terça-feira, 14 de junho de 2011

João Chiador: “Vou deixar de ser cantador em 2014”

João Chiador: “Vou deixar de ser cantador em 2014”

Yane Botelho
Da equipe de O Estado
Envergando o chapéu estampado do bumba meu boi, o cantador João Chiador segue arrastando trupiadas ao longo de uma carreira de quase seis décadas. Com apito no pescoço e maracá prateado na mão, tornou-se ídolo à frente do Boi da Maioba e, hoje, do Boi de Ribamar, o qual assumiu há 20 anos. Aos 73 anos, ainda atravessa madrugadas pelos arraiais, mostrando sua voz acompanhada pelo som dos pandeirões, das matracas e das zabumbas. A cantoria do famoso mestre representa a imortalidade da arte genuinamente maranhense.
Depois de 59 anos de carreira, mais uma vez ele anuncia: “Vou deixar de ser cantador em 2014”. No entanto, a declaração não assusta. Tão logo a diz, sua mulher, Rosa Pereira Reis, 63 anos, a refuta: “Todos os anos tu juras que vai parar, e nunca larga. Além disso, o que vai ser de nossa família no mês de junho? Vamos ficar em casa enquanto acontecem os arraiais?”, reclama. Mas o bumba meu boi é inseparável de sua alma de cor maranhense. Até nas festas de aniversário ou quando vai ao supermercado, sempre que alguém o reconhece, não escapa do pedido para recitar alguma toada. Entre as preferidas estão “São Luís Cidade dos Azulejos” e “Negra Profecia (Nossa Senhora de Aparecida)”.
Dono de voz forte e marcante, o cantador se prepara para a temporada junina que se principia na cidade. No arranjo do cantar, Chiador resguarda a garganta que perde força por causa da idade avançada. “Já não tenho mais o mesmo fôlego”, admite. Lambedor de gengibre, mel, romã, limão, cravinho e, de vez em quando, um pouco de conhaque, ajuda a colocar a voz em afinação. Como companheiro inseparável das madrugadas, tem o chiado de seu maracá, usado pelo capitão da infantaria para avisar à guarnição quando a batucada dos pandeirões e matracas deve começar ou parar.
A cada ano, quando se aproxima o mês de junho, ele se empenha em renovar seu repertório. “A música vem em sonho. Não tem como descansar”, diz. João Chiador fala da saudade de seus mestres e de suas composições. O cantador já fez parceria com Fifi da Mangueira e tem quase 50 discos gravados – no início em vinil e agora em CDs. Com seu timbre encantador, ele diz que tem orgulho de participar da história maranhense como um dos maiores divulgadores da tradição folclórica do estado. “Estar à frente do batalhão de Ribamar é uma felicidade muito grande”, afirma.
Chiador – Nascido em 20 de agosto de 1938, João Costa Reis, segundo seu registro de nascimento, tem o hábito do boi desde menino. Seu pai, Cândido Reis, de quem herdou a paixão pelo bumba meu boi, era mestre cantador do Boi de Maracanã. Figura emblemática, iniciou seu percurso como compositor e intérprete de toadas aos 12 anos. Foi por volta dessa época que João ganhou o epíteto Chiador. Ele costumava reproduzir o chiado produzido pelas rodas dos caminhões da companhia Ulen – empresa que abastecia de água as casas ludovicenses – ao passarem sobre o mangue. De tanto repetir o gesto, seu colega Bernardo, que anos mais tarde tornou-se seu compadre, chamou-o Chiador. O novo nome calhou com seu modo de cantar.
Aos 14 anos, passou a participar de um boi organizado na Maiobinha por Amintas Guterres, então vereador de São José de Ribamar. Com 22, tornou-se cantador profissional, ao entrar no Boi da Maioba, em 1961, para acompanhar o cantador oficial do grupo, o lendário Luís Gonzaga, mais conhecido como “Luís Dá Na Vó”. Nessa época, Chiador vendia camarão na Praça João Lisboa para poder sustentar a família. “Um quilo de camarão grande custava, naquele tempo, o equivalente a R$ 5,00. Era uma beleza!”, relata. Com a morte do velho companheiro, no dia 5 de fevereiro de 1963, João se tornou mestre e assumiu o comando do batalhão da Maioba.

Desentendimento levou à saída do boi da Maioba


João Chiador marcou época e tornou-se ídolo entre os cantadores. Quando saiu da Maioba, em 1992, após passar 32 anos como comandante, o mais famoso cantador da Ilha foi substituído por Francisco de Sousa Correia, o Chagas, que agora aparece como o protagonista do batalhão.
Foi uma despedida conturbada, ele revela. Já casado com Rosa Pereira Reis e com duas filhas, viu-se obrigado a deixar o grupo. “Foram desentendimentos quanto ao pagamento. Havia atrasos e nem sempre o dinheiro dava para cuidar da família”, afirma.
Quando souberam da notícia de sua saída da Maioba, vários amos de boi ofereceram emprego a João Chiador. “Mas o Boi de Ribamar, além de ter garantido a melhor oferta, tinha tradição”, resume. Assumiu o grupo, a partir de 1993. Com o dinheiro proposto, pôde ampliar a casa. Hoje, João Chiador diz não guardar más lembranças do Boi da Maioba. “Só guardo saudades!”.

Um comentário:

Anônimo disse...

CHADOR NUNCA VAI DEIXA DE SER OMEHOR OMAS O INCONPARAVEL ESI CARA AI MUITO UMILDE ACONPANHO ELE AMAS DE 20 ANOS QUANDO EU COMECEI FOI BOI DE RIBAMAR EU TINHA 13 ANOS MEU PAI MORREU EFIQUEI ATE HOJE MEU NOME E NETO FILHO DE SEBASTIAO E DONA ROSA