração com o povo maranhense. "A associação está aberta não só para os italianos, mas também para os ludovicenses que gostam da Itália. É um espaço aberto", aponta Adolfo Rossetti, que explica, ainda, que gosta de visitar a associação para conversar, em italiano, com os amigos conterrâneos sobre o que acontece em seu país.
Questionados sobre as principais diferenças culturais entre o Brasil e a Itália, os italianos explicam que seu país de origem é mais nivelado cultural e socialmente. E todos apresentam reclamações em comum a respeito de São Luís: deficiências na educação e saúde públicas.
Emanuele Bani acredita que a principal diferença entre os italianos e os brasileiros é a proximidade das pessoas. "Na itália é como se você tivesse uma barreira de 90cm ao redor de cada um. Aqui o contato físico é fundamental, acho que a barreira é de 0,0009cm", brinca o professor, que confessa gostar muito dos ritmos brasileiros, principalmente forró e pagode.
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