Com a aprovação da Lei, o Dia do Bumba Meu Boi passa a ser comemorado no dia 30 de junho.
Agência Brasil
BRASÍLIA - Passa a vigorar a partir de hoje (2) a lei que institui o Dia Nacional do Bumba Meu Boi, a ser comemorado em 30 de junho. A publicação saiu no Diário Oficial da União.
O folguedo sintetiza a história do brasileiro na época do Ciclo de Gado no século XVIII. A festa enfoca as relações sociais entre escravos, índios e senhores da casa grande. A lei foi proposta pelo deputado maranhense Carlos Brandão (PSDB/MA) e teve como relator o deputado Pinto Itamaraty (PSDB/MA).
O Bumba Meu Boi é representado de acordo com as peculiaridades de cada lugar, mas sem desrespeitar a lenda que o originou, que consiste na ressuscitação de um boi que não deveria ter morrido. No Maranhão, a festa é promovida no meio do ano, durante as homenagens a São João e a São Pedro.
A festa do Bumba-meu-boi, uma tradição que se mantém desde o século XVIII, arrasta maranhenses e visitantes por todos os cantos de São Luís, nos meses de junho e julho. Longe de ser uma festa criada para turistas, os bois se espalham nas perifeiras e no centro. Na parte nova ou antiga da cidade grupos de todo o Estado se reúnem em diversos arraiais para brincar até a madrugada.
O enredo da festa do Bumba-meu-boi resgata uma história típica das relações sociais e econômicas da região durante o período colonial, marcadas pela monocultura, criação extensiva de gado e escravidão. Numa fazenda de gado, Pai Francisco mata um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Mãe Catirina, que quer comer língua. Quando descobre o sumiço do animal, o senhor fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta.
Pajés e curandeiros são convocados para salvar o escravo e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre. Brincadeira democrática que incorpora quem passa pelo caminho, o Bumba-meu-boi já foi alvo de perseguições da polícia e das elites por ser uma festa mantida pela população negra da cidade, chegando a ser proibida entre 1861 e 1868.
O atual modelo de apresentação dos bois não narra mais toda a história do 'auto', que deu lugar à chamada 'meia-lua', de enredos simplificados. Atualmente, existem quase cem grupos de bumba-meu-boi na cidade de São Luís subdivididos em diversos sotaques. Cada sotaque tem características próprias que se manifestam nas roupas, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música e nas coreografias.
Conheça todos os Sotaques do bumba meu boi do Maranhão
SOTAQUE DE ORQUESTRA
Sotaque de Orquestra - ao incorporar outras influências musicais, o Bumba-meu-boi ganha neste sotaque o acompanhamento de diversos instrumentos de sopro e cordas, como o saxofone, clarinete e banjo. Peitilhos (coletes) e saiotes de veludo com miçangas e canutilhos são alguns dos detalhes nas roupas do brincantes.
SOTAQUE DE ZABUMBA
Suas raízes são, originariamente, africanas. O nome advém do seu instrumento base a zabumba - tambor de meio metro de altura, conduzido numa vara por dois carregadores e tocado por uma bagueta.
O Boi de Zabumba tem as suas origens nos municípios da Baixada Maranhense, mais precisamente, no município de Guimarães.
SOTAQUE DE MATRACA
Sotaque de Matraca ou da Ilha, os elementos lembram os rituais indígenas.
Entre seus instrumentos de percussão tem destaque a matraca tabuinhas que medem em torno de 25cm de comprimento por 10cm de largura e 2 de espessura. Além da matraca, há também os maracás, tambor-onça e os pandeirões. Os maracás feitos de flandres com cabo, contendo grãos de chumbo ou algo similar, que produzem som quando sacudidos. O tambor-onça, da mesma família instrumental da cuíca, possui uma vareta do lado, que produz som semelhante ao rugido de onça. Os pandeirões, cobertos de couro de boi ou de cabra, são esquentados em fogueiras, para melhorar o som.
SOTAQUE COSTA DE MÃO
Sotaque Costa de mão - típico da região de Cururupu, ganhou este nome devido a uns pequenos pandeiros tocados com as costas da mão. Caixas e maracás completam o conjunto percussivo. Além de roupa em veludo bordado, os brincates usam chapéus em forma de cogumelo, com fitas coloridas e grinaldas de flores.
SOTAQUE DA BAIXADA
Sotaque da Baixada - embalado por matracas e pandeiros pequenos, um dos destaques deste sotaque é o personagem Cazumbá, uma mistura de homem e bicho que, vestido com uma bata comprida, máscara de madeira e de chocalho na mão, diverte os brincantes e o público. Outros usam um chapeú de vaqueiro com penas de ema.
Ao espalhar-se pelo país, o bumba-meu-boi adquire nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes. Dessa forma, enquanto no Maranhão, Rio Grande do Norte e Alagoas é chamado bumba-meu-boi, no Pará e Amazonas é Boi-Bumbá ou Pavulagem; em Pernambuco é Boi Calemba ou Bumbá; no Ceará é Boi de Reis, Boi Surubim e Boi Zumbi; na Bahia é Boi Janeiro, Boi Estrela do Mar, Dromedário e Mulinha-de-Ouro; no Paraná, em Santa Catarina, é Boi de Mourão ou Boi de Mamão; em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Cabo Frio é Bumba ou Folguedo do Boi; no Espírito Santo é Boi-de-Reis; no Rio Grande do Sul é Bumba, Boizinho, ou Boi Mamão; em São Paulo é Boi de Jacá e Dança do Boi.
