Carla Melo
Da equipe de O Estado
À primeira vista, a imponente construção chama a atenção pela beleza arquitetônica e pelas dimensões. Encravado no coração do bairro Desterro, ladeado por ruas estreitas e com uma vista que contempla a beleza do rio Bacanga, o Convento das Mercês é, por si só, um pedaço valioso da história do Maranhão.
Tema de muitos estudos, o prédio do Convento das Mercês foi transferido pelo Governo do Estado, por meio das Leis 5.007/90 e 5.765/93, à Fundação José Sarney. A entidade é responsável por manter a construção que abriga um rico acervo que reúne, apenas no arquivo textual, mais de um milhão de documentos. Isto sem mencionar a biblioteca, com cerca de 50 mil exemplares de livros, folhetos, periódicos e obras raras, algumas que datam dos séculos XVIII. No local, também é possível conhecer um pouco mais da história democrática do Brasil.
No entanto, caso a Fundação feche suas portas, o prédio pode ser devolvido ao Governo do Estado. “De acordo com a lei, caso a Fundação seja extinta, o prédio retornaria ao patrimônio do Estado”, explica o presidente da entidade, o escritor Joaquim Itapary.
Palco onde foram montadas várias exposições de arte, lançamentos de livros, shows de artistas locais e nacionais, além de seminários e congressos de todas as áreas, o Convento das Mercês fervilha cultura por todos os lados.
Artes - Um bom exemplo disso foi o fato de o local ter sido escolhido para abrigar uma das exposições mais importantes da história do Brasil, a “Mostra do Redescobrimento”. A exposição - que contou por meio de peças e obras raras a trajetória do país, desde a chegada dos portugueses em terras tupiniquins – foi montada entre dezembro de 2000 e março de 2001.
A “Mostra do Redescobrimento” aglutinou os amantes das artes não apenas do Maranhão, mas dos estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil, já que São Luís foi a única cidade do Norte/Nordeste a receber a exposição. O enorme painel, que mesclou arte e história, mostrou, ainda, o potencial de artistas locais, que puderam expor seus trabalhos num evento paralelo, batizado de “Brasil: 500 Vivas e Muito Mais”.
Também no Convento das Mercês foram montadas diversas versões da Coletiva de Maio. Inaugurada em 1991, a exposição coletiva reuniu artistas locais e das regiões Norte/Nordeste, que dispunham de um espaço para expor seus trabalhos e fazer suas manifestações. Foi assim até 1996, quando aconteceu a última edição do evento.
Responsável por revelar alguns talentos, a Coletiva de Maio era vista pela classe artística como uma oportunidade de “crescer e aparecer”. Pelos corredores do convento, era possível observar novos experimentos e também aprender mais sobre arte, nos cursos que aconteciam durante a exposição.
O Convento das Mercês também foi palco de diversas edições do Congresso de Música do Maranhão. Seminários técnicos também aconteceram no auditório, que sediou, por exemplo, discussões sobre diversos temas e encontros de profissionais de várias categorias.
São João - Esperado por turistas e moradores, o Maranhão Vale Festejar, espécie de São João fora de época, tem movimentado a cidade nos últimos anos. A festa acontece sempre no mês de julho e reúne milhares de pessoas.
Por lá, costumam passar diversos grupos folclóricos como os bumbas Maracanã, Maioba, Madre Deus, Boi da Floresta, Santa Fé, Fé em Deus, Morros e Axixá, entre outros. Não ficam de fora também grupos de cacuriá, tambor de crioula, dança do coco e outros representantes da cultura popular maranhense.
Montado para ser um arraial e ampliar o período junino até as férias de julho, o evento reúne visitantes de várias partes do país e mundo. Todos têm acesso a barracas de comidas típicas, artesanato e bebidas próprias do Maranhão, numa grande celebração às tradições nativas.
Palco de acontecimentos históricos maranhenses
O Convento das Mercês foi construído no século XVII e sediou o Convento da Ordem dos Mercedários. Além do espaço, que nasceu sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção, existia a Igreja das Mercês. No início, ocupava uma área de 2.060m². Nos anos de 1729 e 1740, foram adquiridas terras vizinhas ao local.
Tendo como destino ser palco de acontecimentos históricos, o Convento das Mercês foi inaugurado em 1654, ocasião na qual o Padre Antonio Vieira proferiu um de seus maiores sermões, o de São Pedro Nolasco.
O sustento do convento era proveniente de fazendas, olarias e salinas de propriedade da ordem. Depois de um século de esplendor, o convento passou por momentos difíceis. Um deles foi o dia 3 de maio de 1800, quando o então governador Dom Diogo Martins Afonso de Sousa Teles de Menezes, confiscou o prédio e seus bens para o Estado.
Naquele mesmo ano, o Frei José de Abreu, por meio do decreto assinado por Dom João, restituiu o Convento à Ordem dos Mercedários. Nesses mais de 300 anos de história, o prédio abrigou ainda Quartel de Polícia, Corpo de Bombeiros, hospital e uma escola.
Sob os ares da República, mais especificamente no ano de 1905, o espaço, bem como todo o quarteirão compreendido entre as ruas Jacinto Maia, Beco da Lapa, Cândido Mendes e Palma, foi vendido ao Estado pela quantia de quarenta mil réis.
Lá funcionou, durante oito décadas, o Quartel de Polícia e do Corpo de Bombeiros. Nesta época, o prédio sofreu intervenções que o descaracterizaram, sendo que a pior delas foi a derrubada da igreja.
A revitalização do Convento das Mercês teve início na década de 1980, com a finalidade de brigar a Fundação José Sarney. A área do Convento das Mercês integra a área de tombamento da Unesco e tem mais de cinco mil metros quadrados de área construída e outros sete mil de área livre. É um dos principais pontos turísticos do Centro Histórico de São Luís.
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