terça-feira, 6 de abril de 2010

A miscigenação de Rita Ribeiro


Carla Melo
Do Alternativo

A Rita veio. Veio como sabe fazer. Trouxe a voz inconfundível de quem já percorreu 20 anos de carreira, marcou presença em muitos shows e gravou quatro discos. Veio com sua miscigenação maranhense que transcende os traços físicos e que invade, de chofre, a fala, a cultura e, claro, a música. Foi assim com “Tecnomacumba”, o show. E é assim agora, com o mesmo “Tecnomacumba – a tempo e ao vivo” imortalizado em DVD.

Rita Ribeiro fundiu, ainda em 2006 nesse trabalho, as batidas eletrônicas à cultura ameríndia e aos cantos de religiões afros, testadas anteriormente em um show que já foi visto por cerca de 300 mil pessoas de todo o Brasil. Nascia, assim, o projeto “Tecnomacumba”. Em vista a São Luís para divulgar o DVD, a cantora relembra sua vivência com a sonoridade africana, que a influenciou diretamente na criação do projeto. “Tudo aconteceu quando recolhi o ‘Ponto da cabocla Jurema’, misturei com tambor da mata e de crioula. Depois acabei cunhando o termo tecnomacumba, que é a fusão da eletro music com o som dos terreiros”, relembra Rita Ribeiro.
Talvez a fusão sonora não seja a grande novidade do projeto, na estrada há sete anos (portanto, anterior ao lançamento do CD) afinal, quem não se lembra das incursões feitas por nomes como Clara Nunes, Clementina de Jesus, Vinícius de Moraes, entre outros, por este viés? Mas, se o conteúdo não é inédito, a forma, com certeza, é. A maranhense canta e encanta na apresentação audiovisual e, com certeza, não poderia ter escolhido melhor espetáculo para gravar seu primeiro registro em imagem e som.
Para Rita, o que o “Tecnomacumba” traz de diferente é a renovação. “Este trabalho dá frescor a algo que não pode se perder, que é nossa própria cultura. O ‘tecno...’ ajuda a dialogar com novas gerações unindo a nossa cultura de raiz africana, com o ‘tecno’ e a música popular brasileira”, define.

Parceria - O DVD “Tecnomacumba – a tempo e ao vivo” é resultado de uma parceria entre a Manaxica Produções Artísticas (empresa de Rita Ribeiro), Canal Brasil e Petrobras. A distribuição é da gravadora Biscoito Fino, selo de Maria Bethânia. A baiana, aliás, faz uma participação especial no DVD e divide os vocais com a maranhense na emocionante “Iansã”, de autoria de Caetano Veloso.

O cantor e compositor também marca presença no CD. Não nos vocais, mas em texto impresso no encarte do álbum que acompanha o DVD. “Faz algum tempo que venho ouvindo com curiosidade e agrado uma voz de mulher que impressiona pela firmeza, pela limpeza do som, pela naturalidade da afinação. É uma voz que ouvi primeiro casualmente no rádio do carro e que sempre me fez parar para atentar e me perguntar: quem é essa cantora que tem a emissão lisa (sem vibratos) mais impressionante que ouvi em muito tempo? De quem é essa voz encorpada e delicada, de quem são esses glissandos seguros e de grande efeito experimental sem sombra de vulgaridade? Aprendi o nome Rita Ribeiro ao encontrar as respostas a essas perguntas”, escreveu Caetano.
Além do autor dos versos “Sem lenço e sem documento/ Nada nos bolsos ou nas mãos” (Alegria, alegria), nomes como o da conterrânea Alcione, Maria Bethânia e Ney Matogrosso emitem opiniões sobre o trabalho de Rita Ribeiro nos extras do DVD. O making-off traz ainda uma lista de artistas que, a convite de Rita Ribeiro, participaram dos shows. Beth Carvalho, Sandra de Sá, Margareth Menezes, entre outros, integram a lista.

A tempo - Sobre a demora em fazer o registro, Rita Ribeiro explica que não é de fazer algo apenas porque está na moda ou porque o mercado recomenda. “Eu só faço aquilo que eu quero e em que acredito. Até então, não achava significativo para minha carreira lançar um DVD. Não queria lançar um DVD só por lançar. Queria que ele correspondesse a uma vontade minha de me expor de outra maneira que não apenas pela voz e à vontade de meu público de ter um registro audiovisual maior que o videoclipe. Essas vontades enfim chegaram”, detalha.
Para ela, a junção entre música e cantos africanos deve passar longe da vertente religiosa. “Tratamos de cultura, de musicalidade e não de religião. Gostaria muito que as pessoas vissem o projeto desta forma”, sentencia.

Esteticamente irreparável, “Tecnomacumba” – o show que deu origem ao DVD - ainda não tem data para ser apresentado em São Luís. Rita Ribeiro o apresentou na capital uma única vez, em 2006. “Agora queria trazê-lo em toda sua estrutura. Queria falar sobre o projeto, fazer as pessoas entenderem”, observa.

Mas, enquanto isto não acontece, vale ouvir atentamente os sons provenientes dos terreiros de candomblé e umbanda com os “beats” eletrônicos, ganhando força com a presença marcante da Música Popular Brasileira. E esse tripé, tão bem “arquitetado” por Rita Ribeiro, talvez seja o responsável pela grande aceitação deste trabalho que, há julgar pela agenda de shows da cantora, tem ainda uma longa carreira pela frente. “Acho que agora o caminho do ‘Tecnomacumba’ é sair do país, ser divulgado lá fora”, finaliza.

Mais

No segundo semestre deste ano, Rita Ribeiro deverá entrar em estúdio para gravar o álbum “(Sub) Urbano Coração”, um disco de canções que terá, além de composições inéditas da cantora, outras, compostas com parceiros, como Zeca Baleiro.

Ouça Rita Ribeiro
Impossível acreditar que perdi você

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