No Maranhão (que recebeu logo ao início do séc. XVI a colonização de lusitanos das Ilhas dos Açores), a festa do boi atingiu um grau de riqueza cênica impressionante e está presente no ciclo junino, onde se fixou principalmente entre os festejos que homenageiam São João e São Pedro, podendo prolongar-se até agosto.
Ao findar os festejos natalinos, os grupos de bumba-boi iniciam as reuniões, que vão até 31 de abril, quando preparam os enredos e elaboram novas músicas e coreografias.. A partir de maio, começam os ensaios com cada personagem elaborando a sua performance em conjunto ou separadamente. Tudo isso é feito até 15 de junho. Contudo, o chamado ensaio-redondo, como se fosse a apresentação definitiva, pode ocorrer até o dia 23 do mesmo mês. As vésperas de São João, ocorre o batizado do boi, em cerimônia na igreja, com a participação de padrinhos ou madrinhas Boi, o que bem demonstra o alto grau de sincretismo entre o profano e o religioso e a importância sócio-cultural desse evento para o povo do Maranhão. É quando também, todos irão se deslumbrar com o novo couro do boi, verdadeira obra de arte composta de vidrilhos, miçangas e desenhos inspirados no enredo escolhido para o ano.
Para o maranhense, o bumba-meu-boi representa a tríplice miscigenação de seu povo, pelo entrelaçamento das culturas branca, negra e indígena, verificada nos personagens presentes no auto, no qual se destacam o dono da fazenda, Pai Francisco, Catirina, vaqueiros ou caboclos de fitas, caboclo real ou de pena, índios, doutor ou pajé, padre, Dona Maria (esposa do amo), os cazumbás (mascarados, espécie de palhaços) e o miolo, responsável por guiar o boi. As variações dos personagens ocorrem também por causa dos diferentes ritmos existentes no Maranhão. O que distingue esses sotaques, como são chamadas as músicas tocadas nos bois maranhenses, são os instrumentos musicais em destaque e a cadência do ritmo dada a cada tipo.
O boi-de-matraca apresenta entre seus instrumentos de percussão as matracas, dois pedaços de madeira de som rústico que, batidos freneticamente, produzem um barulho vibrante, juntamente com enormes pandeiros, tambores-onça e maracás.
Outro estilo encontrado são os bois-de-zabumba, com tambores que possuem mais ou menos meio metro de altura, feitos de compensado, amparados por uma forquilha, que juntamente com pandeiros e maracás, produzem um som característico e contagiante.
Já os bois de orquestra são os mais recentes e diferem completamente dos anteriores, utilizando um conjunto de instrumentos de sopro (saxofones, flautas, clarinetes) e de percussão (bombo, tambor e maracás). Atualmente o boi de Pindaré tem marcado um estilo como uma variante do boi-de-matraca, pelo seu ritmo mais lento, com pandeiros menores e diferentes trajes, ressaltando-se os imensos chapéus cujas abas da frente são dobradas ao estilo dos cangaceiros.
POSSÍVEIS ORIGENS
Renato D'Almeida, nos seus vários ensaios sobre Bumba-meu-Boi, afirmava ser esta uma diversão caracteristicamente brasílica com os três sentidos que informa o Brasileiro, refere-se, todavia, as reminiscências européias, seja o Boeuf-gras francês (restabelecido por Bonaparte), que no século XVII, percorria as ruas de Paris, coroado de flores num cortejo movimentado que parava às portas mais importantes para homenagear os donos da casa, seja o "Monólogo do Vaqueiro", do Mestre Gil, que a 8 de junho de 1502, foi representado nos paços do Castelo de D. Maria, para festejar o nascimento do príncipe D. João; seja as "Tourinhas Minhotas", ou ainda os "Touros de Canastra" portugueses, para acentuar que "seria muito difícil estabelecer definitivamente a verdadeira origem desta festa popular". "Pode ser que entrasse ali, esclarece, o elemento português, com uma ligeira reminiscência dos velhos autos e das velhas chácaras, em que a figura do vaqueiro foi muitas vezes explorada e o elemento africano, com seus decantes bárbaros, a que não falta, entretanto, uma admirável intuição musical."
Estas reminiscências são por certo fatos evidentes. Principalmente em certos Bumbas-meu-Boi de algumas regiões do Brasil.
"Também de Portugal nos veio à origem primitiva da dança-dramática mais nacional, o Bumba-meu-boi" afirma Mário Andrade na sua "Pequena História da Música" e acentua: "as fadigas do pastoreio se transformam em arte, celebrando ritualmente a morte e a ressurreição do boi".
O célebre etnógrafo brasileiro Artur Ramos via na morte e divisão do boi pelos presentes de circunstância uma incontestável afirmação totêmica: "Um repasto totêmico que todos participam":
"Um pé com uma mão
é para seu capitão.
A tripa fininha
É para minha rainha.
O quarto dianteiro
É para o seu Monteiro."
E assim sucessivamente, parte por parte, do boi sacrificado. Insiste ainda em que é no "Bumba-meu-Boi", que os complexos totêmicos se mostram com mais evidência.
Saiba Mais
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendaboibumba1.htm
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