sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Tributo ao gênio do Carnaval


Projeto da Festa dos 400 anos de São Luís concebido por Joãosinho Trinta será executado por equipe de artistas maranhenses


Yane Botelho
Da equipe de O Estado


Um dos grandes nomes do Carnaval brasileiro, o maranhense Joãosinho Trinta, vai deixar saudades. O carnavalesco, que morreu no último sábado, aos 78 anos, vítima de pneumonia e infecção urinária, apesar de estar há um tempo com problemas de saúde, tinha grandes planos para o futuro e mantinha-se à frente de grandes projetos. A Missa de Sétimo Dia do carnavalesco será celebrada hoje, às 17h30, na Igreja da Sé (Centro).
Com movimentos e fala limitados, Joãosinho Trinta, mesmo preso a uma cadeira de rodas, dava asas à imaginação. Foi assim com o projeto que celebrará os 400 anos de São Luís, com o enredo (do qual participou ativamente) São Luís – O Poema Encantado do Maranhão, que a escola de samba carioca Beija-Flor levará à Marques de Sapucaí.
Além disto, Trinta deixou um livro para ser publicado após sua morte e o instituto, que leva seu nome, fará um filme de ficção tendo como base a vida do carnavalesco. Mesmo com a morte de João Clemente Jorge Trinta, esses projetos terão prosseguimento. A homenagem aos 400 anos da cidade, feito a pedido do Governo do Estado, será, de acordo com a governadora Roseana Sarney, posto em prática.
Bastante entristecida, Roseana Sarney disse que a produção da festa do quarto centenário, a ser comemorado no ano que vem, será levada adiante. “Sinto a perda de Joãosinho, mas também muito orgulho por ele ser maranhense. O Brasil inteiro vai sentir falta dele”, destacou a governadora.
400 anos – Intitulado Cortejo e Celebração, o projeto assinado e criado por Joãosinho Trinta será coordenado por artistas maranhenses. Antes de morrer, o carnavalesco organizou uma equipe técnica capaz de colocar em prática a criação.
Segundo o amigo e assessor do artista, Biné Gomes, o artista também fez o projeto Réveillon Perfumado, que será desenvolvido no próximo ano, além de ter projetado um presépio de 150 metros, que concorreria a uma vaga no Guinners Book. “Joãosinho se eternizou. Ele transformou o Carnaval do Rio de Janeiro na melhor festa do mundo. Ele sempre tinha algo de diferente, sempre nos surpreendia com seus enredos. Era uma mente muito criativa”, disse Biné Gomes.
Após a morte do carnavalesco, a comissão que trabalhava com ele no projeto dos 400 anos está pensando em uma forma de homenageá-lo. “Ainda não sabemos como fazer isso, pois o projeto foi todo pensado, idealizado e criado por Joãosinho. Mas vamos, com certeza, lembrá-lo durante esse trabalho”, disse Biné Gomes, que ao lado de Enoc Silva, Sebastião Cardoso, Rivanio Campos, Beto Vasconcelos, Jeová França, e José Pereira Godão compõe a comissão organizadora.
Para o titular da Secretaria de Estado da Cultura, Luís Bulcão, a cultura maranhense perdeu uma das mentes artísticas mais arejadas no que diz respeito à criação. “Agora a gente vai cuidar para colocar em prática o que ele planejou em sua última invenção, que foi o projeto de 400 anos da cidade”, disse.
Para o assistente do carnavalesco, Arlen Marck, que morou com Joãosinho Trinta nos últimos 13 anos, será a continuidade do trabalho deixado pelo artista a maior forma de homenageá-lo. “Eu perdi meu pai. Ele realmente foi meu pai. Juntos vivemos histórias alegres e tristes. Espero que a memória dele seja sempre lembrada”, destacou.
O ministro do Turismo, Gastão Vieira, disse que vai cuidar para que a memória dos feitos de Joãosinho Trinta não seja perdida. “Ele carregava o que o maranhense tem de melhor, que é a intuição e a criatividade. Não podemos deixar essa memória se perder. Vamos analisar as formas de prestar homenagens eternas a Joãosinho Trinta”, afirmou.
Homenagem – O carnavalesco receberia da Escola de Samba Beija-Flor uma homenagem especial. O artista viria em um carro alegórico, encerrando o desfile da escola na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. A agremiação carioca pretendia, antes da morte do carnavalesco, levar para o desfile uma réplica da cidade antiga tendo Joãosinho Trinta a sua frente.
O puxador da escola, Neguinho da Beija-Flor, que veio a São Luís com uma comitiva da escola carioca formada pela ex-passita Pinah Ayoub, o mestre-sala e a porta-bandeira Claudinho Sousa e Selminha Sorriso, disse que a agremiação está pensando em outra forma de homenagear o maranhense.
“Agora estamos bolando outra maneira de homenageá-lo, já que ele não pode mais vir como figura viva. Pensaremos da melhor forma possível; agora mais do que nunca faremos uma homenagem especial para ele. Existe o Carnaval antes e depois do Joãosinho Trinta. Hoje temos a oportunidade de ter a maior festa do planeta, assistida por grandes personalidades internacionais. O gênio João é responsável por isso”, destacou o cantor.
A porta-bandeira Selminha Sorriso acredita que Joãosinho Trinta foi o carnavalesco de maior personalidade. “Tristeza não, saudade sim. Gratidão por tudo o que ele fez por nós, cariocas, sambistas, brasileiros, em especial à família Beija-Flor”, disse.

Vida do carnavalesco será contada em livro e filme


Dono de uma personalidade marcada pela polêmica, Joãosinho Trinta deixou pronto para ser publicado o livro Eu Sei, no qual revela bastidores do Carnaval. Os originais estão sob os cuidados do Instituto Joãosinho Trinta, que tem sede em Brasília e é presidido pelo secretário de Cultura daquela cidade, Ricardo Marques.
Além do livro, o carnavalesco será tema de um filme, que narrará, de forma ficcional, a vida e trajetória do maranhense. Tendo no papel principal o ator Mateus Nachtergaele, a produção, que teria as filmagens iniciadas este mês, acabou sendo adiada para abril.
Orçado em R$ 6,5 milhões, o filme será produzido pela Fox Filmes do Brasil e terá direção de Paulo Machlini, o mesmo que assina o documentário A Raça da síntese, também feito em homenagem a Trinta. Os produtores esperam lançar o filme no Carnaval de 2013.  

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