Unidade é pioneira no Estado e, com recursos do Sebrae, beneficiará 150 coletadores
Juçara no Maranhão, açaí no Pará |
Até o final de março, o Maranhão terá sua primeira unidade de validação tecnológica para a Juçara, ou açaí como é conhecida em diversas outras regiões do país. Trata-se de um campo experimental instalado numa área de um hectare, no povoado de Pedra do Fogo, município de Luis Domingues, na região noroeste do Estado, a 600 quilômetros da capital, São Luís.
A iniciativa é uma das ações previstas no Projeto Juçara Maranhense e deve ser executada por meio de parceria entre a Casa da Agricultura Familiar (órgão responsável pela execução da política de assistência técnica estadual), as unidades da Embrapa Maranhão e da Amazônia Ocidental e o Sebrae.
A unidade vai beneficiar nesta primeira etapa 150 tiradores de juçara, atendidos pelo projeto nos municípios de Cândido Mendes, Godofredo Viana, Luís Domingues, Carutapera e Amapá do Maranhão.
Cada etapa do projeto servirá para a realização de testes e experimentos tecnológicos em fruticultura tropical e adicionalmente deve proporcionar a identificação de boas práticas de manejo e avaliar a produtividade, além de alternativas para a exploração sustentável do açaí, segundo Marco Aurélio Abdalla, gestor do projeto Juçara Maranhense. "A unidade deve custar R$ 10 mil, sendo os recursos aportados pelos parceiros da iniciativa", esclarece o gestor.
No Maranhão, a produção da juçara se concentra no litoral noroeste do Estado, nos municípios de Cândido Mendes, Godofredo Viana, Luís Domingues, Carutapera e Amapá do Maranhão. Entretanto, em função da localização geográfica (parte do Estado integra a Pré-Amazônia brasileira) e das condições de clima, regime de chuvas e temperatura, o Maranhão tem registros de produção em várias outras as áreas, como na grande São Luís e nas regiões do Alto Turi, Baixada Maranhense e Vale do Pindaré, dentre outras.
Estima-se que a produção anual maranhense seja de 250.000 kg do produto in natura (fruto para retirada da polpa). Embora com excelente aptidão produtiva, no Maranhão a exploração ainda obedece ao padrão extrativista.
Benefícios - A instalação da unidade demonstrativa deve gerar, principalmente, acesso a tecnologias de produção e manejo economicamente sustentáveis da juçara, fomentando o desenvolvimento da atividade e o surgimento de pequenas agroindústrias para industrialização da polpa e também o uso de subprodutos, como sementes para a confecção de bijuterias. De acordo com Marco Aurélio, "existem várias atividades no entorno dessa cadeia produtiva que devem ser estimuladas, representando alternativas de renda para dezenas de famílias habitantes da região".
No modo de exploração hoje praticado no Maranhão, o auge da produção se dá no período de julho a dezembro. Os frutos são coletados em latas com capacidade para 18 litros. Cada lada é comercializada nos mercados local e regional ao preço de R$ 12, na entressafra, chegando a R$ 6 no período de safra. Toda Juçara coletada é vendida "in natura", para extração do vinho ou suco, nos próprios municípios. O pequeno excedente é direcionado para o vizinho estado do Pará, onde a fruta é conhecida pelo nome de açaí.
Nessa perspectiva, o projeto Maranhense pretende potencializar a produção da Juçara e gerar excedentes para a agroindústria e mercado, com volume, padrões de qualidade e regularidade no abastecimento, mas levando em conta as questões ambientais e o manejo sustentável, além de alternativas de reflorestamento. Na capital, São Luís, o produto é destaque no mês de outubro quando é realizada – no povoado Maracanã – a tradicional festa da Juçara.
As estratégias para chegar a esse objetivo são: promover o aumento do número de pessoas ocupadas na cadeia produtiva da fruta; estimular a industrialização do produto com foco na comercialização e na geração de emprego e renda; além de diversificar a atividade produtiva no meio rural.
Questão ambiental - O pé de juçara é uma palmeira típica da Amazônia. Dela se extraem frutos - para produção do 'vinho' (polpa diluída em água) - e palmito. Transformada na fruta da moda pela geração freqüentadora de academias nas grandes capitais brasileiras, a Juçara conquistou adeptos mundo afora por suas propriedades energéticas. O aumento de consumo abriu novas perspectivas para o açaí, inclusive no mercado externo, onde alcança bons preços.
O risco, segundo o consultor Nei Medeiros é que esse modismo comprometa a sobrevivência desse patrimônio natural. "A quase totalidade da juçara consumida no país e até exportado é oriundo do extrativismo, muitas vezes praticado de forma irracional e desenfreada, razão pela qual é preciso estimular o manejo adequado, para evitar dizimarmos uma das maiores riquezas naturais do Brasil".
Em função das potencialidades já existem várias marcas para a comercialização do produto, principalmente quando destinado a alimentação, conforme ressalta Nei Medeiros. Atualmente, pesquisadores investigam se o fruto tem outros poderes, entre os quais se pode evitar o aumento exagerado de próstata, a capacidade de retardar o envelhecimento e suas propriedades dermatológicas. Essas pesquisas já comprovam excelente potencial e riqueza química de folhas, cachos, flores e, em especial, frutos, sinalizando a existência de nichos inexplorados.
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