domingo, 1 de julho de 2012

São Marçal é festejado por bois de matraca em festa de resistência



Encontro que chega a sua 85ª edição, durou todo o dia na avenida que leva o nome do santo; público estimado foi de 350 mil pessoas.

Jock Dean
Da equipe de O Estado

Índias, caboclos de pena, de fita, rajados, vaqueiros, matraqueiros, pandeireiros, cantadores de pelo menos 34 grupos de bumba meu boi de matraca e uma multidão estimada de 350 mil brincantes transformaram o bairro João Paulo em um grande arraial ao ar livre para manter viva a tradição de homenagear São Marçal, santo que encerra a temporada junina na capital. A festa, que é realizada há 85 anos, durou todo o dia de ontem e começou ainda na madrugada na avenida que leva o nome do santo.
O sol ainda não tinha raiado quando os primeiros grupos de bumba meu boi, saídos diretamente dos arraiais em que tinham se apresentado na noite de sexta-feira, dia 29, começaram a chegar na Avenida São Marçal, no João Paulo, onde, há 85 anos é realizado o encerramento dos festejos juninos de São Luís. Um dos primeiros grupos a passar por lá foi o Boi da Vila Palmeira, que chegou ao largo pouco depois das 4h, dando início ao batuque das matracas que tomaram conta do festejo até o fim do dia. Os bois de São José dos Índios, Bairro de Fátima e Itapera também foram alguns que abriram o festejo.
Mas foi a partir das 6h que a festa ocupou toda a avenida, quando os 150 integrantes do Boi da Maioba, que tem 115 anos de tradição e esteve no primeiro encontro, em 1928, chegaram ao local, após cinco apresentações na noite anterior. Apesar de toda a correria do ritmo de apresentações durante todo o período oficial de festejos de São João, os brincantes demonstravam disposição para mais um mês de festa. “Não tem como parar. Basta as matracas e pandeirões começarem a ecoar que a gente sai dançando”, disse Carlos Teixeira, que há 12 anos é caboclo rajado do Boi da Maioba.
Resistência - Quem também estava na sua sexta apresentação seguida era o Boi de São José de Ribamar que chegou ao João Paulo às 7h, após encerrar sua última apresentação da noite por volta das 5h, no arraial da Vila Flamengo. O grupo, que completou 36 anos de fundação, tinha como destaque a índia Vitória Rocha, de apenas 5 anos. “Minha mãe é cabocla no boi. Foi ela que me botou para dançar, mas eu dormi bastante à noite, por isso não estou cansada”, comentou.
Cansaço também não era problema para um grupo de idosos que conseguiu lugar em um palco armado na Praça Ivar Saldanha especialmente para eles assistirem às apresentações de camarote. Mas Maria do Carmo Rocha, que comemorou 82 anos no dia de São Pedro, fez questão de pegar suas matracas e ir para o meio da multidão. “Eu venho à festa há 10 anos. Chego bem cedinho e só vou embora depois do meio-dia”, afirmou.
O sol já estava forte e o calor aumentava por causa das inúmeras fogueiras acesas ao longo da avenida para os pandeireiros afinarem seus instrumentos, quando outro batalhão centenário, o de Maracanã, um dos mais tradicionais da Ilha, chegou ao palco principal da festa, onde o público aguardava ansioso pela sua chegada. Nas letras das toadas, como de costume, não faltaram provocações ao Boi da Maioba, seu maior rival. “Mas a briga fica só na toada. O São João é uma festa de todos, tem espaço para todos os bois e quem ganha é o público”, comentou Ribinha, um dos cantadores.
Pela avenida, na festa rica em cores e ritmos, os grupos arrastavam uma multidão de pessoas com suas matracas. Não fosse pelas indumentárias, seria impossível saber quem era integrante dos grupos de bumba meu boi e quem foi à Avenida São Marçal apenas para se divertir. Para garantir a animação de todos, o Exército servia caldo de feijão e distribuía água. Se faltava caracterização, ambulantes espalhados ao longo de toda a via vendiam adereços típicos da temporada junina e, quando o cansaço falava mais alto, muros e calçadas serviam de apoio. “O importante é não deixar a festa parar”, disse Estevão Raposo, do Boi de Ribamar.

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Como forma de incentivar os grupos de bumba-meu-boi que anualmente passam pela Avenida São Marçal, a organização do evento, desde 2006, distribui troféus simbólicos de São Marçal para os grupos. Cada cantador recebe o seu. Este ano, a festa completou 85 edições. A primeira aconteceu em 29 de junho de 1928 e na ocasião reuniu os bois do Sítio do Apicum, do Lugar dos Índios e da Maioba.
Números
34 grupos de bumba meu boi se apresentaram no João Paulo
350 mil pessoas, segundo a organização do evento, passaram pela avenida, da madrugada até o início da noite de ontem
350 policiais militares fizeram o policiamento na área
300 oficiais do Exército reforçaram a segurança e o atendimento médico
540 kg de feijoada foram servidos aos participantes
15 mil embalagens de água gelada foram distribuídas aos brincantes

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